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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Exercício

As aulas de hidroginástica e de esteira intercalavam-se. Meu condicionamento físico não era dos melhores – o máximo de esforço a que me obrigava era subir escadas e descê-las, fazer caminhadas até o ponto de ônibus e reduzir a ingestão de refrigerante, eu que nunca gostei de água. Essas pequenas atitudes evitaram o meu vexame completo; se me julgava uma negação nos exercícios físicos, porque não tinha outro parâmetro além de mim, quando vi os outros executivos barrigudos e estafados da primeira bateria de exercícios, já havia me consolado. Me convenci de que tomaria por rotina a obrigatoriedade de uma atividade física. A surpresa, pelo menos para mim, ficou por conta da aula de meditação. A professora era uma jovem muito bonita, com uma cor acentuada de pele, olhos amendoados, braços longos e delicados ligados a um tronco bem constituído, com seios pequenos. Dona de um ventre liso e abaulado, como o interior de uma canoa, que fazia questão de movimentar ritmicamente. As pernas a

São Paulo em Chamas

A televisão noticiava os distúrbios violentos em São Paulo. A reportagem limitava-se em mostrar a premeditação dos traficantes ao atear fogo em um coletivo. O flagrante de uma das câmeras instaladas dentro perímetro urbano da cidade acompanhava a chegada dos bandidos. Uns após os outros enfileirados à margem da estrada, por onde o ônibus passaria. Quando o avistaram e realizaram a abordagem para incendiá-lo, a ação orquestrada pelos marginais, duplicada pelas câmeras – a primeira, responsável pela segurança do perímetro urbano e a segunda, pertencente a emissora de tevê que cobria as tensões no território paulista – transformaram o que era exibido em uma falsificação, como se a ação se passasse em um filme mostrado em um horário inapropriado dentro do restaurante no centro do Rio de Janeiro.   Toda ação transcorrida assemelhava-se a um odioso happening executado sem o consentimento dos demais participantes. A marcha dos meliantes ao encostamento da rodovia; o veículo abo

Revista Miopia

Você pode fazer um balanço dos quatro livros de contos lançados? Eu não sou um gênio, graças a Deus. E os livros refletem minha escalada em torno de um objetivo que é alcançar a minha própria estatura literária, estar do tamanho da minha sombra, como afirmei outro dia. É claro que adotei balizas estéticas, isto é, autores que me pudessem referenciar dentro do universo em que me detenho e me movo como Lima Barreto, Marques Rebelo, João Antônio e Antônio Fraga, mas nunca com a ambição de imitá-los em seus processos de investigação, mas descobrir o denominador comum de nossas sensibilidades e a partir daí verificar como foi solucionada determinadas construções ficcionais. Dividimos o mesmo território urbano: o subúrbio, mas com recortes diferenciados. Em um primeiro instante podem parecer estanques, sem comunicação alguma, mas dialogam subterraneamente. Os quatro livros são a minha resposta as inquietações provocadas por essas investigações cotidianas acerca do que me toca. Todos
O Velho Ramerrão Um determinado jogador sentenciava “Não existe gol feio. Feio é não fazer gol”. A filosofia de Luiz Felipe Scolari caminhará nesse sentido. É o único conhecido pelo ex-técnico do Palmeiras em sua restrita visão do futebol atualmente. Se a filosofia de resultados for positiva não será problema em vê-lo como o salvador da pátria apontado pelas inúmeras pesquisas, contudo, com a mudança que o futebol vem sofrendo, a surpresa virá se obtivermos uma colocação digna, por exemplo, na Copa das Confederações. E, ainda mais, se nosso futebol estiver à altura de um país pentacampeão mundial. O que é improvável. Outro ponto, esquecido pelos comentaristas esportivos, é a convocação de jogadores para a seleção brasileira. Qual metodologia norteará a cabeça do atual técnico? Manterá o espírito de renovação presente nos trabalhos de Mano Menezes? Conseguirá modificar a si mesmo? Colocar-se acima de suas superstições? Ou assistiremos a reprise de um filme antigo,