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Mostrando postagens de outubro, 2007

Perfis Brasileiros IV

Eu me afogava. Não conseguia parar de afundar no corpo da gorda. Era esta minha sensação: a de um naufrágio. Ela não parava de mexer, me apertar contra o próprio corpo, esfregando-se violentamente contra meu sexo que intimidado perdia a rigidez, falava obscenidades no meu ouvido, pedia, implorava para deixá-lo duro novamente, mas eu não conseguia, me concentrava, pensava em outras mulheres, para ela não importava, só desejava saciar sua fome e sua sede, não estava nem um pouco interessada em mim, sentou no meu colo, o peso tremendo, uma calcinha tão pequena que desaparecia sendo mordida pelas carnes molengas, a boca entupida de sacanagens, o demônio parecia dançar sobre aquela cabeça minúscula, bem feita, com olhos brilhantes, as mãozinhas procuravam sem trégua me animar, quando se jogou no carpete, abriu bastante as pernas, deixando a mostra o sexo grande, úmido, faminto, pegou a escova cabelo, enfiou todo o cabo, quase desaparecia, pedia que eu enfiasse minha mão, que retirasse a esc

Perfis Brasileiros III

Dedicado a Salgueirinho Dou o dinheiro. A cobradora não o confere. “Confio em você”. A linha liga dois bairros distantes, a viagem demora em média uma hora e quarenta e cinco minutos, não se pode esperar muito em uma cidade com tantos carros na rua, a paisagem desliza através da janela, a pobreza margeia toda a avenida principal, passam pelo acostamento homens com carrinhos repletos de tralha, mulheres de aspecto miserável com uma fileira de crianças esfarrapadas, carcaças de automóveis abandonados, na beira da pista cavalos soltos, complicando a vida dos motoristas que têm que prestar atenção tanto na via quanto no passeio irregular, dividido por animais e pessoas. O ônibus chacoalha bastante, o asfalto esburacado impede o avanço. Alguns passageiros jogados no ar por um solavanco mais forte reclamam, a cobradora lê uma revista de fofoca, aponta a plaqueta acima de sua cabeça com o telefone da prefeitura. O motorista endossa e emenda: dirigir nas estradas naquele estado era um crime, q

O Cativeiro de Roupa Nova

A minha escolha por um visual novo para o Cativeiro está diretamente ligada a entrada do meu cachorro na Era Digital. Não contente em fazer o próprio blog, atuou como meu consultor para assuntos estéticos e se auto entitulou personal estilista cibernético. Teve o desplante de criticar o aspecto demodê de minhas mal traçadas linhas, por isso a roupa nova. Talvez ele se convença de que possa me levar ao baile sem o risco de que eu faça pipi na perna dos outros.

A Mensagem

Dedicado a Paulo Lins Marco arremessa a lata para cima da laje. Juninho a joga para outra e Bira a atira para outra até a lata chegar ao destino. As últimas mãos a pegar na lata, sempre de leite em pó, a destampa e verifica se o combinado está depositado no interior. Se a coisa está correta, a lata volta a fazer todo a caminho inverso até chegar às mãos do primeiro que a arremessou e dentro dela está o pagamento, quase sempre em dinheiro; outras vezes em favores com indicações de quem deveriam fazê-los em bilhetes mal-escritos, com letras cheias de garranchos e erros de ortografia. Mas o premiado não ligava importância a isso. Na segunda-feira a lata chegou um tanto amassada. Dentro dela o bilhete de um informante: "Maurinho, cuidado". Maurinho leu o bilhete e logo telefonou para Marco para saber se o informante ainda estava com ele. Marco respondera que sim. "Coloca ele aí no telefone”."Fala, Branco”."Fala”."Que porra é essa, hein?" "Foi o

O Pássaro*

Dedicado a Jorge Ferreira Ouriques Junior. I Na semana seguinte, sem emprego, sem ter onde cair morto aceitei uma ocupação. - O Senhor cuida de pacientes assim desde quando? - Desde que me entendo por gente (mentia). - Então deve ter boas referências. - Sim,tenho. Apresentei uma lista de nomes para quem a entrevistadora poderia ligar se quisesse confirmar a minha experiência de longa data. Todos meus amigos que se dispuseram a partilhar da mentira. - Então você pode começar amanhã. - Amanhã?!- disse entre chocado e surpreso. - Sim. Algum problema? - Não. Está ótimo para mim. Liguei desesperado para um amigo que é enfermeiro, ele solícito respondeu a todas as minhas perguntas. - Calma, Olimpio, calma. É só um rapaz, você vai conseguir. Na maioria são uns amores. - Mas eu nunca cuidei de pessoas especiais antes. - Calma, meu bem. Não fui eu que meti você nessa. Além do mais o rapaz é asseado pelo que você me disse. E é só levá-lo para passear, cuidar das refeições, sociabilizá-lo. - Mas,

Jonas, A Baleia

Jonas acordou transformado em uma imensa baleia. O pequeno quarto que habitava mal suportava o tamanho adquirido com a mudança de forma, os braços, agora barbatanas, agitavam-se desajeitados, procurando se apoiar em alguma coisa, tentando encontrar a porta, mas percebeu que seria inútil, não tinha mais dedos, não poderia virar a maçaneta; as pernas não existiam, somente a cauda que balançava para espantar as moscas que lhe vinham perturbar. Jonas olhou a imagem de Cristo presa à parede, talvez se tratasse de uma vingança, tinha inimigos poderosos. Como explicar que tenha acordado com esta forma? A memória da noite anterior lhe surgia, misturada às outras lembranças - tumultuadas. Se alguém lhe envenenou a bebida? Se o quarto estivesse equipado com algum aparelho que alterasse as percepções sensoriais, produzindo a alucinação? O café seria servido dali a meia hora. Jonas não conseguia achar uma saída, quando teve a idéia de derrubar os móveis, fazer barulho, talvez o socorressem, arrom

Por Que Escrevo

Dedicado a Aurea A curiosidade, primeiro principio da busca intelectual, não era o meu forte enquanto serralheiro, porque me encantavam aqueles adornos que encimam os portões. Uma preguiça retardava meus avanços e me arrastava para tarefas manuais, tendo sorte em algumas, cheguei a desenvolver a profissão de aprendiz do trabalho que me lembrava um pouco os enfeites das igrejas antigas do centro, uma espécie de rococó urbano. A leitura não era minha tarefa favorita. E também isso não fazia com que me destacasse na sala de aula ou fora dela; as meninas se sentiam atraídas pelos rapazes que se desenvolviam bem nas barras paralelas e no plinto (nome engraçado esse), enquanto que eu me danava em descobrir como chamar a atenção das pequenas com meu corpo franzino e pouco dado a exercícios ou esforços como o giro triplo na barra vertical. Esse nome pomposo era a maneira com que eram testados os candidatos a entrar numa turma do colégio, aquela patota que domina a área e se aproveita dos mais

Perfis Brasileiros II

João João era visto dando intermináveis voltas no quarteirão. Não se cansava de realizar aquilo que chamava de o quadrado perfeito, confessava que aquele era o formato divino e não a circunferência como muitos já haviam defendido, que se ele se esquivasse de formá-lo toda vez, o mundo acabaria, porque esta a sua missão: manter as coisas nos lugares até que o Juízo viesse a ocorrer e todos os homens fossem julgados conforme a vontade do Criador. Dia e noite João não dava tréguas ao perímetro a ser coberto com seus passos; às vezes caminhava rápido, outras dava pulinhos como se jogasse uma amarelinha imaginária, corria como se participasse de uma maratona, ou simplesmente caminhava como se realizasse um exercício para a manutenção e bem-estar da saúde. Os lojistas não ligavam importância por vê-lo todo o dia passando em frente às vitrines, tiravam proveito desta situação, espalhando o boato de que se tratava de um vigia, afastando os maus elementos; os que ainda se espantavam eram alguns

Perfis Brasileiros

Estevão Estevão é o homem encarregado dos corpos. Ninguém o procura, por medo, porque lida com mortos. Somente os parentes de desaparecidos são obrigados a lhe dirigir a palavra para encontrarem o cadáver na pilha de corpos dentro do frigorífico, quando não acham o que procuram, voltam desconsolados para casa, às vezes xingam, outras desmaiam quando deparam com o estado do corpo, alguns em estado avançado de apodrecimento. Nestas visitas, Estevão recebe todo o tipo de pessoa, inclusive aqueles que lhe subornam por um espaço mais confortável no freezer para o corpo do familiar, amigo ou parente, prometendo-lhe vantagens futuras, caso precisasse deste ou daquele serviço, entregando-lhe cartõezinhos com telefones. A maioria destas pessoas eram mulheres que viam em Estevão uma chance de se consolarem de suas perdas. Talvez viúvas como ele próprio costumava achar, que fragilizadas pretendiam chorar as mágoas no primeiro ombro que aparecesse, no par de ouvidos que cedesse atenção a enorme la

Desde Que o Samba é Samba é Assim...

Estação Pavuna – Estação Samba. O gênio é um homem discreto, caminhando pelas ruas do bairro, levando nas mãos o cavaco, olhando calmo as paisagens que investiga nas suas canções, desenrolando uma idéia sadia com a rapaziada,parando para dar atenção aos tipos que ninguém pararia para ouvir, acenando para mulheres que ninguém ousaria cumprimentar, levando um sorriso afável,convidativo, acolhedor. Marcamos o encontro na Estação da Pavuna, na Praça Copérnico. “A meu jeito eu também construo meu sistema solar” sentencia Carlos Alberto dos Santos, sem saber direito que está filosofando, atirando ao redor uma melodia conhecida com seu instrumento, emendando com a voz “Agora/Lutar por você com palavras/ Pode ser uma luta muito vã/ Entretanto são muitas as manhãs/ E eu pouco para te amar”,sabendo que no amor as palavras tem pouca força para traduzi-lo em seu turbilhão e percebendo que quem ama sempre se esgota na manhã seguinte para se reinventar no amor e na maneira que ele renasce para o out

Repercussão

O amigo e escritor Rotsen desta vez : A Tropa está nas ruas de Paraíso Tropical Duas coisas que li estes dias em virtude da Tropa estar nas ruas me chamaram a atenção, uma foi no conto acima, no seguinte trecho: "Se ligou no filme dos homens? (referia-se ao filme Tropa de Elite)" A gente com o nosso (Cidade de Deus) e agora eles com o deles"; a outra, foi uma manchete de jornal no sábado, depois do fim da novela televisiva Paraíso Tropical, que dizia mais ou menos assim: Capitão Nascimento é pinto diante do Olavo. A comparação se dava porque o ator que interpreta os dois personagens é o mesmo e, porque o personagem televisivo, é muito mais mau do que o cinematográfico, tentou matar até a própria mãe. Todo dia na minha sala, Capitão Olavo vomita na minha cara, e na de minha filha de sete anos, palavras como prostituta e vagabunda, além de outros adjetivos carinhosos pelos quais trata sua amante. A modelo da vez, duplamente modelo, primeiro pelos bons exemplos que difunde,