Superestimação infinita
Infinite
Jest, de David Foster Wallace, traduzido em Portugal como A Piada
Infinita (Quetzal), é um catatau. O burburinho em torno do escritor
obrigou-me – leitor compulsivo – a comprá-lo no mercado europeu
para leitura. No Brasil, a tradução ficou a cargo de Caetano
Galindo - tradutor de Ulisses, de James Joyce -, publicado pela
editora Companhia das Letras por onde também sairá o livro de
Wallace. Embora as incorreções da tradução portuguesa, o livro
pode ser lido com tropeços. A inteligência nacional, principalmente
a jovem, incensava a genialidade do escritor corroborada por inúmeros
outros intelectuais que conviveram com o Wallace. O gesto do suicídio
parece ter acentuado o traço sobre sua vanguarda,porque enforcar-se
ou atirar-se de uma janela ou inalar gás ou qualquer coisa do gênero
parece garantir ao autor um lugar no panteão da literatura moderna –
mesmo aos mais modestos. David Foster Wallace não é modesto. A
pretensão e a vaidade o acompanham através do calhamaço de mil e
poucas páginas. É uma comédia triste todo o romance atravessado
por obsessões ligadas ao imaginário do autor. É um livro
desequilibrado, confuso em sua proposta e não o grande romance
americano como apregoado pelos entusiastas, mesmo não sendo um
romance convencional. Aqui no país, o título Graça Infinita não
lhe transmitirá o imbróglio e a essência e nisto o translado
português é melhor , capta muito bem o que lhe vai pelas entranhas,
mesmo que nela o romance pareça mais deficiente do que realmente é
em sua língua original. Como ambicionado por Joyce, em Ulisses,
Wallace atravessa os gêneros literários, gerando hibridismos que
torna inclassificável o trabalho encetado por ele nesta obra. Não é
mau trabalho, mas contém a dispersão em que estava mergulhado o
escritor e pode fornecer a dimensão desagregadora de sua consciência
levada ao suicídio. Ao final da leitura, percebi uma
despersonalização profunda do escritor que me lembrou Mário de Sá-
Carneiro, outro suicida.
Comentários