Convergências e assimetrias
O
jornalista Jânio de Freitas, do grupo Folha, levanta a lebre sobre a
passividade de José Dirceu diante de seus adversários. A ponderação
de que o ex-ministro da Casa Civil de Lula e mentor do mensalão
poderia ter fugido e permanecido na clandestinidade como o fizera
durante o período ditatorial é pertinente e para José Dirceu, com
o treinamento recebido na guerrilha em Cuba, isto não representaria
dificuldade. A passividade com que foi colhido por seus algozes,
segundo a suspeita de Jânio de Freitas, parece pertencer a um
estratagema conhecido apenas do novo acusado da Operação da Lava
Jato. A observação, interessante, relaciona-se com a minha
indagação no artigo O Bom Cabrito. Diante das inúmeras crises, o
panorama eleitoral de 2018 aparece cada vez mais sombrio para o
Partido dos Trabalhadores. O recuo – embora a atitude contrarie o
projeto de poder esb0çado através das licenças éticas do partido
e se choque com a ambição de Lula ou Mercadante – este último o
maior aspirante a cadeira presidencial – para
uma posição coadjuvante com a ascensão aliada para o papel
principal não pode ser desprezada como maneira de atuação nos
bastidores enquanto se reestruturam o partido e lideranças. Como
afirmei:“Dilma,
com todos os seus erros, precisa estar lá para municiar a oposição
e fornecer dados inequívocos para a deposição do PT de uma vez por
todas”,
portanto
nada de impeachment. É necessário tanto ao Partido dos
Trabalhadores quanto para o país sua estadia no poder para a
relativização do conceito sobre um governo de esquerda e suas
possibilidades reais. E a direita, gêmea do processo, sempre
enfezada, quer, em meus argumentos, sua legitimação. O que não se
dará, porque essa gêmea –
enfezada
e feia –
não pode, a seu tempo, quando encarnada no regime de exceção
militar, provar que é superior. A oposição, no Brasil,
excetuando-se nos golpes, quando se há realmente uma polarização,
é sempre o irmão birrento que não quer dividir travessuras; nunca
é o menino da casa do outro lado da rua, estranho e de
olhar
esquivo, cujo desprezo é a tradução da pretensão de
nunca compartilhar o playground.
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