Batman versus Superman
Tinha
prometido a mim mesmo não ser picado pela curiosidade em relação
aos novos filmes de super-heróis produzidos pela indústria
americana. Não me contive. As franquias de dois heróis, para os
quais escrevi roteiros, me interessam frontalmente: Capitão América
e Batman. Se Capitão América não é tratado como deveria, Batman o
foi. E será refilmado. Não toda a saga, mas um episódio em que
enfrentará o Superman, alusão a uma grafic novel de Frank
Miller. Espiei as primeiras imagens que circulam na internet e as
achei ótimas. O figurino de Batman não o trai. O batmóvel parece
ter se distanciado mais da realidade. Embora todo o resto, através
de fotografias, pareça sóbrio, não constituirá – isoladamente
– o filme. Ben Affleck (Argo) interpretará o homem-morcego, o
roteirista será Cris Terrio (Argo) e o diretor Zack Snyder
(Superman). Argo, filme dirigido, produzido e estrelado por Affleck,
mistura drama e suspense, possui fragilidades em seu enredo e temo a
repetição de certo ufanismo e distorção histórica – ainda que
em termos ficcionais – para a narrativa dos dois cavaleiros
americanos. O tipo de narrativa encarnada por Batman carregará quais
vicissitudes? E Superman o que se personificará através de sua
imagem? É um problema delicado para o roteirista e o diretor para
não esbarrarem em maniqueísmos ou em ideias preconcebidas. Cris
Terrio não me parece adequado para solucionar o impasse com seu talento limitado regido por uma cartilha repleta do american way
life. Nesse sentido, os
quadrinhos parecem ter avançado em mentalidade com as modificações
engendradas – um homem-aranha negro, uma deusa do trovão e o
casamento homossexual de
um herói – mesmo secundário. A ousadia dos argumentistas dos
quadrinhos poderia se presentificar na dos roteiristas dos filmes,
compreendidas certamente as razões monetárias do filão. Não
exigimos um filme de arte, mas um produto que não subestime nossa
inteligência. Ang Lee compreendeu isto muito bem com Hulk, Sam Raimi
com Homem-Aranha e Batman com Christopher Nolan. O confronto entre
Batman e Superman sempre me pareceu tolo. Alfred, brilhantemente
representado por Cain, substituído agora por Irons, é outra
preocupação. Em Nolan, o tutor de Wayne ganha contornos sombrios,
possui uma biografia repleta de horrores, não apenas gravita como
uma babá em torno do milionário. E agora, como será? E sua
autonomia? Prometi que não me envolveria com a discussão, mas ver
meus roteiros preteridos por bobagens como o primeiro filme do
Capitão América apenas para atingir um público de nascentes pelos
pubianos não me agradou em nada. O meu roteiro mantinha a essência
da personagem, não eliminava a ação, enfim, todos os elementos
importantes para a indústria cinematográfica eram contemplados. O
fiasco passava longe, a quilômetros dele. Não o examinaram, talvez
não tenham mesmo rompido o lacre da correspondência ou acharam
curioso que um sul-americano se aventurasse, sem nenhum pistolão, a
escrever a sinopse as primeiras trinta páginas para sugestão, assim
inopinadamente. E o meu roteiro começava com uma longa entrevista de
um Capitão América envelhecido e descrente, aposentado, substituído
por um outro ícone americano mais jovem e tolo, como outrora ele
era, com digressões sobre as campanhas intervencionistas de seu país
no mundo e a decadência do mundo americano após a tomada chinesa do
poder geopolítico, em uma América do Norte, insulada, sofrendo as
crises de um crack da Bolsa de 29 em um futuro cada vez mais vigiado
e assolado pela escassez. O meu Capitão América envelhecido sería
Clint Eastwood e o repórter da New Yorker, para escrever o perfil do
ex-combatente, seria Philip Seymour Hoffman (morto), que encarnou Capote no
cinema. Esperemos....
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