Acerca de um comentário

O blogue recebe poucos comentários. Entre eles, às vezes, coisas surpreendentes se insinuam. Não por representarem elogio – o que é comum -, mas por pontuarem com sensibilidade aspectos que se não me dizem respeito, ligando-se pouco em ou em nada, à minha personalidade, revelam erudição dos leitores. Em Dez anos de Prosas Cariocas, recebo com surpresa a afirmação “Singular mistura de Lima Barreto, Rubem Fonseca e Lucien Chardon de Rubempré...” Se os dois primeiros objetos da comparação são familiares, compreensíveis para um leitor médio, o último termo – a personagem ficcional de Balzac – assinala a percepção diferenciada do comentarista cuja identificação não é possível. Lucien Chardon de Rubempré, personagem de Ilusões Perdidas, mostra que o, a comentarista teve contato com a Comédia Humana ou de um dos episódios que a compõem. Em seguida, em nove palavras, traça a crítica a respeito do livro aniversariante: “Alguns textos são bons, mas há muita, muita viagem”. A sentença, embora lacônica, expressa opinião não apenas de uma leitora ou leitor atento, mas disposto a ironizar, porque emenda há muita, muita viagem. Se o livro atravessa a geografia carioca, conclui-se normal a existência de deslocamentos. No entanto, aqui, o valor do termo viagem não é positivo, o,a comentarista dispõe dele como substituto de equívoco, ou coisa despropositada. O advérbio, derivado de adjetivo, classifica meu posicionamento para a fotografia aérea retirada pela jornalista, somando à disposição, uma ambição de liderança, como constatação psicológica do observador (a), explicada, em parte, por sua experiência particular e constatação aproximada, de que meu constante movimento me fizesse assumir tal papel. Na realidade, neste livro, Marcelo Moutinho e Flávio Izhaki, representam os arregimentadores para a empreitada. Ali,embora a leitura do leitor (a), sou um seguidor, embora minha tendência natural, presente desde sempre em minha vida. Percebe-se por todo o comentário uma carga afetiva, uma ternura que eletriza e transmite-se ao destinatário da mensagem. Lisonjeado pela comparação com Lucien de Rubempré, admito que minha importância e longevidade literária distanciam-se da criatura balzaquiana, garantida pela eternidade. Quanto a minha tendência à liderança, ela existe, ao longo de minha atuação existencial, o que não me torna um Napoleão das letras, entretanto, permite-me uns vôos. Talvez possa aceitar esse elogio. Lima Barreto e Rubem Fonseca, dois autores importantes para a literatura brasileira e sua renovação, são alvos de minha escrita juntamente com Marques Rebelo, João Antônio e Antônio Fraga, não o nego. Por não assiná-lo, ao comentário, nunca saberei quem o escreveu para agradecê-lo, de fato. Coisa que o faço agora.



P.s.: Muito obrigado por se ocupar desse pobre escriba.

Comentários

Anônimo disse…
Deixe de viagem, Francisco...

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