Sobre John Fante Trabalha no Esquimó
Este blogue tem a honra de receber essas palavras de um professor querido do meu período de formação universitária na faculdade UERJ. Ele, Gustavo Bernardo, leu o JOhn Fante Trabalha no Esquimó e me brindou com as palavras abaixo para minha contracapa. Agora só falta a editora me dar a bandeirada de largada para a sorte ser completa. Prof. Gustavo Bernardo não sei como pagar-lhe a homenagem. Um abraço forte a todos com que tenho dívidas desta natureza
A FICÇÃO DE MARIEL REIS
Gustavo Bernardo
A ficção de Mariel Reis, como toda boa ficção, engana. À primeira leitura, ela parece neo-realista, partindo das ruas mais ou menos sujas de uma cidade brasileira muito parecida com a cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, exercita uma ironia tão ácida e tão séria que leva suas histórias ao extremo oposto de qualquer realismo.
Mariel joga com a realidade e com a própria ficção, produzindo um trabalho metaficcional que obriga o leitor a suspender seus juízos tanto sobre a vida quanto sobre a literatura. Os contos algumas vezes sugerem pontos de partida biográficos, misturando crônica com depoimento, mas de repente dão uma reviravolta e se transformam em fábulas terríveis. Busca-se uma identidade, isto é, busca-se o modelo perdido ao qual seríamos todos idênticos, mas o que se encontra é agonia e, paradoxalmente, serenidade. Suspeito que a serenidade se conquista a partir do trabalho mesmo de escrever, e de escrever ficção.
Dizer que Mariel Reis escreve muito bem seria apenas destacar sua obrigação, já que se pretende escritor. Então digo que os seus contos todos, sem exceção, chegam muito próximos de obras-primas, se já não o são. O conto que dá título à coletânea, “John Fante trabalha no Esquimó”, gera imediato estranhamento. O leitor motivado, ao lê-lo, fica maravilhado, como se “caísse dentro” da literatura e da morte.
Sim, a literatura tem tudo a ver com a morte, se as suas metáforas substituem tudo o que não está mais aqui e quem não está mais aqui, como mostra o fabuloso “A Visita”, referindo-se a uma visita que não acontece e a um José que retoma Drummond e retoma a solidão para nos oferecer o único consolo possível: a imaginação. Mariel sabe disso e por isso escreve sobre a corda bamba que por sua vez se encontra sobre um certo abismo sem fundo.
Esses contos dão vontade de aplaudir mas a gente não aplaude imediatamente, porque o impacto da leitura é muito forte e nos queda silenciosos. Então, se me permitem, eu os aplaudo de pé, empolgado – mas sem fazer nenhum barulho, de tão impressionado.
Gustavo Bernardo
A ficção de Mariel Reis, como toda boa ficção, engana. À primeira leitura, ela parece neo-realista, partindo das ruas mais ou menos sujas de uma cidade brasileira muito parecida com a cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, exercita uma ironia tão ácida e tão séria que leva suas histórias ao extremo oposto de qualquer realismo.
Mariel joga com a realidade e com a própria ficção, produzindo um trabalho metaficcional que obriga o leitor a suspender seus juízos tanto sobre a vida quanto sobre a literatura. Os contos algumas vezes sugerem pontos de partida biográficos, misturando crônica com depoimento, mas de repente dão uma reviravolta e se transformam em fábulas terríveis. Busca-se uma identidade, isto é, busca-se o modelo perdido ao qual seríamos todos idênticos, mas o que se encontra é agonia e, paradoxalmente, serenidade. Suspeito que a serenidade se conquista a partir do trabalho mesmo de escrever, e de escrever ficção.
Dizer que Mariel Reis escreve muito bem seria apenas destacar sua obrigação, já que se pretende escritor. Então digo que os seus contos todos, sem exceção, chegam muito próximos de obras-primas, se já não o são. O conto que dá título à coletânea, “John Fante trabalha no Esquimó”, gera imediato estranhamento. O leitor motivado, ao lê-lo, fica maravilhado, como se “caísse dentro” da literatura e da morte.
Sim, a literatura tem tudo a ver com a morte, se as suas metáforas substituem tudo o que não está mais aqui e quem não está mais aqui, como mostra o fabuloso “A Visita”, referindo-se a uma visita que não acontece e a um José que retoma Drummond e retoma a solidão para nos oferecer o único consolo possível: a imaginação. Mariel sabe disso e por isso escreve sobre a corda bamba que por sua vez se encontra sobre um certo abismo sem fundo.
Esses contos dão vontade de aplaudir mas a gente não aplaude imediatamente, porque o impacto da leitura é muito forte e nos queda silenciosos. Então, se me permitem, eu os aplaudo de pé, empolgado – mas sem fazer nenhum barulho, de tão impressionado.
Comentários
Não há favor no texto de Gustavo Bernardo, se vê o óbvio, o correto.
Não há exageros e sim a combinação perfeita da técnica com a sensibilidade.
Sorte a sua ter um professor assim.
Editoras não tardarão
Abraço do seu aluno
Luíz Horácio