Direto do Blogue do Nei Lopes
AS REINAÇÕES DE MONTEIRO LOBATO
O escritor Monteiro Lobato não era tão inocente quanto andam dizendo por aí, em meio à polêmica sobre a suposta censura que sua obra estaria sofrendo. Vejamos.
Em 1944 publicou o livro A Barca de Gleyre, que reúne, em dois volumes, cartas por ele enviadas ao escritor mineiro Godofredo Rangel entre 1903 e 1943. Em uma delas, o “sobrinho” da Tia Nastácia assim se manifesta sobre o povo dos subúrbios cariocas:
“Estive uns dia no Rio (...). Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi ?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!... (in A barca de Gleyre. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).
Sessenta e seis anos depois desse tapa na cara que ele deu em nós e todos os demais suburbanos, o Brasil só não é mais tão “eugenista” e racista assim, graças à militância negra ressurgida na década de 1970. Por força dessa movimentação foi que a discussão do racismo anti-negro entrou na agenda do poder institucional, com a criação de assessorias, departamentos, secretarias e, finalmente, da SEPPIR, para equacionar e tentar resolver o problema.
Quanto ao burburinho atual, parece-nos que o foco da questão, mais uma vez, está sendo propositalmente deslocado. O que a militância negra quer é impedir que o livro de Lobato seja adquirido pelo Governo e distribuído às bibliotecas e escolas públicas. No mais, compre e leia quem quiser. O que, felizmente, não é o nosso caso aqui no Lote.
Aqui, em termos de Literatura Infantil e todas as outras, somos mais Joel Rufino dos Santo/s, que é muitíssimo mais atual, instrutivo e gostoso de ler.
http://www.neilopes.blogger.com.br/
O escritor Monteiro Lobato não era tão inocente quanto andam dizendo por aí, em meio à polêmica sobre a suposta censura que sua obra estaria sofrendo. Vejamos.
Em 1944 publicou o livro A Barca de Gleyre, que reúne, em dois volumes, cartas por ele enviadas ao escritor mineiro Godofredo Rangel entre 1903 e 1943. Em uma delas, o “sobrinho” da Tia Nastácia assim se manifesta sobre o povo dos subúrbios cariocas:
“Estive uns dia no Rio (...). Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi ?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!... (in A barca de Gleyre. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).
Sessenta e seis anos depois desse tapa na cara que ele deu em nós e todos os demais suburbanos, o Brasil só não é mais tão “eugenista” e racista assim, graças à militância negra ressurgida na década de 1970. Por força dessa movimentação foi que a discussão do racismo anti-negro entrou na agenda do poder institucional, com a criação de assessorias, departamentos, secretarias e, finalmente, da SEPPIR, para equacionar e tentar resolver o problema.
Quanto ao burburinho atual, parece-nos que o foco da questão, mais uma vez, está sendo propositalmente deslocado. O que a militância negra quer é impedir que o livro de Lobato seja adquirido pelo Governo e distribuído às bibliotecas e escolas públicas. No mais, compre e leia quem quiser. O que, felizmente, não é o nosso caso aqui no Lote.
Aqui, em termos de Literatura Infantil e todas as outras, somos mais Joel Rufino dos Santo/s, que é muitíssimo mais atual, instrutivo e gostoso de ler.
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