Meus 37 anos

Fausto, de Goethe, me ensinou a VERDADE. Deus não faz barganhas e não compreende motivos mesquinhos. Eu estive do lado de lá. E tudo é macro-economia, é estatal. É o Estado, não é o individuo. Ele me perguntou se as coisas prestavam desse jeito para mim. Eu, sujeito fraco, egoísta, disse que não. As coisas não prestavam dessa forma. Ele que ficasse com elas. Ele arriscou que o meu temperamento foi estragado pelo meu passado pagão, cínico e hedonista. Eu abaixei a cabeça. Ele me pediu a lista dos meus trinta e sete anos. Decepcionado com o que havia lido, Ele excomungou-me. E solicitou a minha defesa. Apenas afirmei que o meu destino já Lhe era conhecido e nada poderia mudá-lo. O meu destino me satisfazia e este era: - De rodear a terra, e passear por ela. Assim constitui a minha humanidade, assim conheci os homens. Foi quando Ele disse: - Afasta-te! E este Outro disse: - Bem vindo. Entra. A lista pelo quê trocaria meus trinta e sete anos, jogada ao chão de mármore luzidio, inspirava Nele o nojo que aos poucos cedeu lugar a compaixão e depois ao arrependimento, porque, afinal, a lista falava de seus FILHOS.
 
Assim pedi pelos meus anos:

O primeiro ano, Senhor, eu rogava:
Pela ressurreição dos meus irmãos;
O segundo ano, Senhor, eu implorava:
Pela ressurreição do meu pai;
O terceiro ano, Senhor, eu pedia:
Pelos braços de minha mulher;
O quarto ano, Senhor, eu desejava:
Pela cura do câncer de meu primo;
O quinto ano, Senhor, eu me humilhava:
Pela felicidade de Delfin;
O sexto ano, Senhor, eu me prostrava:
Pela ressurreição de meus tios;
O sétimo ano, Senhor, eu exigia:
Pelo meu cão que irá morrer;
O oitavo ano, Senhor, eu ansiava:
Pela cura de meu amigo André;
O nono ano, Senhor, eu ambicionava:
Pela cura de meu tio Danilo;
O décimo ano, Senhor, eu sonhava:
Pela felicidade de meus irmãos;

O décimo - primeiro ano, Senhor, eu queria:
Pelo reencontro de Mazza com o pai;
O décimo – segundo ano, Senhor, eu murmurava:
Pela banca de José Inácio Enokibara;
O décimo – terceiro ano, Senhor, eu trocava:
Pela casa que o Régis precisa;
O décimo – quarto ano, Senhor, eu intentava:
Pela casa de Beth;
O décimo – quinto ano, Senhor, eu requeria:
Pela volta de Sanzia à casa dos pais;
O décimo – sexto ano, Senhor, eu pensava:
Pela saúde de todos os demais;
O décimo – sétimo ano, Senhor, eu pedia:
Pela felicidade de minha filha;
O décimo – oitavo ano, Senhor, eu reclamava:
Pela felicidade do meu amigo Roberto;
O décimo – nono ano, Senhor, eu solicitava:
Pela convivência pacifica com meus inimigos;
O vigésimo ano, Senhor, eu me calava:
Pela bem-aventurança de Augusto;

O vigésimo - primeiro ano, Senhor, eu rogava:
Pela bem- aventurança de Anderson;
O vigésimo – segundo ano, Senhor:
Pelo companheirismo de Guarnieri;
O vigésimo – terceiro ano, Senhor:
Pela fraternidade de Reinaldo Ramos;
O vigésimo – quarto ano, Senhor:
Pelo companheirismo de David;
O vigésimo – quinto ano, Senhor:
Pela argúcia de Filipi;
O vigésimo – sexto ano, Senhor:
Pela fidelidade de Enrico, Diego e Martins;
O vigésimo – sétimo ano, Senhor:
Pela loucura mansa de Lasana;
O vigésimo – oitavo ano, Senhor:
Pelo talento de Elaine;
O vigésimo – nono ano, Senhor:
Pela eternidade com a Áurea;
O trigésimo ano, Senhor:
Pelo cuidado de Jardel;
 
O trigésimo – primeiro ano, Senhor:
Pela Nete, por onde quer que ela ande;
O trigésimo – segundo ano, Senhor:
Pela felicidade de Vinicius;
O trigésimo – terceiro ano, Senhor:
Pela amizade de Dutra;
O trigésimo – quarto ano, Senhor:
Pelos meus pais, meus sogros;
O trigésimo – quinto ano, Senhor:
Pelos amigos que perdi;
O trigésimo – sexto ano, Senhor:
Pela Verônica e Yasmin;
O trigésimo – sétimo ano, Senhor:
Pela minha saúde e por continuar aqui.























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