Um velha história brechtiana
Quando
jovem a inflexibilidade do governo cubano me parecia uma disposição
correta e o Estado policial necessário à manutenção do regime
comunista – não o denominava ainda castrista ou autoritário. Na
juventude, o monopólio da força não possui relativizador: ou se é
de determinada maneira ou não se é. Como se a natureza pudesse ser dobrada ou se a aplicação de sua jovial presunção influísse,
decisivamente, no curso de um mundo predisposto. Talvez a violência, a
qual a juventude se dobra, seja uma projeção de forças paternas
plasmadas em termos grandiosos como Estado, a Lei, a Revolução e a
necessidade de debelação do próprio espírito das imposturas ou
uma maneira de corrigir alguma depleção. Aprendi, com o
envelhecimento, que o embate entre o cultural e o biológico –
anímico – compõem um forte desafio, mas é imprescindível a
liberdade para travá-lo. E a inflexibilidade era uma burrice
canhestra de minha juventude. A heroica Cuba, com os avanços da
medicina e a erradicação da fome, resta saber se os benefícios
médicos são estendidos a todos e não apenas a certos chefes de
Estado ou se a fome erradicada é um dado real como parecia no
Brasil, abriga, como uma Suíça, arrogando-se neutralidade, o
negociador-chefe das Farc em suas tentativas de anistiar o grupo
terrorista colombiano com o auxílio de chefe de governos ou
autoridades eclesiásticas. Não é preciso a enumeração dos crimes
cometidos pelo grupo guerrilheiro, nem a violação dos direitos
humanos praticados pela organização seus sequestros e
assassinatos. Anistiá-la, a Farc, equivale abrir a porta da frente
das prisões para a saída de assassinos e outros criminosos de alta
periculosidade. A infestação da América Latina de grupos radicais
de esquerda é anacrônica sem um contexto histórico para
ampará-los, isto é, as ditaduras que se espalhavam pelo continente.
A gradativa migração das organizações paramilitares de esquerda
para a política me pareceria, durante a transição das décadas de
70 para 80, com a libertação dos prisioneiros políticos, como
assim são denominadas vítimas de suas ações, correta, embora
inaceitável porque grupos dessa natureza não compreendem a natureza
de uma sociedade democrata, mas seria uma atitude razoável de
amadurecimento. O exemplo de Cuba, com a proteção de grupos
criminosos, embora a posição oficial pareça a do exercício da
diplomacia para a resolução de impasses criados pelo imperialismo,
não é positivo. Somos todos compassivos quando não sequestram,
estupram ou matam nossas mulheres e filhas. Enquanto a violência
está no quintal dos outros… enternecidos com as bandeiras
tremulantes da qualquer revolução aprovamos suas chacinas e seus
mandatários.
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