Minha Educação

À minha educação deficitária juntei esforços para corrigi-la o melhor que pude. Tornei-me, muito jovem, leitor. Apliquei-me aos livros, ao estudo da língua, à literatura. No colégio primário, Otávio Kelly, havia uma estante de livros do qual me ocupava constantemente. O hábito perseguiu-me, tornei-me leitor, compulsivo. As lacunas educacionais, sem modéstia, diminuíram bastante. O acréscimo de ter acesso ao nível superior, aperfeiçoando minhas inclinações, favoreceu-me o espírito, apesar de escorá-lo em valores equívocos. Em meu acesso à universidade não existiam as políticas de cotas, nem o otimismo petista de mobilidade social ou a tal classe média alardeada. A única forma de acesso à faculdade era o vestibular. Atravessei tudo isso, cioso de minha tarefa: desasnar-me. O herói grego, Hércules, deveria ter entre os seus trabalhos, esse de que me ocupei. Tenho certeza de que preferiria mil estábulos, mil leões de Nemeia... O reconhecimento de meu esforço intelectual, apesar da legitimidade de sua busca, causa-me constrangimento quando elogiado. Ontem, na rede social, escrevi uma postagem sobre a minha candidata à presidência, Marina Silva. A repercussão, mínima. O ambiente das redes sociais parece respirar Dilma, qualquer outra ambição parece ilegitima. Destarte, a surpresa pela rejeição não me animava a contar com a compreensão dos leitores, menos ainda com a aprovação do conteúdo postado. E assim reduzido, supunha, meu monólogo seguiria sem plateia. Um engano. Além de ter sido minha nota compartilhada, fui chamado de brilhante pela articulação nela apresentada. Na universidade, não era raro o tratamento,embora minha desconfiança de troça. Não era. Recebi, tempos depois, convites para estudos aprofundados em minha carreira realizado pelos professores dos quais desconfiava-, pelo visto sem razão. Não debelei toda a treva ainda de meu íntimo e por maior empreendimento, talvez não o consiga. Embora mantenha deficiências, não são tão profundas como eram. O meu anseio de anonimato contrasta com alguma ambição literária, menor hoje. A um homem leva-se toda uma vida para corrigir-se, muitas das vezes sem sucesso. Um de meus doze trabalhos foi ignorar a dificuldade e o outro seguir em frente. Deu em pouca coisa, em pequeno sítio. A botânica dele toda própria, sem espécimes estrangeiras quase, nascidas de um cultivo difícil, mas compensador.  

Comentários

Anônimo disse…
Valeu, Peter Kien

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