Conto Circunstancial
Zilá batia o bolo.
O pote de fermento virado sobre a mesa. As mãos cobertas de massa. Turvaram-se os olhos em duas sombras. Pássaros pavorosos que esvoaçavam do seu íntimo. Não poderia recolhê-los. Debatiam-se nas panelas areadas. Voavam sem caminho. No ar, riscaram um vôo enforcado.Incomodados com a luz. Refugiaram-se novamente sob a sombra dos olhos turvados.
Untou a forma com manteiga. Verificou a temperatura do forno.Ligado há cinco minutos. Saíam espadas de seu coração ferido.Por que ele não me disse? Pensou. Não acudia resposta.
O cão olhava enfarado para as pernas de sua dona, movimentando-se de um lado para outro. Uma agitação estranha. A casa vazia. Um silêncio caminhava com pés de anjo pelos cômodos. A madeira dos móveis estalava. O calor discreto subia pelas coisas.
Ele era casado, ponderou Zilá. Casado. Afogueava-se. Um caldo quente e escuro entornava dos seus lábios, as palavras não lhe resgatavam do estranho sufocamento que sentia. Tirou a blusa para desalojar do corpo aquela sensação. Os peitos enormes caíram por cima da barriga. Nêga não é motivo para aborrecimento. Como não é? Não. Não faça besteira. Expulsou-o do barraco. A véspera do aniversário do mais velho. Dele. Ela mesma não tinha filhos. Dois filhos, como você me esconde uma coisa dessas. Não quis colocar questão. Ah, não quis. Então veria.
Se tinha filho, também tinha mulher. Se tinha mulher, era porque havia traição. A massa estava no ponto. Faltava apenas um ingrediente. Moço, você tem chumbinho?. Claro, madama. Era o aniversário do mais velho. Resolveu mandar um presente. Bateu com força. Ele entrou na cozinha. Está com uma cara muito boa. Comentou. Zilá, quieta, aquiesceu. Que pontinhos pretos são esses?. É chocolate. Como se chama esse bolo?. Formigueiro.
Os olhos pontilhavam o corpo do mais velho, coberto com a correição.
O pote de fermento virado sobre a mesa. As mãos cobertas de massa. Turvaram-se os olhos em duas sombras. Pássaros pavorosos que esvoaçavam do seu íntimo. Não poderia recolhê-los. Debatiam-se nas panelas areadas. Voavam sem caminho. No ar, riscaram um vôo enforcado.Incomodados com a luz. Refugiaram-se novamente sob a sombra dos olhos turvados.
Untou a forma com manteiga. Verificou a temperatura do forno.Ligado há cinco minutos. Saíam espadas de seu coração ferido.Por que ele não me disse? Pensou. Não acudia resposta.
O cão olhava enfarado para as pernas de sua dona, movimentando-se de um lado para outro. Uma agitação estranha. A casa vazia. Um silêncio caminhava com pés de anjo pelos cômodos. A madeira dos móveis estalava. O calor discreto subia pelas coisas.
Ele era casado, ponderou Zilá. Casado. Afogueava-se. Um caldo quente e escuro entornava dos seus lábios, as palavras não lhe resgatavam do estranho sufocamento que sentia. Tirou a blusa para desalojar do corpo aquela sensação. Os peitos enormes caíram por cima da barriga. Nêga não é motivo para aborrecimento. Como não é? Não. Não faça besteira. Expulsou-o do barraco. A véspera do aniversário do mais velho. Dele. Ela mesma não tinha filhos. Dois filhos, como você me esconde uma coisa dessas. Não quis colocar questão. Ah, não quis. Então veria.
Se tinha filho, também tinha mulher. Se tinha mulher, era porque havia traição. A massa estava no ponto. Faltava apenas um ingrediente. Moço, você tem chumbinho?. Claro, madama. Era o aniversário do mais velho. Resolveu mandar um presente. Bateu com força. Ele entrou na cozinha. Está com uma cara muito boa. Comentou. Zilá, quieta, aquiesceu. Que pontinhos pretos são esses?. É chocolate. Como se chama esse bolo?. Formigueiro.
Os olhos pontilhavam o corpo do mais velho, coberto com a correição.
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