História dos Movimentos Sociais - Nota 8 - Autor: Mariel Reis
A inserção de novos atores dentro
processo social e a inversão da ótica histórica construída dentro do viés
positivista em que a existência do herói/vencedor ditam a versão do fato
histórico caem por terra em Questão social e historiografia no Brasil do
pós-1980: notas para um debate, de Ângela de Castro Gomes que defende uma
revisão historiográfica de certa matriz de pensamento sobre as relações de
dominância na sociedade brasileira, propondo uma interpretação que dinamiza a
relação política entre dominantes e dominados.
Em outras palavras, Ângela de Castro
Gomes defende que “entre seres humanos não há controles absolutos e
“coisificação” de pessoas, e que, nas relações de dominação, os dominantes não
“anulam” os dominados, ainda que haja extremo desequilíbrio de forças entre os
dois lados”, pontua. Em outros termos, descarta-se a idéia de escravidão
como sinônimo de uma disciplina social capaz de manter enormes contingentes
humanos por sucessivas gerações como estrangeiros; isto é pessoas sem nexos
sociais (relações culturais, parentais ou qualquer outro tipo de aliança).
Ângela de Castro Gomes enfatiza a
revisão historiográfica ocorrida no Brasil, a partir da década de 1970,
identificando-a com a renovação da história política em sua articulação com a
história cultural. Representa as características dessa produção, a começar por
aquilo que ela é rejeitado tanto teórica quanto empiricamente: os pressupostos
teóricos consagradores de uma análise dos processos sociais marcados pela
linearidade e pela previsibilidade decorrente da adoção dos modelos de matriz
estruturalista .
Desprezando os esquemas e as
verdades preestabelecidas, a análise dos processos sociais passou a se abrir,
conforme cita Ângela de Castro Gomes, à intervenção dos atores neles presentes,
abandonando-se “modelos que trabalham com a relação de dominação – no mundo
econômico, político ou cultural - a partir da premissa de que o dominante é
capaz de controlar e anular o dominado”.
A década de 30, durante o Estado
Novo são investigadas as relações norteadoras do trabalho já explicitadas com
apontamentos valiosos que se não somam novidade ao cerne da discussão
estabelecida, reorientam nossa visão para a ponderação com que encerra sua
reflexão de que os “trabalhadores do Brasil, desde o século XIX, foram
sujeitos de sua História, estando longe das figurações de
passividade/inconsciência ou de rebeldia radical”, como é salientado dentro
do texto. Desta forma, a contribuição de Ângela de Castro Gomes à construção do
pensamento social brasileiro adiciona uma nova toponímia ao evento histórico e
seu desdobramento.
Fonte de
Análise: Questão social e historiografia no Brasil do pós-1980: notas para
um debate, de Ângela de Castro Gomes (ensaio)
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