Entrevista com Luiz Horácio Rodrigues sobre lançamento do livro DORALINA

         Lançamento previsto para o dia 28 de agosto, às 19 h, na Livraria Argumento do Rio de Janeiro, o romance Doralina, de Luiz Horácio Rodrigues, abre uma nova perspectiva dentro da ficção do autor, antes marcada pelo fantástico, agora com contornos realistas. Abaixo a capa do livro ( em convite com chamada para o RS) e uma pequena entrevista com o autor falando sobre as motivações e a realização do livro.


Qual foi o impulso inicial para a escrita de Doralina?

O impulso inicial foi a morte, essa desgraça inevitável.Não acredito em céu, tampouco inferno.No meu entender vida boa é a que desfrutamos, mas sempre machucada por essa desgraça, a morte.


Foi a morte que me acompanha efetivamente desde a morte de minha filha quando eu tinha 22 anos, a seguir a morte de minha mãe.Foi a presença dessa semeadora de tristezas que me fez escrever Doralina. Infelizmente somos concessões da morte.Só me resta escrever.

Doralina é um documento, além da própria ficção, com fortes matizes autobiográficas. O que o levou a passar a limpo sua relação materna?

O vazio, a ausência que minha mãe deixou, que jamais será preenchido. Mas não passei a limpo, passar a limpo significa fazer melhor e eu, infelizmente, não posso mais fazer isso.
  
Se a força da ficção kafkiana é ligada a figura paterna e todos os seus desdobramentos relativos a autoridade como a figura materna se presentifica em sua ficção?

Nunca senti diferença no amor recebido de meu pai e de minha mãe. Trata-se do amor fundamental. Dizem que a amamentação é fundamental, decisiva, para a saúde da criança.Para mim o fundamental é o amor. Meu pai está no meu primeiro livro, minha mãe também, o título do livro é o nome de minha avó paterna, Perciliana, todos representam o amor que me sustenta.


As relações familiares estão presentes em seus romances. Elas são ainda um laboratório para a ficção?

As relações familiares representam o que está mais a mão, mais próximo, o que está dentro de nós e ao mesmo tempo nos envolve. Basta observar. Fonte inesgotável.


Quais textos o influenciaram para a elaboração de Doralina?
 
Parece arrogância, mas não houve influência.Após escrever Doralina li Carta a D, de André Gorz e A doença da morte,de Marguerite Duras. As ditas "escritas de si"sempre contaram com minha simpatia.
  
A literatura brasileira contemporânea afastou-se das questões freudianas. Parece não enfrentá-la, ou se o faz quase a transforma em livro de autoajuda com medo da reação do público. Retomar, em Doralina, esse viés causou desconforto? Receio da perda do público fidelizado pelos livros anteriores? Como você vê a intromissão do patrulhamento do politicamente correto do mercado?

Certos teóricos afirmam que é fundamental pensar no público que se pretende atingir ao começar a escrita de um livro.Não penso no público, nunca pensei, não dessa forma maniqueísta. Penso que preciso oferecer algo de qualidade, é assim que penso no público.Tenho meus conflitos, minhas dores e daí surgem as histórias. Tenho um livro infantil, inédito, que é fruto da dor da ausência de minha filha mais nova, Luísa.Ela vive no Rio de Janeiro e eu em Porto Alegre.
Está se confundindo politicamente correto com polidez, educação. Vem daí essa desgraça que a mim não diz nada.Falta vida, viver, para esse povo que goza inventando essas besteiras.

Em Doralina, constata-se uma mudança de rumo ficcional. O relato realista assumido, a perspectiva narrativa mais pessoal, entre outras características. O que esperar daqui para frente diante desse novo enfrentamento com a narrativa?

Acredito que em Doralina, talvez por se tratar do nome de minha mãe, o relato parece mais realista. E até pode ser, no entanto em meus livros anteriores essa característica, forte, se faz presente.

O próximo livro,"Viagem ao interminável presente dos condenados" segue a mesma linha.




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