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Mostrando postagens de dezembro, 2013
Devolver Embora contrário a idéia de festa, fui ao casamento do meu irmão, receoso de que a suntuosidade representasse uma ofensa às inúmeras mortes em minha família. A morte é melhor quando só. E para compreendê-la, aceitá-la ou ignorá-la – porque apenas se pode ignorá-la refugiando-se no campo das lembranças -, também é preciso estar só. Em uma solidão tão completa em que a consciência possa dialogar profundamente consigo mesma, capaz de alcançar esse outro, que já não existe. Ou se existe, está entrincheirado nas recordações. Quanto maior a recordação, mais vivo ele estará. Circulará por ela através de nosso próprio sangue. Viajará pelos hemisférios de nosso corpo. Talvez a morte, nesse momento, não exista. E ninguém tenha morrido. A realidade insiste em contrário: a casa vazia, as roupas murchas, um jeito que desapareceu e não voltará mais. A recordação, se não for grande, o afeto, se não for verdadeiro, serão engolidos pela enxurrada de sentimentos negativos e a
O Vingador é Lento ‘O olho na busanfa das moreninhas, das loirinhas não é de hoje, nem dos bailes funk. Liga-se diretamente a discussão a questão racial do país, reforçada pelo sociólogo Gilberto Freire no epíteto: “Branca para casar, mulata para fornicar, negra para trabalhar”. Os gringos logo descobriram o tal negócio. Trataram da exportação da mercadoria. Uma mulata em cada lar, era o lema. E viva a mulata, a moreninha e ao Lan - que não tinha entrado na história’ Mariel Reis ( marielreis@ig.com.br ) Para José de Alencar os índios descidos dos céus mereciam herdar a terra juntamente com os portugueses. Os negros, conforme suas missivas destinadas ao imperador, precisavam ser civilizados. Um paraíso tropical de Peris, Cecis e Manoéis, eis o que habitava a cabeça do romancista, correndo peladinhos pelas faixas litorâneas, fazendo boas safadezas sob a sombra da vegetação abundante e para não desidratar, depois de tanto esforço, uma água de coco. Ning

Poemas Para Menelau Morto

I O Cão ronda a tua casa, sentinela da noite. É o covil das mil injúrias que ele guarda, A soldadesca de sombras o ampara. Ele vigia: A inconsútil matéria assomada das frestas De tuas células, a tua herança exangue, acre, Maldita, erguida entre assassínios, a desdita Língua com que puniste a índole dos homens, Sem piedade ou clemência, sem distingui-los, É por isto a tua miséria, eis a tua sentinela Como adorno de teu espírito, esta corrente Estás enganado, não é ao Cão que ela prende, Esticada presa ao pescoço da gente. II Tu és um assassino, tem as mãos sujas de sangue, Nada te importaria se retirado, se teus membros Fossem esquartejados ou tua cabeça rolasse cortada Pelo frio aço da guilhotina ou tua língua arrancada. Tu és um forte, embora teu corpo não resista mais Às rajadas de vento e não te importaria em morrer Afogado, queimado, assassinado ou levado pelo ar Feito um pássaro de asas amputadas pelo

Formação

Como me tornei escritor Para Cláudio S. Carvalho De minha turma, eu era o lerdo, o lento, o atrasado, o desinteressado ou o colegial problema. Era assim que os manuais de psicologia me classificavam, reprovando o meu desinteresse e minha apatia pelos conteúdos escolares. Apesar de minhas notas desmentirem os comentários dos professores, durante os conselhos de classe, preferiram a certificação de um analista da área para saber onde diabos minha cabeça andava metida durante as aulas. A minha atitude aérea escandalizava os meus educadores e, ainda mais, os meus resultados. À minha companhia, somava-se, inexplicavelmente, a do cara mais bonito da escola e, portanto, o mais popular. As garotas sentiam-se atraídas por ele e aceitavam minha condição de penduricalho do bonitão a contragosto para ficar na companhia dele. O meu humor começou a aparecer, embora tímido. As garotas não se queixavam mais com tanta freqüência sobre a minha estranheza e convencido pelo bonit

Uma Consulta Especial

  Caro Saulo Gomes,   Prefiro a reflexão de que a inclinação instintiva sobre qualquer assunto. Se este extrapola a minha compreensão, procuro fontes para obter o esclarecimento: sejam livros ou pesquisadores pertinentes as questões em que estou absorvido.   Chamo-me Mariel Reis, escrevo ficção, portanto a inquietação faz parte do meu trabalho, a curiosidade e a invenção. Durante uma pesquisa para a escrita de uma novela sobre o tema do duplo, resolvi propor-me um jogo: tomaria as fotografias de meus pais e tentaria localizá-los em um tempo e espaço diferentes do que habitavam, ou seja, a atualidade. A minha pesquisa, inicialmente, mostrou-se infrutífera. Adiei o projeto da novela. Fui tomado por outras preocupações: financeiras e de saúde. Outras linhas estabeleceram-se em minha vida.     A idéia ficou entre as muitas anotadas em meu caderno para desenvolvimento. Certo dia, recebo uma ligação, do outro lado da linha uma pess