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Mostrando postagens de 2014

A lista

A exigência de uma listagem com os dez melhores romances variaria conforme a lembrança das inúmeras leituras realizadas e o prazer obtido em cada uma delas. Embora já tenha realizado para um amigo a tarefa de elencar os autores, irei me esforçar, aqui, para ter uma lista definitiva: Autores nacionais e estrangeiros: 1 – Ratos e Homens, de John Steinbeck; 2 – Mandarim, de Eça de Queirós; 3 – A lenda do santo Beberrão, de Joseph Roth; 4 – Olho sem Vontade, de Marcílio Teixeira Marinho; 5 – Contramão, de Antônio Olavo Pereira; 6 – Casa Velha, de Machado de Assis; 7 – Uma Morte Bem Doce, de Simone de Beauvoir; 8 - A morte de Ivan Ilicht, de Leon Tolstói; 9 – A Chuva Imóvel, de Campos de Carvalho; 10 – Clara dos Anjos, de Lima Barreto. Em minha listagem definitiva constam apenas autores mortos. E todos os livros possuem, no máximo, cem páginas cada um.  

Dois Poemas de Mariel Reis (inéditos)

Mil Orações. Mil orações sob a língua Sobem à montanha, Em rebanho de nuvens. Lá não encontram ídolos, Ou ouvidos,para abrigá-las; E descem, novamente, aos homens Como chuva para irrigação Do solo de suas crenças. Ela, o rio. Macerei pétalas às pedras. No rio,consegui o perfume; E desprendida das águas A voz subiu-me aos ouvidos; A tua presença era completa. E,no instante seguinte,apagava-se Na renda de espumas. Uma outra vez o rio a levava.

NULIFICADOR

Não ser citado em entrevistas. Não ser lembrado para antologias. Não ser entrevistado. Não estar em uma grande editora. Não estar em editora alguma – até o momento. Não ser o centro de nenhuma discussão. Não ter sido premiado: ou por uma obra isolada ou por seu conjunto. Não ser colunista de jornal. Não ser um fabricante de opiniões televisivo. Não ser um sex expert. Não ser agenciado. Não ter livros traduzidos. Não ter participado de festivais literários. Não ser consultor de inúmeras ideias alheias à literatura. É o que me resta. Embora tenha escrito dois excelentes livros inéditos: Bordel de Bolso e Boa Noite, Burroughs. Embora seja editor de uma revista promissora, juntamente com amigos. Embora seja parecerista literário de uma agência expressiva. Embora seja solicitado por determinado grupo que vê valor em minhas opiniões. Embora, em meu anonimato, seja ele voluntário ou não, tenha voltado a me pertencer e não participar de um jogo com o qual não concordo. Embora ninguém tenha p

Cartas Fracassadas II

Caro Aguinaldo Silva, Insisto com você, não é mesmo? Que diabos, você deve pensar, porque me perturba tanto, o que fiz a Deus para merecer isso? Eu não o culpo, absolutamente, não o culpo, também não o culpo por ter sido um ficcionista de primeira linha, tradutor e editor de igual competência. Entretanto, eu também não me culpo. Não me culpo por ter lido Redenção para Job, nem a introdução que o posiciona como uma virtuose da literatura, não me culpo por ter encontrado o livro sendo vendido em Ipanema, na banca do Barba, como é conhecido o livreiro daquelas bandas, um sujeito tão inusitado que poderia ser criação sua se não pertencesse a si mesmo, ou , antes, a Otto Lara Resende e Fernando Sabino que tinham especial carinho por esse livreiro que se entorna em uma das esquinas da Rua Canning. Você não tem culpa nenhuma, Aguinaldo, de ter se tornado um teledramaturgo de sucesso, crescendo aos olhos desse menino que acompanhava suas novelas, entusiasmando-se com Senhora do Destino,

Cartas Fracassadas

Caro Luciano Huck, A carta vai algo comovida. O serviço realizado pelo quadro “Lar Doce Lar” é, sem dúvida, um dos momentos mais impressionantes da televisão brasileira, pela atenção, o tratamento e a realização da recuperação das casas dos telespectadores envolvidos, porque muitas das vezes suas histórias estão ligadas indissoluvelmente ao espaço físico onde habitam e recuperá-lo é, de certa forma, resgatar parte de uma história de felicidade – isto que pouco está presente na realidade brasileira, cercada por escândalos, falcatruas e maracutaias. Feito o preâmbulo, Luciano, estou enviando as fotos da casa de minha mãe, moradora do bairro da Pavuna, que desejo inscrever para concorrer a reforma e à disposição de nova mobília. Ela, minha mãe, mora com dez pessoas na casa, ainda com telhas de amianto, com goteiras, em um estado dá causar pena. Meus irmãos não conseguem trabalho formal, vivem de biscates, mas não caíram na marginalidade. O que é uma sorte. Sou o mais velho

Coxo à Eternidade?

Meu avô tinha uma filosofia curiosa: o homem nascia sem alma. E a conquistava paulatinamente através da depuração de seus pensamentos e ações. Portanto, o homem esvaziado preenchia a si mesmo com a elevação de seus atos, mirando um horizonte além de sua própria consciência, visando – ao morrer – ter completado o trabalho de restaurar-se para apresentar-se ao Criador - por inteiro, sem que nada lhe falte. A percepção de meu avô me marcou porque a humanização não era um processo desligado dos outros, ensimesmado, sem outra finalidade que não o próprio homem. Em seu método, ela deveria existir para o Outro e resultava da Travessia. Dela se desprenderia para integrar a alma que se formava. A concepção inusitada não encontrava respaldo filosófico em nenhuma corrente conhecida. Parecia saída, originariamente, das entranhas de meu avô materno. Aliás, uma outra vez aqui se revela uma característica do pensamento por ele elaborado: o homem pensava por inteiro. O pensamento não era u

Superestimação infinita

Infinite Jest, de David Foster Wallace, traduzido em Portugal como A Piada Infinita (Quetzal), é um catatau. O burburinho em torno do escritor obrigou-me – leitor compulsivo – a comprá-lo no mercado europeu para leitura. No Brasil, a tradução ficou a cargo de Caetano Galindo - tradutor de Ulisses, de James Joyce -, publicado pela editora Companhia das Letras por onde também sairá o livro de Wallace. Embora as incorreções da tradução portuguesa, o livro pode ser lido com tropeços. A inteligência nacional, principalmente a jovem, incensava a genialidade do escritor corroborada por inúmeros outros intelectuais que conviveram com o Wallace. O gesto do suicídio parece ter acentuado o traço sobre sua vanguarda,porque enforcar-se ou atirar-se de uma janela ou inalar gás ou qualquer coisa do gênero parece garantir ao autor um lugar no panteão da literatura moderna – mesmo aos mais modestos. David Foster Wallace não é modesto. A pretensão e a vaidade o acompanham através do calhamaço de mil e

# 3 A Ciclista / ramal Central – Santa Cruz

A bicicleta aproximou-se do cruzamento. A garupa ocupada por apetrecho de segurança para criança, embora nele nenhuma fosse transportada. A mulher, com aparência de quarentona, tinha o corpo em forma. Uma blusa amarela leve e um short de lycra cinza mostravam os cuidados dispensados à manutenção física da ciclista. O sinal fechado obrigava a parada. Talvez não tivesse a disposição dos dias anteriores em que célere atravessaria a fileira de automóveis parados no trânsito congestionado da avenida. Tirou os pés dos pedais, estendendo as pernas para auxiliar o descanso durante o instante do sinal. Ela parecia alheia quando movimentou os quadris , friccionando-se no selim como ajeitando-se na montaria. Entretanto, parecia ter perdido a comunicação que lhe parecera satisfatória, repetindo inúmeras vezes – no breve período – a operação sem constrangimento. Os cabelos, embora não longos, encobriam parte do rosto da ciclista. Talvez estivesse divertida pelo escândalo; talvez não passas

# 2 A Aluna / ramal Central- Santa Cruz (série retratos do trem)

Uma aluna, a das pernas, acostumada a vir desprotegida, fez a alegria dos marmanjos: abriu-se, acintosamente, em ipsilon; o batom vermelho e a mecha de cabelo caída sobre os óculos, sem chance de defesa do espectador hipnotizado pelas sutis paisagens esboçadas pela puberdade. Levantei-me e caminhei para longe de seu pouso antes que ela me convidasse para um deslize ótico. 11/10/2014

#1 Mocinha do ramal Central – Santa Cruz (série retratos do trem)

Os incômodos corporais, um artificio. O vestidinho vermelho e curto com pequenos corações estampados mostram uma predisposição amorosa. Um casaquinho negro sobre os ombros, óculos escuros para disfarce dos olhos... Distraída, movimenta-se. Desnuda as coxas e todo o interior da roupa. Desvio os olhos. Ela não aceita ser retirada do centro das atenções. Estica as pernas, brinca com os pés. E o vestido, antes comportado, sobe uns centímetros aflitivos. Simula tremor, a mocinha apreensiva: responsável por um destino qualquer ignorado. Ritmicamente um dos pés transmite ao piso uma mensagem indecifrável. Escreve com dedos magros e nervosos alguma boa nova. Levita, nesse momento, o quadril – sentada em brasas? O coque no alto da cabeça – cabelos negros e lisos -, uma altivez repleta de cinismo. Parece dizer: “Não, não quis seduzi-lo, nem abri minhas pernas. Sou discreta demais. Elegante”. Ninguém duvida. Ou quase. Somente o mocinho sentado à sua frente. 13/10/2014 escrito no

O que vi e falei nas eleições durante o segundo turno

Batuco rápido a notícia. A rapaziada chia ao ser retratada. Cavaquinho, pandeiro e tantã. Tiaguinho. Tá vendo aquela lua que bilha lá no céu. O alvoroço das mulheres no refrão. A cerveja espumante para os outros. Para mim, água sem gás. Minha mulher arrisca uns passos. Salgadinhos. A música estanca. O pandeira vira prato. Chovem moedas. Reparo: um adesivo. Malandro vota em malandro. A mocinha conosco, à mesa, vira-se e grita: Dilma! O pagodeiro contrariado: “A gente vota em malandro, moça. Não em marginal. Eu sou Aécio. Boquiaberto, engoli logo a comida. E corri para o cinema. A sessão não seria mais fantástica do que o que foi visto. Buxixo, Tijuca, quinta-feira Em Ramos, Zona da Leopoldina, em uma das estações do BRT, estava escrito em vermelho e, letras garrafais: NOVA ORDEM CULTURAL. Em minhas discussões, denuncio a estratégia da imprensa que através de depoimentos julgados isentos de determinados comentaristas quer alterar a situação estrutural do país.

Em uma conversa sobre Marina Silva

"Marina [Silva] não agrediu. Em um vale tudo, as eleições,  ela inventou regras de comportamento, foi ética. Embora forte. O eleitorado  quer um César, sempre. Mesmo que depois ele seja brutalmente traído".

Segundo Turno 2014

Marina Silva, candidata do PSB à presidência, parecia uma solução dentro da política praticada no país. O malogro da campanha representado nas pesquisas após o último debate realizado na rede Globo parece ter influenciado o eleitorado, negativamente. Os motivos para a queda de desempenho de Marina Silva são muitos, contudo, apesar da insistência na fragilidade da candidata, o que me pareceu comprometê-la foi o compromisso com um campanha ética, propositiva e pacifica. Embora muitos setores tenham apontado inconsistências no programa de governo proposto pela candidata, havia, mesmo com contradições, uma plataforma para o país. Dilma e Aécio Neves, apresentaram as linhas gerais do que pretendiam para o país, respectivamente, quarenta e duas páginas em forma de discurso a candidata à reeleição pelo PT e quase oitenta páginas do candidato do PSDB. Enquanto que o programa de Marina Silva tinha, por volta, de duzentos e trinta páginas. Todos os programas foram registrados no TSE, portant

Novo Jornalismo

A modalidade jornalismo literário é minha obsessão. Talvez se o tivesse conhecido antes me tornasse um jornalista, embora não seja encorajada sua prática nas redações dos principais jornais do país, algumas revistas constituem o graal perseguido por muitos dos admiradores do gênero. A revista Realidade , por exemplo, espantosa, é um referencial, mesmo extinta. Joel Silveira, um amigo, praticante do new jornalism, antes mesmo que os americanos o inventassem, possuía uma habilidade incomum com o texto. Aliava a objetividade da apuração jornalística à inventividade literária, sem esquecer a ironia corrosiva. Os nacionalistas creem que o inventor do gênero foi um brasileiro: Euclides da Cunha. A cobertura jornalística da Campanha de Canudos culminará com a escrita d' Os Sertões, um livro reportagem que excede em muito a própria definição devido ao gênio de seu autor. Hiroshima, de John Hersey e A Luta, de Norman Mailer representam meus clássicos estrangeiros sobre o gênero. No Bra

Castelinho

Embora não poupe elogios a Joel Silveira e toda sua obra jornalistica, minhas crônicas políticas foram escritas sob impulso da leitura dos textos de Castelinho. Carlos Castello Branco, piauiense, foi membro da Academia Brasileira de Letras, tornou-se referência, no Brasil, com sua obra voltada para análise política. Meu livro Cidade Tomada é dedicado a Castelinho, embora não traga seu nome no frontispício. A renúncia de Jânio, um depoimento é uma das obras de Castelinho que costumo reler com atenção. Além desse, Continhos brasileiros e outros contos. Um sítio muito completo para se conhecer o trabalho de Castelinho – aliás foi nele que li a maior parte das crônicas – é esse: http://www.carloscastellobranco.com.br/index.php . Hoje, Castelinho não é muito conhecido, mas a visita ao sítio promete restaurá-lo, um comentarista do poder e suas idiossincrasias. É a minha confissão – invejá-lo permanentemente. A limpeza do texto, o raciocínio repleto de clareza e a agudeza das observações

Momento Literário

Se interrogado por João do Rio, restringiria minhas respostas ao mínimo. Não negaria contribuição ao livro Momento Literário, porque representa importante panorama de uma literatura brasileira. Lá, sem dúvida, presenciam-se acertos. Inglês de Sousa é um deles. Talvez com o livro errado – O Missionário -, e não com Contos Amazônicos. Coelho Neto, Olavo Bilac e Rocha Pombo integram a constelação de escritores integrados ao projeto de mapeamento do autor de Religiões do Rio. Machado de Assis e Aluísio de Azevedo não responderam ao jornalista acerca de suas preferências e demais informações a respeito de sua formação literária. Uns fiapos, soltou Machado, em conversa em trajeto no centro do Rio. Negou-se a continuar quando se viu atraiçoado pelas próprias palavras, entrando no jogo de João do Rio e sua enquete. Aluísio de Azevedo silenciou, completamente. Daqui, desse século, o XXI, atravessado com custo, limitaria minha resposta a alguns autores em desuso. Já, em algum lugar, confessei-

Boi no Pasto

Meu único comentarista desistiu da interlocução.  O anonimato  parece que o protegia, permitindo um à vontade maior para suas blagues. Talvez não tenha outro, além dele, para um debate positivo acerca das convicções cada vez  mais acuadas pela realidade e pela estupidez humana. Aliás,  a realidade e a estupidez humana não são sinônimos? Não é o homem que constrói objetivamente o que é realidade   para a maioria de nós? Cada vez crescem mais os números de visitantes como também as perguntas sobre origem, interesse, classe social e orientação sexual dos leitores. Em exercício de imaginação, estático,  observo os números e tento traduzi-los em rostos de diferentes cores, diferentes sexos e idiomas diferentes. Quando acesa a região norte-americana - fato constante -, penso Kansas, Michigan, Ohio ou Washington?  Quando o Alasca não me furto de imaginar um esquimó, num iglu, ou alguém em uma cabana numa floresta  congelada.  A Alemanha quando surge no visor viajo a Berlim, Leipzig ( estará

Advertência

Os comentários foram desbloqueados com intuito da descoberta dos leitores internacionais. Resultou inútil. Surgiram comentários anônimos, três para ser exato, que se não são ofensivos, não revelam a origem do comentarista. Parecem que foram postados por mim. Excetuando-se a ironia da última comparação, Peter Kien. Ou até mesmo ela, porque reforça um caráter de autocomicidade ou coisa pior. Valeu, Peter Kien, último comentário sem identificação de usuário, em uma postagem em que assumo minha fragilidade intelectual, corrigida a custo, pareceu-me desrespeitosa. E o comentarista, além de erudição, tinha informação sobre um judeu – desconhecido por mim – com bastantes traços em comum, porque em minha juventude desenhei com desenvoltura e talento. Não o pratico mais, mas em meu bairro natal, Pavuna, muitos testemunhos podem ser colhidos a esse respeito para a confirmação de minhas palavras. A ideia de liberação dos comentários foi da interação amistosa entre o escritor e o público, sem s

Minha Educação

À minha educação deficitária juntei esforços para corrigi-la o melhor que pude. Tornei-me, muito jovem, leitor. Apliquei-me aos livros, ao estudo da língua, à literatura. No colégio primário, Otávio Kelly, havia uma estante de livros do qual me ocupava constantemente. O hábito perseguiu-me, tornei-me leitor, compulsivo. As lacunas educacionais, sem modéstia, diminuíram bastante. O acréscimo de ter acesso ao nível superior, aperfeiçoando minhas inclinações, favoreceu-me o espírito, apesar de escorá-lo em valores equívocos. Em meu acesso à universidade não existiam as políticas de cotas, nem o otimismo petista de mobilidade social ou a tal classe média alardeada. A única forma de acesso à faculdade era o vestibular. Atravessei tudo isso, cioso de minha tarefa: desasnar-me. O herói grego, Hércules, deveria ter entre os seus trabalhos, esse de que me ocupei. Tenho certeza de que preferiria mil estábulos, mil leões de Nemeia... O reconhecimento de meu esforço intelectual, apesar da legiti

Acerca de um comentário

O blogue recebe poucos comentários. Entre eles, às vezes, coisas surpreendentes se insinuam. Não por representarem elogio – o que é comum -, mas por pontuarem com sensibilidade aspectos que se não me dizem respeito, ligando-se pouco em ou em nada, à minha personalidade, revelam erudição dos leitores. Em Dez anos de Prosas Cariocas, recebo com surpresa a afirmação “Singular mistura de Lima Barreto, Rubem Fonseca e Lucien Chardon de Rubempré...” Se os dois primeiros objetos da comparação são familiares, compreensíveis para um leitor médio, o último termo – a personagem ficcional de Balzac – assinala a percepção diferenciada do comentarista cuja identificação não é possível. Lucien Chardon de Rubempré , personagem de Ilusões Perdidas, mostra que o, a comentarista teve contato com a Comédia Humana ou de um dos episódios que a compõem. Em seguida, em nove palavras, traça a crítica a respeito do livro aniversariante: “Alguns textos são bons, mas há muita, muita viagem” . A sentença, embora

Seis Mil

Seis mil pessoas espiam a minha solidão. Doze mil olhos, seis mil bocas, doze mil ouvidos Ansiosos pelo modo como rezo a minha prece, Pelo modo como movo meus lábios, Pelo jeito que me deito no vazio.

Um bolero

Para J.A.V  Sonhei com você está noite. Parece começo de um bolero. Não é. Estive com você nos lugares que costumávamos frequentar e perambulamos sem rumo como tantas vezes o fizemos. Talvez descobríssemos, assim, um sentido maior para vida. Trocávamos confissões como dois enamorados. Não nego que homens também se enamoram. Parece ridículo como uma carta de amor, como um bolero dentro de uma noite sem fim. Você sabe que somos ridículos assim separados. Não sonho com nenhum outro rapaz, pareço uma garotinha apaixonada. E se sonhei com você talvez você tenha sonhado comigo... É uma esperança. Uma letra ruim, canção sentimental. A vida é uma letra ruim de uma canção sentimental que poderíamos voltar a cantar a dois. Num dueto meloso. Muita coisa aconteceu, cometi crimes e não tinha cúmplices. Você não estava aqui. Sonhei com você está noite. Parece começo de um bolero, ruim. Por que não recomeçar? Eu não tenho medo. Você tem? Nesse sonho fazíamos um longo trajeto de ônibus. Most

E na aula de hoje... Eça de Queirós

"As paixões proibidas parecem o repertório do romancista Eça de Queirós. A polêmica cercava-o como ficcionista. Escandalizava a opinião pública, chocava os bons costumes e pertencia ao índex da Igreja Católica pelo anticlericalismo de suas obras e ideias. A leitura de determinados romances do escritor era vedada àqueles com pouca maturidade, principalmente aos mais jovens. Os livros ocupavam as prateleiras mais altas das estantes. A dificuldade de acesso simbolizava o perigo da leitura do autor português. A corrupção da juventude por suas ideias imorais, tornavam-no uma espécie Sócrates lusitano, ainda que sem direito a um tribunal ou a cicuta..." "Embora a crítica não enfatize, Eça de Queirós parece herdeiro não de um romance certo inglês, como alardeiam influência em Machado de Assis, contudo me parece óbvio, como francófilo, que toda a bossa da prosa do autor de Mandarim tenha saído de Voltaire, sobretudo a mordacidade e violência contra instituições como a Igr

Belo Monte

"Você conhece algum índio? Já cruzou com algum deles na Central do Brasil? Não, tô falando de índio de verdade. Não, você não pode confundi-los com bolivianos ou peruanos que infestam as praças, com roupas típicas. Se eles são índios, pertencem a outro lugar... Aliás, nos Andes têm tribos indígenas? Nunca vi um índio assim cara a cara. Só pela televisão. Índio, índio mesmo, pra valer...não, não vi. Espera aí, cadê o Raoni?Índio existe, não é mesmo? É gente, não é? Tem gente que diz que o índio tem muita coisa. Índio tem até dia especial como o Natal. Por que não mandar todos eles pro Sting? Lá montariam uma big band com apresentações no Madison Square Garden . Estaria tudo resolvido. Que tal transformá-los em executivos, inseri-los no mercado, instrui-los sobre o capital financeiro e incentivá-los na criação de um parque aquático? Sem os animais selvagens, é claro. Um megaempreendimento, com diversas construtoras, com obras superfaturadas. Ah, taí a solução: transformar a Ama

Ainda prosa, ainda carioca - naquele tempo...

"Aos novos autores" Antonio Torres  "(...) Tais considerações vêm a propósito da coluna de 10/5, intitulada  Esses debates , com a intenção de esquentar as discussões acadêmicas que vêm sendo promovidas pelos cadernos literários, tendo como pano de fundo os textos & posturas dos novos autores. Senti no ar o cheiro do descontentamento. Nada contra vocês, queridos. Há muita gente boa pintando no pedaço, aqui no Rio, sem dúvida. Nem falo da premiada Adriana Lisboa, nem do João Paulo Cuenca, que já ultrapassaram a fita de largada. Mas de um Marcelo Moutinho, um Mariel Reis , um Henrique Rodrigues - basta ler o simpático  Prosas cariocas  para arriscar uma aposta neles. Neste livro o leitor poderá se surpreender também com um conto da Bianca Ramoneda, que apresenta uma visão sensível das diferenças entre os interiores da Zona Norte e os exteriores da Zona Sul (...)."

Dez anos de Prosas Cariocas

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http://www.vidabreve.com/e-la-se-foram-dez-anos/comment-page-1/#comment-7865  "Quando duvidarem, porque isto irá acontecer, esteja preparado para provar que esteve lá. E depois de prová-lo, indicando quem você era nas velhas fotografias, invejando a  própria juventude e saúde, despeça-se com um aceno despretensioso e simplesmente desapareça". Fotografia de Hallina Beltrão

Amargos Frutos

O recuo das intenções de voto em marina Silva é compreensível. As associações, das quais falei em outra postagem, pesaram para a candidata do PSB, além de clareza e firmeza sobre assuntos importantes como a união civil gay, direito das mulheres e aborto. Muitos analistas afirmam também que a política econômica pesou bastante – o que, em minha concepção, não é verdade. As linhas pouco divergem entre os candidatos majoritários em relação a economia, praticam um maior ou menor liberalismo, portanto, descarto que a política econômica tenha sido responsável pela queda da candidata* e, sim, o recuo na discussão dos direitos civis de minorias e a associação indesejada de Marina Silva com setores menos progressistas. Aécio Neves subiu nas pesquisas, mas não desperta temor. As eleições presidenciais, repletas de opções empobrecidas politicamente, talvez seja a pior que se tenha vista nos últimos trinta anos. O desaparecimento dos pensadores políticos e estadistas – ainda que controversos – tor

Marina Silva ou Dilma? Eis a questão...

A minha decisão de voto em Marina Silva sofreu uma reavaliação.  As associações para governabilidade me parecem mais nocivas do que as de Lula, no primeiro mandato. Os integrantes da nova equipe econômica parecem saídos de conselho executivo de banco privado e Dilma, em recente discussão sobre banqueiros, admitiu não  ter  nada contra o lucro das instituições bancárias, mas não as quer ditando a política econômica ou metida no Banco Central. Asseverou que a autonomia do Banco Central, ponto estratégico para qualquer governo, é prejudicial e indesejada para a economia do país. Marina Silva propõe a autonomia do BC, isto é,  entregá-lo, de uma vez, aos seus donos de fato, sem intermediação  do governo, sem a ilusão de controle. É um outro modelo de gestão: arriscado, transparente e corajoso. Sem liberalismo meia-boca. Podemos permitir que Dilma prossiga, com a ilusão do controle econômico, sem intervenção real sobre os mecanismos de juros e da balança comercial. A transparência ou a ilu

Elasticização de Dogmas: Reforma?

Um país, às vezes, é estúpido. O Brasil, no entanto, insiste em uma estupidez constante. Embora não tenha entusiasmo pelo Clube Militar ou militares em geral, tomaram-me como um direitista por alertar de que o papel histórico de uma instituição pode mudar, ou mesmo que não se altere, entre os membros que a compõem, podem existir divergências com relação a filosofia e posicionamento institucional. Não explicitei defesa ou ataque em minha exposição, mas uma atenção avaliativa maior dos papéis ocupados tanto pela esquerda quanto pela direita, enquanto estas existiam no país. E , agora, em plena dissolução ideológica, na prática de uma política personalista, enfatizada sobre candidatos e não em legendas políticas. Por exemplo, o Partido dos Trabalhadores encampou lemas alienígenas à sua própria concepção para a chegada ao poder. A revisão de programa político pode representar a manutenção da saúde de um partido, mas pode ser indício, dependendo de sua realização, de uma deformidade ét

Simplificar não é a solução

Muitos articulistas, com toda a razão, baseiam suas opiniões acerca dos candidatos apenas pelas alianças, sem levar em consideração que mesmo entre setores conservadores, há progressistas. A divulgação de que o Clube Militar apoiava Marina Silva chocou determinada ala da sociedade por associá-la, diretamente, e aos militares, ao aspecto conservador, desagregador e reacionário. O apoio a Marina Silva se mostrou equivocado e os articulistas, em um jogo em que tudo vale para desmerecimento político, não corrigiram a perspectiva equivocada expressada sem apuração acertada. O Clube Militar expediu nota, esclarecendo que o candidato oficial da instituição é Aécio Neves, sem intenção de alinhamento com a candidata do PSB. Outro perspectiva errada é apontar o governo de Dilma como esquerda possível no embate das eleições presidenciais. Luciana Genro, candidata do PSOL, é a esquerda clássica, abandonada pelo PT para a chegada ao poder. Se examinado com isenção, perceberemos que, hoje, o Parti

Um sol todo particular

Márcio Simões, editor, representa com a Sol Negro, uma saída para o mercado editorial. Os livros fundem elegância, sobriedade e qualidade em tiragens atraentes sem nenhuma obediência a postulação de mercado e outras subserviências. Confiram:  http://solnegroeditora.blogspot.com.br/ 

Esclarecimento

Marina Silva, segundo especialistas, parece ter retirado sua filosofia de governo da filósofa alemã de origem judaica, Hannah Arendt, quando afirma que irá governar com os melhores, independente de legenda partidária. Aos analistas compará-la, por uma exigência de sofisticação, em termos de atuação política, a Hannah Arendt é desconsiderar que Joaquim Nabuco, em seu livro Minha Formação, já priorizava a postura defendida pela candidata: “ Nesse intervalo, porém, a intransigência se tinha gastado toda e agora me parecia plausível a ideia, que nunca antes me viera, de que os cargos públicos não são monopólio do partido que está no poder e devem ser confiados a quem melhor os pode desempenhar.”   

Impasse eleitoral

As alianças são necessárias a qualquer governo. Isto é inegável,  talvez toda governabilidade dependa da habilidade de se realizá-las com mínima deformação do ideário político defendido, sem que convicções basilares sejam readequadas ao sabor das circunstâncias,  sem o sacrifício da biografia política,  sem um suicídio ético e moral. A exigência, sob esse prisma, parece incompatível com o exercício de poder. E não se pode apontar, nesses tempos de uma democracia recente,  um único candidato que não se  fizesse refém de tal problema ideológico. As parcerias  transformam e transtornam interesses, subvertem programas de  governo, que se não eram saudáveis,  ao menos tinham uma nocividade controlada feito determinadas doenças  crônicas reguladas por medicação de maior ou  menor  risco ao organismo.  Não existe como tratá-lo sem desgastá-lo em nome da cura - o que se quer é um menor depauperamento das forças físicas e psíquicas. Marina Silva, a candidata do PSB, apoiada por mim, repete par

Modus Operandi do PT

É cedo para um diagnóstico sobre o futuro presidencial. O que se pode afirmar sem assombro é a garantia de segundo turno entre as candidatas Marina Silva (PSB) e Dilma (PT). A desvantagem está ao lado da candidata à reeleição ao governo, a atual presidente Dilma. O mensalão e a corrupção, embora punidos, brandamente, desgastaram a imagem do Partido dos Trabalhadores e de sua representante. A negação de Dilma e a falta de crítica ao próprio partido mostram um compromisso que não está apenas ao lado da governabilidade do país – um fonte de preocupação às consciências esclarecidas envolvidas no processo eleitoral. Não se pode afirmar que Marina Silva ganhará a disputa presidencial, mas é um fator complicador para as intenções do PT. Se Dilma não abjurar seus fantasmas, inclusive o próprio presidente Lula e os erros do Partido dos Trabalhadores talvez não vença a corrida à presidência. Marina Silva, embora rival, parece instruí-la sobre o melhor caminho, ignorado por Dilma e sua soli

Um Tiro no Pé

Dilma, com apoio a criminalização da homofobia, acaba por criar o cidadão de segunda classe. Não basta a Constituição brasileira assegurá-lo, como a todos, independente de sexo, cor e religião, contra toda violência, mas, em necessidade eleitoreira, é preciso, segundo a candidata à reeleição do PT, uma legislação especifica que mais polariza a sociedade do que a unifica, do que assumir um compromisso constitucional efetivo de proteção ao cidadão. Os homossexuais, entre eles homens e mulheres esclarecidos, capazes de julgarem por si mesmos, podem ver o quão danosa, a longo prazo, é a medida que poderá acirrar ainda mais a violência. A presidente Dilma sofria acusações, juntamente com seu partido politico, de incitar as lutas de classes, julgada como um exagero por muitos. Com o comprometimento público da atual presidente e candidata a reeleição, o que era apenas uma suspeita, confirma-se. O PT quer tornar o Brasil uma sociedade estamentária? A candidata Dilma quer aprofundar mais as d

Debate Presidencial SBT

A iniciativa do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), inovadora, por adiantar dentro da programação televisiva o debate entre os candidatos à presidência da República mostra interesse de esclarecimento da população em relação as plataformas defendidas por cada um dos postulantes ao cargo máximo de nosso regime democrático e compreensão da rotina vivida por grande parcela dos eleitores que não dispõem de tempo para permanecer acordados até altas horas da noite para assistir a exposição de ideias que influenciarão, durante quatro anos, suas vidas. Levy Fidelix, candidato combativo, não se desviou de suas intenções, esclareceu equívocos em torno de sua legenda, apontando as mazelas do país com veemência; Eduardo Jorge, lacônico e humorado, apresentou-se com desenvoltura, ancorado na plataforma do Partido Verde, provocando risos na assistência. Luciana Genro, a candidata mais bonita da eleição presidencial, representa a esquerda clássica, a que foi abandonada pelo PT por volta dos ano

Números

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NÃO DIVULGO meu blogue. Nas pesquisas, transversalmente, naturalmente, devem aparecer ocorrências que o incluam, mas não tantas vezes a ponto de torná-lo frequente em estatísticas no estrangeiro, sempre crescentes. Não há um único momento não monitorado por leitor americano – ou brasileiro lá radicado. Impressionam os números, se o contador não está equivocado, das visitas estrangeiras. Trato de futebol, política e literatura. Minhas preocupações sociais ganham visibilidade, aqui, para uns poucos amigos que leem com maior ou menor intensidade o que escrevo. Tenho a pretensão de escrever alguns livros, ter uma coluna mínima para falar de literatura em jornal popular, conseguir – nesses anos turbulentos – comprar minha casa e me manter vivo, ativo e razoavelmente saudável até os setenta e cinco anos. A minha surpresa, com os números, é o privilégio de ser lido – sabe-se lá por quem – tão avidamente. Já desbloqueei os comentários, mas o resultado foi inútil. Não tenho pista sobre quem sã

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