# 3 A Ciclista / ramal Central – Santa Cruz
A
bicicleta aproximou-se do cruzamento. A garupa ocupada por apetrecho
de segurança para criança, embora nele nenhuma fosse transportada.
A mulher, com aparência de quarentona, tinha o corpo em forma. Uma
blusa amarela leve e um short de lycra cinza mostravam os
cuidados dispensados à manutenção física da ciclista. O sinal fechado obrigava a parada. Talvez não tivesse a disposição dos
dias anteriores em que célere atravessaria a fileira de automóveis
parados no trânsito congestionado da avenida. Tirou os pés dos
pedais, estendendo as pernas para auxiliar o descanso durante o
instante do sinal. Ela parecia alheia quando movimentou os quadris ,
friccionando-se no selim como ajeitando-se na montaria. Entretanto,
parecia ter perdido a comunicação que lhe parecera satisfatória,
repetindo inúmeras vezes – no breve período – a operação sem
constrangimento. Os cabelos, embora não longos, encobriam parte do
rosto da ciclista. Talvez estivesse divertida pelo escândalo;
talvez não passasse de impressão precipitada do observador –
alegre por ter um juízo sobre o fato. E mesmo um erro de
perspectiva por não lhe saber a natureza do incômodo. O sinal
abrira. Ela, a ciclista, emergiu da cabeleira desgrenhada, sumindo
rapidamente entre a fumaça e os veículos.
17/11/2014
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