O que vi e falei nas eleições durante o segundo turno
Batuco
rápido a notícia. A rapaziada chia ao ser retratada. Cavaquinho,
pandeiro e tantã. Tiaguinho. Tá vendo aquela lua que bilha lá no
céu. O alvoroço das mulheres no refrão. A cerveja espumante para
os outros. Para mim, água sem gás. Minha mulher arrisca uns
passos. Salgadinhos. A música estanca. O pandeira vira prato.
Chovem moedas. Reparo: um adesivo. Malandro vota em malandro. A
mocinha conosco, à mesa, vira-se e grita: Dilma! O pagodeiro
contrariado: “A gente vota em malandro, moça. Não em marginal. Eu
sou Aécio. Boquiaberto, engoli logo a comida. E corri para o cinema.
A sessão não seria mais fantástica do que o que foi visto.
Buxixo, Tijuca,
quinta-feira
Em Ramos,
Zona da Leopoldina, em uma das estações do BRT, estava escrito em
vermelho e, letras garrafais: NOVA ORDEM CULTURAL. Em minhas
discussões, denuncio a estratégia da imprensa que através de
depoimentos julgados isentos de determinados comentaristas quer
alterar a situação estrutural do país. Em toda minha graduação
sempre tive atenção ao fenômeno da comunicação de massa e
técnicas empregadas para a promoção de certas ideias dentro da
sociedade. A minha atenção para o escrito fora despertada pelo
motorista que julgou o grafite unicamente uma ação de
vandalismo. Quando expliquei a ele do que se tratava, pasmado,
prometeu que iria prestar maior atenção ao movimento das ruas e
as inscrições em sua pele. Divido com todos o artigo que repassei
ao motorista. E para aqueles que não compreenderam o final de um
dos meus textos em que afirmei que lamentava uma educação que não
desmontava esquemas cognitivos que transmitiam ao indivíduo a
sensação de pensamento, agora parecerá mais clara minha ideia.
Quem nunca foi apresentado à teoria da Janela de Overton, aqui
está:
Muitas
das vezes, os livros dispensados pelos moradores quando se mudavam
pertenciam à Bibliex – Biblioteca do Exército. Em Pavuna, o
espírito das publicações se combinava ao das ruas, denominadas
por inúmeros sargentos ilustres ladeados por uma tradição romana
ligada à magistratura: Sólon, Catão e Dracon. Em discussão com o
poeta Reinaldo Ramos, lembramos Gramsci, fundador do Partido
Comunista italiano, célebre por suas Cartas do Cárcere, que
dispunha de uma teoria adversa a de Lênin. O líder russo enfatizava
o caráter militar na expansão da ideologia comunista, enquanto
Gramsci o encarava inadequado às democracias ocidentais, preferindo
a estratégia cultural. Voltando às vacas frias. Recordo que um dos
livros se chamava A REVOLUÇÃO GRAMSCISTA NO OCIDENTE, SÉRGIO
COUTINHO. Quando o li, a primeira vez, o considerava conspiratório
e catastrófico com os diagnósticos elaborados para o futuro. A
conversa com o poeta Reinaldo Ramos, o cruzamento de in formações
recentes e uma vontade desobstruída de arrogância esquerdizante
parecia-me que poderia ter usufruído mais do livro. É uma leitura
para corajosos, sem postura doutrinária maior do que o bom senso e
com senso crítico maior do que cartilhas, frases feitas e palavras
de ordem – de um lado ou de outro da sociedade.
Outubro/2014
Comentários