Democracia, um negócio fora de moda


Em nota divulgada no portal Ig, através do link:< http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/08/beth-carvalho-repudia-uso-de-sua-musica-em-ato-de-domingo-minha-voz-e-meu-samba-nao-os-representam/>, a intérprete de sambas Beth Carvalho repudia a utilização da música “Vou festejar”, de autoria de Jorge Aragão, Neoci Dias e Dida, na passeata realizada dia 16 de agosto pelo grupo#Vem Pra Rua. Além do repúdio expressado pela cantora, critica também a descontextualização do uso da composição lançada em 1978 como apoio ao movimento das Diretas Já e da abertura política do país. Beth Carvalho, para não restar dúvidas, lista suas preferências políticas em um trecho abaixo reproduzido:

Para que fique bem claro, eu, Beth Carvalho sempre me posicionei ao lado de líderes como Che Guevara, Fidel Castro, Hugo Chavez, Leonel Brizola, João Pedro Stédile. Inclusive, a música “Vou Festejar”, gravada primeiramente em 1978, sempre representou movimentos de esquerda e de abertura política como as Diretas Já e o segundo turno de Lula contra o Collor em 1989”.

O elenco de políticos delineado pela intérprete é sugestivo sobre seu posicionamento ideológico. João Pedro Stédile, líder do MST, ameaçou a ordem democrática caso o impeachment de Dilma Rousseff fosse à frente com a convocação de um exército paralelo que sairia em defesa do mandato da presidente.

Leonel Brizola, cunhado de Jango, com atuação ambígua durante o turbulento mandato janguista, devido a ambição de subir à presidência, é um político enigmático. 

Brizola garantiu a posse do presidente João Goulart e organizou o plebiscito que lhe devolveu os poderes quando era limitado por um parlamentarismo que tinha como primeiro-ministro Tancredo Neves. Se a garantia da legalidade foi mantida por suas ações, empossando e dando poder ao novo presidente, suas inúmeras interferências podem ter precipitado o governo, frustrando, por meio democrático, sua ascensão ao cargo almejado.

Quando o golpe militar é desfechado, Leonel Brizola organiza o Movimento Nacionalista Revolucionário, com apoio cubano, para o desenvolvimento da guerrilha no país. A inteligência americana via nele a principal ameaça ao regime de exceção do país <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2013/05/documentos-apontam-que-cia-via-em-brizola-a-principal-ameaca-a-ditadura-4127255.html>.

Em outra parte da nota, Beth Carvalho afirma que seus mestres culturais eram negros e pobres: Nelson do Cavaquinho, Cartola e Candeia. Talvez a referência ali presente seja uma crítica direta a elite branca, maioria dos participantes das passeatas. E finaliza reprovando a homofobia.

Especificamente em relação a homofobia, o caso cubano é relevante para que a cantora Beth Carvalho se lembre do tratamento dispensado por Fidel Castro aos homossexuais:< <http://www.ggb.org.br/cuba_livre.html>>. A posição foi revista, e regularizada, por Mariela Castro, filha do atual ditador Raúl Castro, através de  um decreto (<http://www.cubalibredigital.com/index.php?option=com_content&view=article&id=7762:a-dura-vida-dos-homossexuais-em-cuba-e-destaque-em-festival-de-cinema-do-rio&catid=28:quaternaria&Itemid=25>). É inadmissível a violência, de qualquer espécie, e principalmente contra as minorias seja lá qual for regime; embora nos governos de teor democrático seja possível uma reação contra o despotismo e nos totalitários, não.

O historiador marxista Eric Hobsbawm, em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, sintetiza toda a contradição ideológica:

GMN : O senhor lamenta ter apoiado os governos soviéticos ?
Hobsbawm : “Não lamento, porque nunca vivi na União Soviética. Quem, como eu, apoiava os governos soviéticos não estava pensando na Rússia, mas em nossos próprios países e no resto do mundo. Porque,para o resto do mundo,a existência da União Soviética, ainda que fosse ruim para a Rússia, teve um desenvolvimento positivo. Sem a União Soviética,não teríamos vencido a Segunda Guerra”.



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