Orelha para o livro O que disse aos generais, de Anderson Fonseca, em busca de editora.

Uma Ficção Além de Nosso Tempo.

Imaginem um livro que Augusto Monterroso não hesitaria em assinar; tratando o caso como um exemplar perdido em sua imensa biblioteca; mas quando lhe apontassem o nome no frontispício do volume, ele alegaria, com cinismo, estar diante de um duplo, um desdobramento de sua personalidade, portanto, diante de um espelho. Tudo o que seria dele, pertenceria a este outro. E através de sua compreensão, não haveria prejuízo, porque ambos autores não se lesavam. E nisso se economizaria. Não haveria importunação. 

Contudo, um jornalista chamou-lhe a atenção para o nome do autor. Monterroso, embaraçado, não teve outra saída, senão apontá-lo como uma criação sua, embora com maior talento, para não ser vítima de acusações de inveja ou má-fé. O que não lhe foi nenhum dissabor. O livro Fábulas para os Generais interessou também ao escritor Eduardo Galeano, mas, ele já havia acompanhado toda a polêmica através dos jornais e se limitou apenas a elogiá-lo e não escondeu o desejo de tê-lo, secretamente, em sua biblioteca. 

Anderson Fonseca em seu novo livro une a política e a estética em parábolas e aforismos intensamente poderosos. E sincronizados com nosso tempo em que ressurgem, pontualmente, ditadores que amordaçam a História, pensando em torná-la um objeto de sua coleção particular, eliminando aqueles que podem representar risco ao projeto, isto pode ser lido no texto Enterro. Ou o cinismo pode beirar ao disparate, onde a natureza predatória e destrutiva quer dar mostras de certa piedade: O General Bondoso. A revelação terrível exposta em Primavera. E para o desfecho, Lobos, que são os primos dos leopardos kafkianos que invadem o templo...

Ao término da leitura, além de compará-lo aos colegas de panteão em sua aventura literária - Augusto Monterroso e Eduardo Galeano - ficou-me a impressão de que as pequenas histórias só equiparam-se aos bons livros de poesia: A Rosa do Povo e Dentro da Noite Veloz. Constatado isso, não tive dúvidas, só a boa prosa aspira a ser grande poesia. E não se surpreenda leitor, se encontrá-la espalhada por essas páginas.





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