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Mostrando postagens de 2012

Resenha

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.. Perspectivas de um leitor . Com a mesma precisão de um cirurgião, afirmo que o conto é a arte narrativa que mais se tem desenvolvido nas últimas décadas no Brasil, sendo este período comumente chamado pelos críticos de a era de ouro do conto; também se pode afirmar que das três – o romance, a poesia, o conto – ela é a mais difícil como a mais ignorada no cenário da atual literatura, deva-se à forma ou à leitura. Talvez – aqui já não sou preciso –, porque o conto exija do seu artesão uma economia de linguagem e um domínio da técnica semelhante a um artista plástico conhecedor do pictórico, como do seu leitor uma atenção e um estado emotivo cômodo à recepção do texto. Seria, portanto, o conto por excelência um quadro de cores arranjadas segundo o jogo de luz e sombra, bastando ao artesão somente entender este jogo para dominá-lo com mestria de forma a levar vantagem sobre seu adversário (o leitor).   Poucos são, no entanto, que a arte dominam-na bem, como esgrimistas a manej
Equívoco e Impasse no Futuro da Seleção Brasileira A demissão do técnico Mano Menezes foi uma precipitação. Os motivos que o levaram a ser dispensado pela CBF, exatamente pela figura do presidente da entidade José Maria Marin, não foram esclarecidos. Não se sabe o que ocasionou a atitude de Marin. É possível supor que a pressão por parte de ex-jogadores como Romário, principal crítico do técnico, além de alguns comentaristas esportivos contrários a sua permanência e a sua lenta resolução acerca do esquema tático e do quadro de jogadores em suas respectivas posições, tenham contribuído para o desgaste e para a decisão de Marin. Talvez a decisão do presidente da CBF já tivesse sido tomada e anunciada somente agora, evitando a presença de Mano Menezes na Copa das Confederações. São apenas especulações. A torcida brasileira não caía de amores por Mano Menezes, tampouco a crítica especializada, mas não podemos lhe negar os méritos à frente da seleção. Primeiro, tinha um planej

Resenha

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A voz do silêncio no alto falante A arte de afinar o silêncio  (Ponteio, 2012, 114 páginas), novo livro de contos do carioca Mariel Reis, é um título curioso e instigante. Sugere o silêncio como um instrumento por meio do qual se comunica ou canta alguma coisa. Sem a afinação, seria apenas ausência de som, mas o que o autor quer talvez seja o conteúdo contido, concentrado, o silêncio corroendo as entranhas da voz para dizer algo com mais precisão, com subterfúgios de esquecimentos e lembranças. Isso é minha tentativa de entender seu título. Talvez não dê em nada. O nada nadifica. Li todos os contos com o silêncio retroando em minha cabeça. Mariel Reis faz parte da nova geração de escritores brasileiros, com uma identidade clara, a de carioca que sabe falar das nuanças, das paisagens geohumanas, contidamente, mas que explode (em silêncio) na leitura, de sua cidade, entre zeugmas e elisões, fingido esquecimento como no conto  Jim Cluster . Ele estruturou seu livro como

Darlene

Quando cheguei lá, a Darlene tava linda. Havia comprado o vestido numa promoção, no Saara, com parte da grana da demissão. O cabelo tava arrumado. O Salão do Seu Geraldo tinha mordido a parte dele. Darlene perdeu o emprego, porque se recusou a depor sobre um roubo de henê. A menina devia ter uns onze ou doze anos. Conversou com o gerente que pagaria do salário dela, prele esquecer aquilo e tal e coisa. O gerente não queria conversa. Ladrão é ladrão, não é? Não demorou nem uma semana, Darlene foi demitida. Uma sacanagem. Ainda teve um  ti-ti-ti , um  blá-blá-blá , mas não tiveram coragem para dar justa causa. Também, se o gerente sacaneasse a minha neguinha, tomaria um derrame. Ele - de bobo só tem a pinta -, pagou todos os direitos dela. Tinha quase quatro anos de firma. Deu para tirar uma ondinha: trocar o sofá; passar uma tinta e pôr em ordem o barraco. Quando cheguei a Darlene tava mesmo uma deusa. O portão todo enfeitado com umas flores de plástico, o peque

Estátua de Sal

Ele me avisou pra não olhar pra trás. Um corredor de bombeiros, policiais, repórteres e assistentes socais cercavam a minha partida. Minha garganta e os meus olhos ardiam com tanta fumaça. Meu pai me abraçou forte e a gente logo conseguiu chegar até a avenida.  As viaturas da polícia e do bombeiro atravessadas na pista, o trânsito todo desviado, um helicóptero sobrevoava todo o lugar e minha mãe e minha irmã desaparecidas. Numa perua uma mulher distribuía comida e água para os moradores que haviam perdido tudo no incêndio. Prometiam a assistência do governador aos desabrigados. Meu pai não parava de chorar. Os noticiários só falavam das buscas, dos desaparecidos e da hipótese de o incêndio ter sido criminoso. Abracei meu pai. Uma nuvem de fumaça negra subia aos céus.  Eu não podia olhar para trás. O hálito do fogo batia nas minhas pernas. Era como naquela história contada lá na igreja, se eu olhasse pra trás viraria uma estátua de sal. Meu pai não aguentou. Levantou

Mariel Reis na revista Sibila

http://sibila.com.br/novos-e-criticos/politicas-de-identidades-no-brasil-jose-de-alencar/7808

Uma resenha e um bilhete sobre A arte de afinar o silêncio

sábado, 6 de outubro de 2012 A força do silêncio de Mariel Reis O ato de escrever é solitário e silencioso. O ato da leitura também exige silêncio. A complexa prática da leitura exige um silêncio externo, mas internamente, quanto mais inquietos permanecermos durante a leitura, melhor. Esse silêncio metafísico oprime o verdadeiro leitor, mas não é uma má opressão, antes uma opressão que leva à reflexão, e é isso que importa. Portanto, não basta haver silêncio pura e simplesmente, mas um silêncio rangente e intimista. Elementos que não se aplicam apenas à literatura, mas (principalmente) à vida. Mariel Reis, escritor carioca que para os leitores deste blog dispensa apresentações, acaba de publicar  A arte de afinar o silêncio  (2012, Ponteio. 114 p.), uma coletânea de contos. Mariel é um sobrevivente, pois insiste na produção de um gênero que não é muito popular no Brasil. Mariel, desde seu primeiro livro,  Linha de recuo e outras estórias , passeia sutilmente pelos meandro

Agradecimentos

Muito obrigado a todos que estiveram no  lançamento do meu  livro Arte de Afinar o Silêncio, dia 10/09/2012. Ele pode ser encontrado na Livraria Blook's.

Chico Anísio

Quarto Alugado, do livro Curva do Calombo, é um dos grandes contos da literatura brasileira.

O Homem Desoriental - Poemas

Meu novo livro de poemas, com cerca de 40 poemas, intitulado de O Homem Desoriental devido a meu amigo Delfin que em um pequeno prefácio esclareceu definitivamente a natureza dos textos, teve boa acolhida entre poetas, críticos e leitores. Dividirei com o público algumas opiniões que seguem logo abaixo. "Um cântico de amor imbuído de dimensão religiosa. O amor numa perspectiva sacra, mas também sensual. Belo. Apenas não gostei do título. Ele não expressa a dimensão lírica...leve...de seus versos...alguns poemas já tinha lido. " Hilton Valeriano, poeta e editor "Amei, perfect! Principalmente o primeiro poema. Você abre o livro de forma crucial." André Ferraz, poeta e contista  "Gostei bastante do título: homem sem oriente que transita pela orientalização, daí a forma dos versos e a referência a elementos e poéticas. Gostei particularmente do poema a seguir, que poderia transitar em qualquer coletânea: O coração não

Uma Natureza Duplicadora Ou Pós-Modernidade

Um carbono. Tudo o que se lhe imprimisse, copiaria fielmente. Nada faltaria, nem vírgulas, nem pontos. Eu não suspeitava que tivesse ao meu lado um surrupiador de ideias, alguém que se me aproveitasse do meu único tesouro: a minha inteligência. Não que esta fosse larga ou que a todo instante produzisse sensações acerca dos assuntos dos quais se alimentava, isto não seria verdade se lhe afirmasse; tampouco arrisco subestimá-la naquilo que de concreto acumulou e pôde passar a frente com franqueza e convicção aos outros em conversas despretensiosas no bar ou no telefone em que me demorava horas em dissertações infinitas até mesmo a respeito de coisas ordinárias que não ocupariam um espírito dito sério. Tenho comigo essas considerações agora, porque na época, não me passava pela cabeça o assalto intelectual do qual era vitimado por essa natureza que julgava sensível, atenciosa e romântica. Sem me dar conta de que sofria de carência de ideias próprias, mantinha, sem reservas, uma