As passeatas e os excessos

‘Em quem, Sr. Deputado, se inspiram esses jovens senão na atuação de jovens guerrilheiros como Dilmas, Dirceus e Genoínos? Sirkis, Mincs e Gabeiras? E Brizolas? Eu me lembro da fotografia de Leonel Brizola armado. E quem esquece?’

Mariel Reis (marielreis@ig.com.br)

Em entrevistas, acerca do perídio da Ditadura Militar (1964 – 1988), muitos integrantes da esquerda brasileira, engajados na luta armada, classificaram seus atos como necessários à manutenção da democracia. A justificativa de que se tratava de uma guerra e havia um inimigo a se derrotar, isto é, os generais não permitiam a intromissão de uma discussão ética de todos os atos cometidos. Tanto pela esquerda com suas expropriações e seqüestros quanto pela direita com assassinatos e torturas. 

A criminalização dos excessos está em voga no que se convencionou chamar de Comissão da Verdade, instaurada pelo governo Dilma, para a apuração da verdade sobre os crimes cometidos nos porões do militarismo brasileiro. Não há nenhuma intenção penal. A anistia – ampla, geral e irrestrita – garante àquele que se apresentar à comissão, para prestar depoimento sobre os crimes de assassinato ou tortura no regime de exceção, que nenhum dispositivo legal o constrangerá. A intenção da Comissão da Verdade é a apuração de crimes de guerras em que apenas um dos lados está em julgamento, porque os excessos sempre são dos outros e nunca nossos. 
As manifestações do Movimento Passe Livre nas principais capitais brasileiras também comete seus excessos, também possui entre suas fileiras seus radicais. No entanto, os excessos não invalidam sua tentativa de intervenção nas discussões dos governos - municipal, estadual e federal – sobre a gerência dos bens públicos, sobre as questões básicas como transporte, saúde e educação como querem fazer crer alguns políticos como o deputado Paulo Melo, presidente da ALERJ, em declaração à emissora BandNews. Ele classificou a tentativa de invasão do prédio da assembléia de ato de terrorismo. 

A desastrada declaração pode ser contraposta – e, comparada - com as ações de velhos conhecidos políticos do deputado. Podemos perguntá-lo se o seqüestro do embaixador americano no país, durante a década de setenta, não foi terrorismo? O assalto ao cofre do Dr. Rui? Os policiais mortos em ações de expropriação bancária para os fundos da Revolução? Estes atos não eram terroristas também? Não faziam parte do excesso cometido pelos integrantes da guerrilha armada pela redemocratização do país? Se nossos governantes ainda fossem os militares, faríamos as mesmas perguntas, como o episódio do Rio Centro, Vladimir Herzog, Stuart Angel, entre outros.

A presidente Dilma, através de sua assessoria de comunicação, sabendo do momento delicado que o país atravessa, reunindo, apenas no Rio de Janeiro, cem mil pessoas, soube encarar a situação com maior elegância, afirmando que é próprio dos jovens se manifestarem acerca do seu país e de suas preocupações políticas. 

É importante a percepção de que as manifestações registram o amadurecimento da democracia brasileira, com apenas vinte e cinco anos de idade. Portanto, tão jovem quanto aqueles que, na noite de ontem, saíram para os protestos nas principais capitais brasileiras. É um atestado de nossa maioridade política, da solidez das instituições e das mentalidades de nosso país. O que é motivo para celebração. Hoje, quem tem acima de cinqüenta anos sabe muito bem do que estou falando.

Reunir cerca de cem mil pessoas em um ambiente marcado por políticas pontuais - no campo do Direito Civil - como a afirmação das minorias, é um feito notável. Principalmente, se a análise do que aconteceu se voltar para a despolitização de um tempo voltado para o consumo e o entretenimento. 

A acusação de excessos se não absolve os protestantes, justifica-se por estar dando viabilidade aos anseios populares, como já teria afirmado outro militante da redemocratização do país, em outro momento. E o deputado Paulo Melo, presidente da Alerj, esqueceu-se de perguntar em quem se inspiram os jovens vândalos - uma minoria, cabe ressaltar, diante do montante dos participantes da passeata - com lemas de transparência e democracia, empunhando bandeiras de esquerda e palavras de ordem. Em quem, Sr. Deputado, se inspiram esses jovens senão na atuação de jovens guerrilheiros como Dilmas, Dirceus e Genoínos? Sirkis, Mincs e Gabeiras? E Brizolas? Eu me lembro da fotografia de Leonel Brizola armado. E quem esquece? Todos estão aí no poder, ou já passaram por ele. Hoje pregam para que os meninos e meninas do Brasil sejam obedientes e bem comportados como bons pais repressores  esquecidos de que já foram iguais aos seus filhos ou talvez piores. 

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