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Mostrando postagens de agosto, 2013

Escuta, vamos fazer um contrato*...

‘Existem críticos honestos? Sim. Nesse instante abro um suplemento cultural em que um crítico fala mal de um romance. Imediatamente acode-me a pergunta: qual será o preço dessa independência? Mulher, ele deve ter; carro, também; todos os apetrechos tecnológicos, também; uma editora, se for um escritor, também. A minha conclusão é a seguinte: deve ser um homem livre. Revejo a minha conclusão, troco a dúvida pela certeza, é de fato um homem livre. O que é um homem livre nesse meio?’ Mariel Reis ( marielreis@ig.com.br ) Os maiores narradores brasileiros escolhidos garantem-me conforto. Porque o meu lugar, excluído do hall das excepcionalidades, é junto dos escritores menores da língua (o meu e o da grande maioria dos escritores que também não estão lá) . O que, em mim, se traduz quase que fielmente: a minha estatura não me permite uma afirmação em contrário. Tenho um metro e sessenta. Escapei por pouco de me tornar um anão ou um duende ou um desses seres saídos da ficção

Surrealismo

‘Surrealismo (...) virou grife, franquia, um Mcdonalds do inconsciente, morou?’ Para Anderson Fonseca O buraco é mais embaixo. O sujeito, emputecido, amassa os papéis. Surrealismo de cu é rola. Corolário da conversa. Isso é Darcílio Lima assinado por Dali. É o que é. Não vale tostão. E enxota o vendedor de raridades. Os putos em 1920 inventaram a porra e rende dinheiro até hoje. Não é? Absurdo do mundo é o caralho! Virou grife, franquia, um Mcdonalds do inconsciente, morou? Cheio de fórmulas e o cassete a quatro. Eu não compro. Não vem que não tem. No meu cu é que não botam. Surrealismo. À puta que pariu. Dali acanalhou o inconsciente e o colocou nas gôndolas dos supermercados. Você chega e pede ao açougueiro: me vê aí meio quilo de pá, acém e surrealismo. Reforça o embrulho que é pra viagem. Estado de fantasia supernaturalista, disse um escritor meio viado. Traduz, né? É bonito pra intelectual. E nós? A graça dos franceses, qual era a graça deles? Me deixa lembrar... P

O Meu Best-Seller

    “Os intelectuais não podem ser intransigentes, preservando apenas para si mesmos os espaços de cultura. Precisam democratizá-lo. Como?Me perguntam.   Esquecendo que são latifúndios pertencentes as famílias tradicionais do país” Mariel Reis       Ryoki Inoue* é o meu autor preferido de best-sellers. A condição de escritor de sucesso não o impediu da construção de obras consistentes, embora o tenha prejudicado escrever tanto como escreveu.   O autor de Saga possui mais de mil títulos escritos; o feito lhe rendeu o louvor do livro dos recordes, o Guinness Book. A minha curiosidade sobre o escritor nasceu em 1996, quando Humberto Werneck (autor de Desatinos da Rapaziada ), em reportagem para a revista Playboy, escreveu sobre ele, Inoue.   No instante da reportagem, veiculava-se a presença de um jornalista estrangeiro que vinha conferir a capacidade criadora do autor de Seqüestro Fast-Food, escrito em apenas seis horas ou em quase isto. Num tempo em qu

Por que Pero Vaz de Caminha não tomou cauim?

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Para Anderson Fonseca, o crítico Professoral (O douto ensaísta discorre sobre a historiografia do cauim) Longe de representar a tragédia instalada nas principais reservas indígenas, o consumo de bebidas fermentadas já possuiu outro significado, escapando ao rótulo de problema social , crescente na maioria das tribos em que o alcoolismo e o suicídio fazem parte de uma estatística estarrecedora, fornecendo dados à pesquisa de desagregação de populações nativas. O consumo de bebidas fermentadas, antes de sua perversão através do contato com a população européia, estava integrado ao sistema ritualístico dos índios. A bebida era o cauim. Descrita como uma beberagem densa e clara, extraída da mandioca. Os nativos tinham tanta preferência por sua bebida que o episodio descrito do por Pero Vaz de Caminha em sua Carta não pode ser ignorado: “trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca, não gostaram nada, nem quiseram mais”. As Cauinagens , como eram conhecidas as

O Invasor

Para Anderson Fonseca, o fabulista fabuloso ‘Quando completava um dos blocos, encerrava-o em um envelope pardo e o remetia para um destinatário desconhecido. A família, receosa por sua segurança. A atitude quebrava o protocolo da imobilidade – o único conhecido daquele homem. E, portanto, a salvaguarda de seu caráter. O deslocamento até a agência dos correios representava alta traição’ O homem parado no quintal veste roupas sóbrias. O chapéu largo, a capa de chuva e os sapatos impermeáveis protegem-no do frio e da chuva.   Ele mantém-se imobilizado durante todo o tempo. Uma vez ou outra é possível percebê-lo fazendo anotações. Escreve compenetradamente. O bloco e a caneta, escondidos sob a capa de chuva, são retirados com rapidez. E, ali, é registrada alguma informação preciosa. O semblante sério não o deixa mentir quanto a isso, embora não se possa vê-lo totalmente. Os olhos, sob a aba do chapéu, faíscam durante a noite. Vasculham-na inutilmente, em busca de não se sab

O Sujo e o Mal lavado

‘O preto no branco. Não há outra maneira para se fazer oposição ao governo, mas a condução da campanha está equivocada. O equívoco está desde a escolha do candidato, comprometido por um possível mandato fraudulento, à abordagem dos problemas dos recursos que abre margem para suspeitas tanto de um lado quanto de outro. Se o candidato abrir a boca demais pode se ferir com as próprias palavras e o resultado de um temperamento exaltado pode respingar na futura campanha presidencial - que promete ser quentíssima - pelo material que a oposição tem para uso’ A temporada de campanha política está aberta. O Partido dos Trabalhadores resolveu apoiar o candidato Lindberg Farias para o cargo de governador do Rio de Janeiro.   Em uma das chamadas, o candidato refere-se ao empobrecimento dos municípios, a posição da cidade em qualidade de vida (quadragésima - quinta) e a destinação dos recursos federais. Se há uma parceria entre governo federal e o governo estadual e se a situação da cida

Volte ao trabalho, você não ganha para fazer perguntas

 ‘ Comecei a rabiscar histórias. Curtas, é verdade. Ingênuas. Dei o primeiro passo para o abismo, porque a vertigem, de quando se começa a escrever, é inevitável. E constante. Repetir-se-ia indefinidamente. Toda vez que me sentasse diante da folha em branco, ou da máquina de escrever, e, agora mesmo, diante do computador, ela se repetiria. Um prazer insidioso, marginal e perigoso. Parecido com ficar nu, a primeira vez, com a namorada. Em vez da vergonha, a compulsão por tirar a roupa mais vezes. Escrevia, escrevia em todo tipo de papel que encontrasse. O açougueiro passou a ser meu principal fornecedor. Comprava carne para uma vizinha. Ele a embrulhava, generosamente. Quando entregava a mercadoria, pedia o papel do embrulho, retirado cuidadosamente pela proprietária da carne. Eu o desamassava. Cortava-o em pedaços menores, confeccionando blocos. Precariamente, me tornava um escritor’ A inveja é uma merda. Lia em um adesivo de carros nos anos oitenta. Nessa época, para de