E na aula de hoje... Eça de Queirós

"As paixões proibidas parecem o repertório do romancista Eça de Queirós. A polêmica cercava-o como ficcionista. Escandalizava a opinião pública, chocava os bons costumes e pertencia ao índex da Igreja Católica pelo anticlericalismo de suas obras e ideias. A leitura de determinados romances do escritor era vedada àqueles com pouca maturidade, principalmente aos mais jovens. Os livros ocupavam as prateleiras mais altas das estantes. A dificuldade de acesso simbolizava o perigo da leitura do autor português. A corrupção da juventude por suas ideias imorais, tornavam-no uma espécie Sócrates lusitano, ainda que sem direito a um tribunal ou a cicuta..."

"Embora a crítica não enfatize, Eça de Queirós parece herdeiro não de um romance certo inglês, como alardeiam influência em Machado de Assis, contudo me parece óbvio, como francófilo, que toda a bossa da prosa do autor de Mandarim tenha saído de Voltaire, sobretudo a mordacidade e violência contra instituições como a Igreja. É certo que não é um monopólio voltariano o anticlericalismo de que estava repleta toda Revolução Francesa e seus correligionários e sua insubordinação pode conter fatores psicanalíticos derivados de uma reação a sua orfandade. "

"A cleptomaníaca do conto Singularidades de um rapariga loira talvez sintetize o repertório romancesco de Eça de Queirós e toda sua produção textual. Lá estão as necroses – heranças do romantismo – que não se desgrudam de um autor dito realista. Em minha concepção, tanto romantismo como realismo, como escolas sobre a realidade, não se separam. Documentalmente são complementares e não oposições como nos fazem sentir o escalonamento do períodos literários. Se investigados os métodos, tanto de um quanto de outro, baseados em na tal metodologia cientifica, ambos se nutrem de uma mesma matriz. É uma rua que na próxima esquina muda de nome."
  

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