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Mostrando postagens de 2016

Lições das Olimpíadas

“Não há como um indivíduo ser atleta sem ser educado no princípio da realidade: um competidor mais perde do que ganha.” Psicóloga no Fantástico no quadro Coração de Atleta. Nós, brasileiros, nos últimos anos, com o assistencialismo estatal, perdemos esse princípio da realidade: de que nem todos podem ser vencedores mas todos tem o direito de competir; isto é, em última análise, o direito de resultado . Todos devem tê-lo, exigi-lo para a obtenção do direito de performance . O que infelizmente é negado a maior parte da população sem a minoração das diferenças socioculturais. Nesse exemplo, pensamos no centro de treinamento de um atleta de ponta que deveria ser o mesmo no primeiro mundo onde o competidor atua como também para os terceiro-mundistas, como nós. Deveríamos ter o direito de resultado garantido porque é o única maneira de se atingir uma igualdade possível.

Descobrimento do Brasil

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O locutor indígena, do alto da torre de transmissão, com toda visão de jogo, vê a seleção portuguesa armar todo o ataque. Se a torre é um penhasco; o campo da pelada é o mar bravio; e a seleção as naus avançando para a costa; são outros quinhentos. A taba em alvoroço, sem estratégia contra o inimigo retrancado: à frente um barco com um único atacante, desembarca na pequena orla e para diante de dois zagueiros brucutus e sem nenhuma tanga. As tais vergonhas, diz o árbitro Pero Vaz de Caminha – aposentado – comentarista da rádio TUPI. Os zagueiros atarantados com as mímicas do estranja, os dribles do filho da puta, a ginga das pernas de defunto. Lá, no meio do gávea, com olhos de luneta, o capitão-mor, com sinais de impaciência, pede o gol. Atrás dos zagueiros, dois coqueiros, uma rede e pasmem o guarda-redes é uma indiazinha nua em pelos. Pode, Manuel? Claro que não pode, Joaquim...Nosso atacante hesita, vergonhas lisinhas, peitinhos em flor....Geralmente, a jogada é recomeçada

Camisa Limpa

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Os fumos de literatura são as ervas daninhas do canteiro do escritor; tão siglo diecinueve minha sentença que julgo apertar as mãos de Lope de Vega que por um tempo, não muito curto, cismei ser alcunha de meu barbeiro que também já encarnara Sevilha, não a do poeta espanhol, mas a de outro, um pernambucano, o tal João Cabral que, na quadrilha, ali no imbróglio, fez meu barbeiro retorcer os bigodes para ambos os senhores cuja comparação parecia não lhe ter agradado muito.  A minha peroração, incompreendida, devido a reles companhia no salão, não sofria admoestação alguma pelos circunstantes que julgavam ter diante de si um caso mais de loucura do que do contrário, porque através das ondas sonoras do velho rádio acoplado ao jaleco de meu anfitrião, o programa Patrulha da Cidade estrondava os crimes mais cabeludos, com toda dublagem caricata e sonoplastia necessárias para o realismo da cousa. Meti-me a besta, enfileirei diante daqueles filisteus alguma literatura menos alta, mas,

Lembra-te, homem

As minhas crônicas sobre hábitos saudáveis não possuem um gabarito profilático para a manutenção do estado de saúde. O desemprego ou a diminuição da categoria dos profissionais de saúde não é a minha intenção, menos ainda a pretensão de ostracismo da doença do âmbito corporal, porque se ela se vai dele, a velhice – mesmo a saudável -, não é refreada ou detida. Não cultivo inimizades com a categoria médica; pode custar muitíssimo e não sou um indivíduo cujo temperamento para liça mantém-se eriçado todo o tempo, cuja combatividade não se esgota para ser empregada em outra área, talvez, com novos inimigos e novos armamentos. Retorno à categoria médica com quem não compro briga de nenhum modo, porque tive a experiência da internação – prolongada – e minhas birras custaram muitos procedimentos invasivos pouco gentis para atestação da funcionalidade, por exemplo, do sistema excretor. Não descerei aos detalhes, meu leitor, para a explicitação do que é capaz uma enfermeira, dentro

Práticas Marginais

O alterocopismo é uma prática assídua realizada durante três dias – sempre aos fins de semana - por praticantes saudáveis ou os atletas mais fanáticos não se limitam ao curto período de três dias para o exercício dos membros superiores e alteração dos sentidos provocados como colateralidade da manutenção psíquica e corporal: alongam durante toda a semana a sequência executada nos três dias por atletas sem afinco à sua obsessão. Nas sextas-feiras, em que o levantamento de copo goza de uma popularidade tremenda nos bares, nos botequins, nos restaurantes, nas lanchonetes, nas padarias; com ruidosa alegria, o esporte, praticado tanto em equipes quanto individualmente, eleva-se à categoria olímpica. Geralmente, o leitor - nessa altura do campeonato, depois da descrição de um desporto marginalizado, repleto de calúnias, vilão do excesso de peso, de cardiopatias e outros males -, deve-se perguntar – é o meu bordão, prefiro-o ao baixo calão – diabos onde o cronista quer chegar? A

Keep Walking

O slogan do uísque Johnnie Walker pode parecer contrário a qualquer ideia de saúde, porque incentiva ao consumo de bebida alcoólica, sempre prejudicial ao organismo, contendo, em si, um conselho perigoso para o consumidor do produto “continue caminhando” que, mais cedo ou mais tarde, se perguntará “Diabos, para onde?”, após a constatação de mais uma garrafa vazia e um copo com o resquício de bebida ao fundo. A complementação do mote com a frase “o otimismo te leva mais longe” acentua o caráter de humor - negro – da sentença, despertando no bebedor contumaz uma ligeira desconfiança sobre o destino que o aguarda e para o qual se dirige em um arremedo de saúde – caminhada e bebida, mesmo em uma esteira no ambiente seguro e climatizado de uma academia, nunca são boas companhias. Não sou usuário de academia de ginástica, portanto, após classificá-las de um ambiente seguro e climatizado , com a minha negação, realizo uma adesão ao grupo com motivações suicidas que cismam na utiliza

Andy, o amoroso

Sempre gostei da Parmalat. O comercial com os pequenos animais da floresta estimularam minha criatividade. Ninguém é culpado por eu gostar do carnaval e de fantasias. Talvez, nascido no Japão, tivesse me tornado um celebridade local por andar fantasiado e distribuir balões de gás ou flores aos transeuntes da metrópole. A revista Marie Claire, em 2000, em uma enquete a respeito do Dia dos Namorados, saiu atrás de histórias inusitadas a respeito da data comemorativa. E minha filha, curiosa a respeito de sua própria história, resolveu investigar meus arquivos e lá estava a revista com a reportagem que reunia vários casais daquele ano. Como fiz muitas excentricidades, afinal, em se tratando de chamar a atenção de uma atriz teatral que rodava em premiações como o troféu Henriqueta Brieba, não poupei esforços. A revista decidiu-se por um dia em particular, entre todos os outros narrados por mim: o dia de minha declaração de amor. Talvez por ter sido - a um só tempo - engraçada, vibr

Era uma vez na terra do grampo...

O juiz Sérgio Moro, responsável pela condução das investigações da Operação Lava Jato, numa austeridade suspeita, revela, com a liberação das gravações entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, que não são ilegais, porque Lula é um dos investigados dentro do esquema de corrupção, que as afirmações de Delcídio Amaral, senador também implicado na Lava Jato, na delação premiada possuem, pelo menos, relevância. Isto não é uma adesão à República de Curitiba, como definida por Lula em uma de suas conversas com Jacques Wagner e com a presidente Dilma em um dos grampos, porém significa constatar que cada vez mais o país está embrenhado em um intrincado labirinto. Jacques Wagner, numa das gravações, refere-se ao ex-líder do governo Delcídio Amaral como um “canalha” e não como um simples mentiroso – o que é curioso. A diferença entre os dois conceitos salta em um escrutínio detido: um canalha me parece mais próximo a um traidor do que a um mentiroso. As gravações, de teor grave, consegui

Terceiro Mandato de Lula?

Na Operação Lava Jato são tantas as acusações contra o ex-presidente Lula que muitos articulistas políticos apostavam em seu ingresso em um ministério para que o processo em que está implicado, após a homologação da delação premiada de Delcídio Amaral, ex-senador e ex-líder de negociação da bancada governamental, tenha outro trâmite e o possível réu seja beneficiado com a nova manobra. Isto é o menos importante, porque Collor, mesmo com sua reputação política assassinada após seu impeachment, provou nos tribunais a sua inocência; portanto, creio que o paralelismo entre ambos parece válido para julgá-lo - a Lula; e arriscar de que poderá sair incólume de todo imbróglio e retomar, se quiser, uma possível carreira política ou mesmo se aposentar. A aceitação do ministério por Lula assume outro significado maior: de que os mandatos da presidente Dilma sempre mascararam a presença de seu tutor nos bastidores políticos, embora muito alardeada a suposta autonomia da atual presidente. Lula nun

Opinião sobre o conto Culpa

"Muito bem escrito, forte, embora depressivo... Parabéns".   Percival Puggina http://www.literaturabr.com/2014/02/07/culpa-de-mariel-reis/

Delcídio Amaral e a delação premiada

Quando da ameaça de prisão de Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, o pai, sentenciou: “Terão de construir mais 3 celas: uma para mim,  outra para Lula e outra para Dilma”. Talvez a declaração do empreiteiro, datada de junho de 2015, não esteja de todo esquecida pelos leitores de jornais e revistas do país. Delcídio Amaral, senador implicado na Operação Lava Jato, com a delação premiada homologada pelo STF, na figura do ministro Teori Zavascki, repete aquilo de que se sabia: a república cai se algum dos executivos das empreiteiras envolvidas vierem a colaborar nas investigações da operação pela qual o senador está sendo condenado. Se antes a fala de Emílio Odebrecht parecia um blefe ou reflexo de uma arrogância derivada de um dos muitos mandarins brasileiros, agora parece justificada em si mesma e com perigos reais. 14/03/2016

13 de março

A presidente Dilma, juntamente com o ex-presidente Lula, elevou 44 milhões de brasileiros à classe média e retirou outros 36 milhões da miséria. Ontem, nas manifestações [13/03/2016], se viu o produto do aumento do nível educacional e econômico desses últimos dez anos que a própria militância petista quer fazer de tudo para desqualificar aqueles atores, repudiando - lhes como falsos condutores de mudanças. Marilena Chauí, filósofa e ativista política, em um vídeo sobre a classe média, embora com certa histeria, avisa ao ex-presidente Lula sobre a serpente introduzida por ele no Paraíso e que, agora, realiza a operação de traição: a expulsão do PT do Éden. Seja como for, mesmo com a discordância da brigada ideológica petista, afirmo que esse foi o ato mais corajoso [a elevação de parcela da população à classe média e com resultado contrário ao governo que a promoveu] – de que se tem notícia na recente história brasileira. 14/03/2016

Uma História - rascunho

Os cartazes fixados no DPO são fotocópias ruins; pretendem, através de números telefônicos e endereços eletrônicos, coletar informações sobre os inúmeros desaparecidos da constelação do mural. A maior parte dos dados revela enfermidade, mas, se observados os cartazes, os outros apenas diluíram-se na multidão da cidade, embora portadores de registros de identidade e cadastros de pessoa física. E nunca mais fizeram contato com a família. O táxi aproxima-se; não temos, em termos exatos, nesse final de ano, o número de pessoas que saíram de casa e não retornaram a ela. O taxista, após nosso embarque, interessado, ouve o relato de que muitos desaparecidos - excetuando-se mortos e deficientes mentais - trocam de identidade, constituem nova vida e nunca mais se voltam para a existência abandonada. O taxista surpreende com um relato radical: após a morte materna cortou os laços familiares, mesmo com o restante dos parentes vivos, optou por adotar um anonimato incomum: sem filhos,

Observações sobre Carta ao Pai

“A liberdade para alguns indivíduos parece um erro da natureza. Precisam corrigi-lo pelo temor de agirem por si mesmos”. I. Kafka é uma criatura despótica. Entretanto, toda sua violência no livro mencionado soa afetiva – parece isto ao leitor ingênuo cuja redução à vítima do redator é a perspectiva adotada. A tirania do afeto em Kafka perpetua-se até hoje porque sua peça literária, com centenas de edições ao redor do mundo, serve com eficácia ao seqüestro da figura paterna.  Ele, o livro, está aqui na minha frente – feérico – e com um partido a ser tomado: o do jovem violado em sua sensibilidade. II. Carta ao Pai, embora um documento unilateral, quando relido, parecemos ouvir subjacente às suas linhas as reprimendas do pai de Kafka. E na maior parte das vezes, na leitura dos contos desse mesmo autor, a autocomiseração kafkiana invade negativamente a construção da identidade paterna. Sabemos que nenhuma relação íntima é pacífica, mas Kafka parece desejar o imp