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Mostrando postagens de outubro, 2011

Novo Livro

Amontoado de Desilusões Crônicas. Aguardem.

Resenha livro Vida Cachorra

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Entre a violência e a beleza Publicado em 24/10/2011 por Henrique Marques-Samyn por Henrique Marques-Samyn Mariel Reis. Vida cachorra . Usina de Letras, 2011. Vida cachorra é o quarto (e mais recente) livro de Mariel Reis. Como não conheço seus livros anteriores, não posso estabelecer entre eles um juízo comparativo; não obstante, se isoladamente analisado, Vida cachorra apresenta as qualidades próprias de um escritor experiente, que maneja habilmente os recursos narrativos e explora uma ambiência que lhe é familiar. Por suas características formais − o uso de frases curtas e de uma linguagem eivada pelo calão, recursos adequados à construção de contos envolvendo personagens típicas da urbanidade brasileira, sempre encerrando algum nível de violência física ou psicológica −, o volume representa exemplarmente uma certa tendência da nossa literatura contemporânea. Vida cachorra apresenta as qualidades próprias de um escritor expe

Apontamentos Críticos Sobre Premiação Literária

"Um escritor, quando muito premiado, fica inútil" Trecho de conversa com Anderson Fonseca. Caro Ronald, A necessidade de distinção é um reflexo de um binômio incômodo – entre aquilo que é normativo e o que não é. O que é normativo exorta-se para que seja emulado e o que não é sofre alijamento do convívio, é deposto, é colocado nas sombras. O condicionamento para que o normativo prossiga seu caminho na sociedade é visível através das práticas institucionais, nos desdobramentos de suas ações para que o indivíduo não se afaste do seu papel no pacto social, não quebre as regras do contrato, porque senão terá que cumprir as sanções provenientes do ato cometido. O progresso caminha melhor através dos passos dos obedientes, dos passivos, daqueles que não se desviam do discurso socialmente aceito, dos que permanecem na aparência, endossando nossa inclinação pela superfície e aprová-la é internalizar o conceito de semicultura em que nos tornamos menos que técnic

Modos Refinados de Controle

“O facebook é uma máquina de espionagem fantástica”, declarou Julian Assange, da Wikileaks, acusado por divulgar documentos americanos sigilosos. A afirmação causou embaraço entre os usuários da rede social no Brasil, logo superado pela ironia com que o assunto foi tratado pelos beneficiários, virando piada sobre os possíveis interesses das agências de inteligência ocupadas em monitorar as discussões dos participantes, levando-se em conta a relevância do que ali é abordado. Por parecer dispare, pretensiosa ou fantasiosa a sentença de Assange acerca da rede social, esta reflexão nos conduz a outro pensamento, produzido pelo filósofo francês Michel Foucault, derivado do livro de sua autoria Vigiar e Punir, sobre a rastreabilidade dos cidadãos que o Estado precisa promover para mantê-los sob vigilância, controlar seus atos e domesticá-los para que suas paixões não representem prejuízo à convivência em sociedade. Se encararmos dessa maneira, o que foi dito pelo fundador da W

Mariel Reis na Sibila

http://www.sibila.com.br/index.php/mix/1923-copia-fiel-artes-plasticas-no-brasil-

Divulgação

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Leitores, literatos, amigos e afins: A Livraria Moviola convida para o coquetel de lançamento dos livros: Boxe de Poemas (André Ferraz) Desenrolo (Viddal de Souza) Livro da Mentira (Reinaldo Ramos) Sol entre Noites (Whisner Fraga) Exercício da Garça (Lasana Lukata) Uma noite de autógrafos, leituras e bate-papo com os autores. Data: 10 de novembro de 2011. Horário: 19 horas. Local: Rua das Laranjeiras 280, Laranjeiras, Rio de Janeiro – RJ. Informações: (21) 2285-8339.

Sueli visita o Baque

O escritor e crítico Geraldo Lima que escreveu para O Bule uma resenha sobre meu livro Vida Cachorra, transcreveu para o blog em que dá expediente um pequeno conto que consta no volume de minha autoria. Meus agradecimentos. Visitem e (re)leiam. http://baque-blogdogeraldolima.blogspot.com/2011/10/sueli.html

Exercício - Etnografia Ficcional IV

IV “A mãe estaria de pé, o café na mesa, cumprindo sua obrigação de professora, corrigindo as dezenas de provas dos alunos da escola em que dava aula, reclamando sozinha pela tarefa que lhe parecia absurda, levando-se em conta o sol lá fora, a relativa juventude, o corpo embora desgastado, ainda atraente. Tinha um cuidado especial com as pernas. Comprava cremes, meias especiais, fazia exercícios para fortificá-las. O magistério não fez despontar varizes excessivas.” “Daquela época, de Nádia e Leonardo, fizera questão de permanecer com a corda” Tia Débora, o dever está pronto. Ela recolhia com má vontade o caderno para inspecioná-lo. A saia não estava tão comportada como na semana passada, a diretora chamou-lhe a atenção devido ao traje provocante. A reprimenda só aumentou sua exasperação para que o dia terminasse de uma vez, para que corresse para casa e pudesse divertir-se a vontade com seu amante. Professora, posso ir ao banheiro? Débora todas as noites assal

Exercício - Etnografia Ficcional III

III “tinha apenas como herança dos saltos uma diferença de uma perna para outra devido a um acidente que o fazia mancar levemente – era quase imperceptível”. Eu que nunca permaneci em pé, que não venci a lei da gravidade, Acácio tentava em vão descrever sua luta por permanecer cravado em um centro de uma existência, inclinada. Quando nu, em frente ao espelho de corpo inteiro, sentia que algo lhe estava subtraído. Em pé, esticava-se todo, o fêmur estalava junto da bacia, o pé se levantava centímetros do chão, embora a sola o tocasse ainda. Contudo, estava reduzido, infimamente, mas reduzido. A mulher pedia para que não se aborrecesse com isso, um detalhe sem importância. Todavia, não lhe abandonava a idéia de aleijão. Esboçou a carta inúmeras vezes; Anette tinha ido para a casa de sua mãe em outro subúrbio perto dali. Rememorou que para Leonardo isso não seria uma dificuldade, uma simples carta. O começo descrevia tudo aquilo que ambicionava dizer, porque sabia de s

Exercício - Etnografia Ficcional II

II “Vigiado por uma mocinha ruiva de patins [A mocinha ruiva é estudante de Serviço Social, em uma universidade particular católica no Rio de Janeiro, mora com a mãe na região da Leopoldina, no conjunto do IAPI, situado na Penha. A mãe é separada do pai há mais de dez anos e é professora primária em escola da região], que tive a impressão de ser a mais enérgica delas.” A mocinha ruiva desamarrava os patins, sentada no meio - fio. Não vou nem trocar de roupa, falava para sua companheira. O namorado não viera lhe buscar, como combinado; o ônibus àquela hora não rodava para as bandas onde ela morava. Resignada, olhava para um ponto da rua em que as linhas que a formavam juntavam-se. Os patins pendurou-os no pescoço, calçando uma chinela havaiana. Verificou na mochila o cartão de passagem. Sua companheira, cansada, optou por um táxi, torrando parte do dinheiro ganho na noite. Como iria para uma direção contrária à da ruiva, não pode dar carona. A manhã crescia sobre os prédios com