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Mostrando postagens de setembro, 2008

Dias de Faulkner e a Crise do Discurso

O aspecto rasteiro deste livro é o seguinte: a visita de um escritor, detentor de um Prêmio Nobel de Literatura a um país de terceiro mundo durante a década de 60 na cidade de São Paulo. Contudo, sinto informá-los de que o livro não trata de maneira alguma disto, portanto para espanto de todos os leitores, penalizados por terem adivinhado a pequena essência do livro – resolvo mostrá-lo como um problema narrativo devido a fatores de enumerarei cuidadosamente. O livro Dias de Faulkner é uma armadilha e o leitor desavisado é apanhado por ela sem mesmo se dar conta. A leitura é surpreendentemente fluida. O texto bem cuidado, enxuto, sem a vacilação que se pressente na estréia de jovens autores - isto está banido de suas páginas, porque é com segurança com que o narrador conduz sua – aí começa o problema – história ou estória como Guimarães Rosa preferia chamar suas peças de ficção? O vocábulo não importa muito, porque nele é que mora a crise do livro, intensificada pela profissão do autor

Meu Encontro com Ivan Lessa

No calçadão de Ipanema vejo Ivan Lessa – está na companhia de dois outros senhores de idade que só depois reconheço – Ziraldo e Jaguar. É a primeira vez que os avisto juntos, conversando, exercendo a bundologia – arte caríssima ao grupo que dedica a ela boa parte do tempo em que atravessa a faixa da calçada, inspecionando as virtudes das beldades, comentando entre si as riquezas naturais de nossa cidade tão cara ao olhar turístico desse quase inglês: Ivan Lessa. Ivan Lessa vive na terra da Rainha, como gosta de dizer. É quase brasileiro quando está entre nós, frisando com isso que ainda mantém certa distância da assoladora síndrome de vira – lata que acomete a todos os seres viventes do terceiro mundo. Não sente a mínima necessidade de escrever, ressalta que é quase um acidente e aqueles que não descobrem em seus livros verdades tão profundas quanto as escritas por Proust podem esquecê-lo, porque não o merecem. A minha aproximação não foi das melhores. Evocando minhas memórias sobre o

Sobre John Fante Trabalha no Esquimó

A família Lustosa da Costa é famosa por sua estirpe de intelectuais que se misturam a cultura brasileira. Um dos exemplos mais comuns é Isabel Lustosa, talentosa historiadora. Na literatura temos o exemplo de Máximo Lustosa da Costa que me enviou essa resenha sobre meu livro john Fante Trabalha no Esquimó - confirmando o ditado filho de peixe.... A Agudeza Incômoda de Um Escritor “Vou de branco pela rua dos homens” e encontro o texto do amigo Mariel, antes de mais nada, um conquistador. Escritor de agudeza incômoda, Mariel, em “JOHN FANTE TRABALHA NO ESQUIMÓ”, traz, como é sua característica, a urbanidade e o esplendor da crueza dos fatos. Aliás, é uma literatura crua o que se apresenta. Mariel é um narrador e ponto. Já, o leitor pode torcer o nariz, é livre. Entretanto, Mariel é mais do que um naturalista, pois seu olhar não põe relevância nem nas mazelas, nem nas amenidades do cotidiano. Os detalhes escondidos no texto são colocados de tal forma que um olhar distraído pode não en

Notícias do Mundo

Os fatos se desenrolam com lentidão. O livro está sendo diagramado, não consigo escrever uma linha de ficção, abandono com facilidade as poucas idéias que ainda avançam sobre o mar de ansiedade monótona que me naufraga durante os dias que antecederão ao lançamento programado para a Primavera dos Livros. Tudo isso sem muito alarde. Acontecendo de um modo calmo – até demais. Não há desmaios, tiroteios e disputas. Troco correspondência com editores portugueses – o livro para e-book teve sua aprovação. Três leitores – escritores peso – pesados deixaram comentários. Espero que isso facilite a vida dos contos que ansiosamente aguardam para saltar para a página principal do sítio português. Para a editora tradicional preparo o material com cuidado. As cartas de apresentação estão sendo escritas por pessoas de confiança e talentosas. Rigorosas, antes de tudo. Monto com cuidado os contos, reescrevendo alguns trechos. Costuro idéias – porque é isto mesmo, porque não estou criando absolutamente n

Dicas de Leitura - Oswaldo França Júnior* (1936 - 1989)

Um importante autor brasileiro, Oswaldo França Júnior - mineiro - conquistou prêmios como Walmap em 1967 com o romance Jorge, um brasileiro. Alberto Mussa já havia ressaltado nas páginas do Jornal do Brasil a incrível capacidade narrativa do autor em sua coluna de garimpo em sebos de livros que mereciam ser resgatados. Aqui reforço, endosse e acrescento aqueles que valem a pena ser reeditados e lidos por todo grande público. O viúvo, romance, 1965; Jorge, um brasileiro, romance, 1967; Um dia no Rio, romance, 1969; O homem de macacão, romance, 1972; À procura de motivos, romance, 1982; As laranjas iguais, contos, 1985; Recordações de amor em Cuba, romance, 1986; *A morte trágica em um acidente de carro em 10 de junho de 1989, quando voltava de uma palestra em João Monlevade (MG), pôs fim à carreira do romancista mineiro.

Comentário por E-mail de Teolinda Gersão Sobre Conto Publicado em Antologia em Portugal

Se por um lado, recebi um elogio da escritora de Árvore de Palavras - a recusa em ler os contos de novo livro em elaboração se tornou compreensível. Desta vez , nessa prova, ganhei meio ponto. Meio ponto com louvor, é claro. "Caro Mariel:gostei muito do seu texto na antologia.Mas não me leve a mal por não ler os seus contos.Os pedidos que recebo semelhantes ao seu são tantos que,se fosse satisfazê-los,não faria mais nada,porque não teria tempo.Espero que compreenda.Desejo-lhe de qualquer modo muitas felicidades e boa sorte"Teolinda Gersão

O Santo

A fileira de fiéis encordoados em torno da igreja. O santo esplendoroso acima de suas cabeças tocado, ungido, aplaudido e levado à frente até ao altar. Mulheres desmaiam. Homens comprimem os lábios em suas orações. As súplicas dos mais desesperados podem ser ouvidas longe. Mais atrás uma legião de aleijados – todos maltrapilhos – sob o olhar piedoso da multidão à beira da calçada que atira pequenos vidros com um liquido abençoado que alguns dos deficientes espalham pelo corpo como um bronzeador. Os carros não se calam, encobrindo as orações, avançando aos trancos pelos buracos cavados com dificuldade, infiltram-se com movimentos hesitantes, preocupados em atropelar algum infeliz. Os fiéis não cedem um milímetro em seus passos vagarosos, cada um deles carrega a folhinha com a estampa do santo, fitas amarradas ao corpo, cartas e pedaços em cera dos membros restaurados pelo milagre, pela devoção à divindade. Outros, melancólicos, seguem a fila na esperança de alcançarem as graças dos inúm

Trecho de Conversa com Editores Portugueses

Caros Amigos, Negocio com uma editora portuguesa a edição - eletrônica e impressa - do meu novo livro em elaboração. Abaixo segue um pequeno trecho de minha conversação com os meus novos amigos de além - mar. "Meu consolo é ler Aquilino Ribeiro, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Marques Rebelo, Lobo Antunes e outros autores que me fazem companhia no trajeto do ônibus para o trabalho e do trabalho para casa. É um espaço exíguo para caber um sonho, mas certas árvores crescem bem desse modo: em lugares estreitos, mesmo com a pouca luz, ainda que sua forma acanhe-se, alguém lhe descobrirá a beleza - alguma - mesmo que mínima. "