Pingo nos is



Se as manifestações, da maneira como são realizadas, exigem políticos mais atentos às demandas sociais cobradas através dos piquetes e protestos, elas também reforçam o caráter governamental, porque representam o ápice das ambições políticas dos guerrilheiros que estão no poder. Os muitos vietnãs com os quais sonhavam na juventude, quando integravam a luta armada pela redemocratização do país, concretizam-se de modo simbólico. De certa maneira, esta não é uma das plataformas do PT, quando financia movimentos como o MST?’

Mariel Reis (marielreis@ig.com.br)

A capitalização política do Movimento Passe Livre está iniciada através dos discursos realizados pela presidente Dilma e a incitação de diálogos com as lideranças dos Estados atingidos pelos protestos. Na cidade do Rio de Janeiro tanto o governador Sérgio Cabral quanto o prefeito Eduardo Paes afirmam estar abertos à negociação e convocam as lideranças para uma conversa. E põem em funcionamento uma estratégia de sedução em que se distinguem as lideranças - em um movimento sem a unanimidade de uma liderança única-, para depois desarticulá-lo e transformá-lo em piada de salão. Alguns dos integrantes do Movimento já conquistaram seus minutos de fama, marcando presença em programas como Roda Viva, da TV Cultura do Rio de Janeiro, e em entrevistas a veículos como o jornal Brasil Econômico.

A estratégia em não se ter lideranças visíveis para a imprensa ou para o governo é a mais sensata sob quaisquer dos pontos de vista de que seja examinada. E o principal deles é o criminal, porque as acusações de vandalismo podem recair, exatamente, sobre aqueles com maior destaque midiático. Por exemplo, podem ser acusados por apologia à violência. E o anonimato da multidão mantém coeso aquilo que deveria ser a natureza dos protestos: a preservação dos direitos do homem comum, do usuário de uma cidade seqüestrada por demandas que não o incluem e obedecem rigidamente a uma cartilha neoliberal em que o espaço público é violado.

Os arruaceiros, como são tratados pela mídia os manifestantes mais radicais, isto é, aqueles que descrentes da negociação política, partem para uma ação mais direta – a supressão burocrática – através de ataques às instituições em atraso com a nova mentalidade em evolução na cidade. Como se a supressão das consciências em desacordo pudesse dar outro contorno a toda situação. É um pensamento ingênuo, marcado por falta de balizas que acenem para qual direção marchará o movimento.

A pauta pela redução das tarifas não pode ser o único programa do Movimento Passe Livre, se ele quiser sobreviver a si mesmo. O que seria ótimo para o país e para a democracia. Ele deverá reinventar-se e ampliar suas reivindicações. Além de se manter atento para não ser usado como massa de manobra por algumas raposas da política brasileira. Ou ser esvaziado pela imprensa, através da exigência de líderes, que poderá eleger a musa ou o galã dos protestos e ambos acabarem em publicações como a Playboy ou a G Magazine, tornando-se micro-celebridades, personalizando todo o processo e as idéias do movimento. Daí novas e novos  geisys arrudas e lindbergs farias.

Se as manifestações, da maneira como são realizadas, exigem políticos mais atentos às demandas sociais cobradas através dos piquetes e protestos, elas também reforçam o caráter governamental, porque representam o ápice das ambições políticas dos guerrilheiros que estão no poder. Os muitos vietnãs com os quais sonhavam na juventude, quando integravam a luta armada pela redemocratização do país, concretizam-se de modo simbólico. De certa maneira, esta não é uma das plataformas do PT, quando financia movimentos como o MST? É o coroamento da política de Lula e de sua ação como sindicalista, agitador político, organizador de greves e protestos. A presidente Dilma deve ter à cabeceira da cama um álbum com as fotografias dos protestos em todo o Brasil. Mirando-o, com as lágrimas escorrendo pelo rosto, reza a São Marx (escolha-se o santo que quiser: Mao, Lênin, Bakunin, Trotsky ou Stálin) agradecendo por tudo o que está acontecendo no país.

O Movimento Passe Livre vive um dilema. Como avançar entre tantas fronteiras? O que é resultado de um ardor juvenil deve ser transformado em um programa ou em um partido? Como não se deixar descaracterizar pela vaidade ou pelo aproveitamento político das manifestações? Será apêndice das políticas de inclusões petistas? É a refundação das convicções elevadas do partido dos trabalhadores , abandonadas quando da negociata para a chegada de Lula à presidência?

São muitas as perguntas que precisam ser respondidas.

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