O caso Alexandre Soares Silva

As comunicações dominicais de Alexandre Soares Silva possuem uma leveza ou uma disponibilidade de espírito possível apenas a um sujeito rico retirado do mundanismo paulista ou com uma inequívoca iluminação obtida com iogue em um ashram na terra dos bandeirantes em que feitos assim são comuns a um grupo escolhido.

Outro ponto prejudicial às comunicações é a recepção manifestada por uma parcela dos assinantes com a intenção de popularizá-las. Em uma delas, a contraposição do romance realista com o romance de fantasia, uma observação correta sobre a transcendência do último sobre o primeiro pela presença do sobrenatural, é estragada. Alguém disse, em algum lugar, que a literatura desse tipo é otimista pela presunção de um mundo espiritual, ainda que terrível.


A hipótese da riqueza de Alexandre Soares Silva não é absurda. A recorrência ao termo aristocracia em suas entrevistas reunida a gola rolê - prefiro a denominação chique turtleneck - peça presente no vestuário masculino europeu desde o século XV, pode ser um aceno discreto, sem ser desprezível. Também é possível imaginá-lo em um ashram com um casaco incrementado em exercícios complicadíssimos de meditação auxiliado pelo Maharishi de plantão.


Uma experiência ordinária para privilegiados: Huberto Rohden, em Minhas Vivências na Palestina, no Egito, na Índia, descreve seu périplo espiritualista em busca de uma filosofia cósmica inclusive com a presença de um guru equivalente ao sábio secreto de Silva: “Lá chegando, indaguei por Swami Satyananda e fui levado a uma casinha modesta, em cujo interior encontrei um homem de uns 80 anos, sentado sobre uma cama simples, pois estava doente e se sentia muito fraco. Seu corpo era de cor cera e tão magro que me parecia transparente. Entreguei-lhe a carta de Swami Premananda e ele me tratou com extrema bondade.” O descrédito do método espiritual de Rohden é a sua longeva cabeleira em contraposição à calvície de Alexandre... Em termos de mística, com certeza é uma vantagem. Nesse ponto, unem-se as duas perspectivas iniciais - a da riqueza e a da iluminação.


Mais um ponto incômodo, desdobramento do anterior, resultante da adulteração do universo do missivista: a excessiva seriedade com que tudo é encarado pelos leitores sempre em busca de uma experiência significativa. É o desespero metafísico. A transmissão encapsulada de humor é o modo menos repugnante de abordagem de uma desordem, não só material. Nessa última newsletter, o conselho Saia escrevendo desse jeito até acabar toda a estupidez dentro de você ultrapassa a dimensão estética: é a viabilização da essencialidade de nossos atos. Lembrei-me da história do monge Mahakashyaupa com o riso. O meu espírito se tornou grave, não posso ir além...


















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