#1 Mocinha do ramal Central – Santa Cruz (série retratos do trem)


Os incômodos corporais, um artificio. O vestidinho vermelho e curto com pequenos corações estampados mostram uma predisposição amorosa. Um casaquinho negro sobre os ombros, óculos escuros para disfarce dos olhos... Distraída, movimenta-se. Desnuda as coxas e todo o interior da roupa. Desvio os olhos. Ela não aceita ser retirada do centro das atenções. Estica as pernas, brinca com os pés. E o vestido, antes comportado, sobe uns centímetros aflitivos. Simula tremor, a mocinha apreensiva: responsável por um destino qualquer ignorado. Ritmicamente um dos pés transmite ao piso uma mensagem indecifrável. Escreve com dedos magros e nervosos alguma boa nova. Levita, nesse momento, o quadril – sentada em brasas? O coque no alto da cabeça – cabelos negros e lisos -, uma altivez repleta de cinismo. Parece dizer: “Não, não quis seduzi-lo, nem abri minhas pernas. Sou discreta demais. Elegante”. Ninguém duvida. Ou quase. Somente o mocinho sentado à sua frente.


13/10/2014

escrito no tablet

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