Eu e a Literatura

A possibilidade de Cosmorama vir à luz esse ano é grande. Mesmo com contratempos de ordem financeira, porque nesse país não existem editores que não querem uma contrapartida para publicar um livro de poemas, alegam ser um empreendimento de risco, mesmo que o dito cujo venha recomendado por A, B ou C e embrulhado em ouro. Isso não me preocupa ou afeta. Persistirei. A minha editora,se ainda posso chamá-la assim, me sugeriu uma poupança para financiar o livro como uma forma de materializá-lo, disse que me fará bem porque será um exercício de paciência e perseverança. Pois bem, não tenho nenhuma dessas qualidades. Ou melhor, se as tenho, aproveito-as em doses mínimas, porque minha teimosia substitui a ambas e o carro anda. Mesmo com dificuldade ou com certo atraso nos pontos onde deveria estar,dando carona ou apenas me entretendo vendo o pôr do sol. Em suma, o livro irá acontecer: ou por milagre – porque alguém pode se comover com ele, ver o que muita gente de talento enxergou e perceber que o escritor não tem tostão para empatar na jogada; ou por meio de panfleto, mimeografado – a exemplo dos poetas da estirpe do Chacal, porque se deu certo com ele, comigo não daria? Não vejo motivo. A sugestão de se pagar um livro para um sujeito que paga aluguel, escola da filha, passagens de ônibus, que não tem declaração de renda, porque se tivesse o governo se envergonharia de cobrá-lo, é uma necessidade supérflua, que pode ser adiada para um tempo de vacas gordas ou em um tempo de sorte, porque a mega sena não pode sair apenas para caipiras brochas assassinados por louras que não conseguiram nem degustar e que possuem amantes em algum paraíso costeiro do Rio de Janeiro. Isso se Deus estiver mesmo lá em cima, vendo quem merece ou não. Minha pretensão às vezes chega a raias de loucura, vejam só! A editora tem boa índole, talvez não esteja ainda convencida que lucra para a posterioridade, que postumamente o gesto de me fazer o livro será biografável, porque não me furto em afirmar que tenho um lugar nessa estante chamada literatura brasileira. Não sei exatamente em que ordem, mas escrevam, estarei nela junto com alguns poucos.

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