Uma História das Ruas
Ela fixou meus olhos. O preço estava marcado sobre o pacote de biscoitos, consultei minhas economias para ver se bastavam para comprá-lo, constatei que não era o suficiente.
Ela tinha fome. E não tinha culpa.
Olhei em volta da gôndola, procurando pelos seguranças do supermercado, não os avistei. Amanhã seria aniversário dela, não teria festa, nem bolo. Aquilo me doeu bastante.
Ela chupava o pequeno dedo magro. Os olhos cresciam vendo a ilustração da embalagem como se estivesse diante de um desenho animado.
Procurei enganá-la, oferecendo um biscoito mais barato, vendido logo ali, na esquina, para sair do mercado logo, antes que me decidisse por uma besteira.
“Amanhã é meu aniversário, compra pai”.
A seção estava vazia. Eu não sabia o que fazer; ela me esticou os olhos compridos, e, para falar a verdade, o pai dela era outro cara com quem a mãe tinha transado; mas, era como se eu fosse mesmo o pai dela. Portanto, não tive escolha.
Escondi o pacote de biscoitos no casaco largo que vestia. Pedi que ela me abraçasse, quando atravessássemos a entrada do mercado; para não desconfiarem do volume na minha roupa.
O pai dela não era uma cara legal. Batia muito na mulher. Ele dormia com ela em uma marquise distante uns dez metros da minha; naquela época eu era só, tinha um cão e um burro sem rabo. Nele recolhia os papelões para vender. Conseguindo algum dinheiro para a comida e a bebida; porque a noite faz um frio desgraçado na cidade.
Uma noite, quando eu voltava da minha ronda pelas lixeiras dos edifícios, vi aquele crápula batendo novamente na mulher. Não suportei aquilo.
Hoje ela é minha mulher. Nessa época ela já estava grávida; combinamos que a menina nunca saberia que o pai era outra pessoa.
A polícia encontrou o corpo do crápula próximo a uma praça. Não fez muitas perguntas. O rabecão o recolheu. Quando morre alguém que vive na rua, a sociedade fica aliviada. Se for alguém como o crápula, então a falta é menor ainda.
O segurança não havia notado. Quando estávamos fora do mercado, ela pulou de alegria, não escondia a satisfação por ter conseguido o pacote de biscoitos. Com os trocados comprei um refrigerante de garrafa. Levamos para casa – isto é minha antiga marquise.
A mãe, longe, acenou, vendo a felicidade da filha.
Quando estávamos perto um do outro, a mãe me perguntou onde consegui o dinheiro para comprar aquele pacote de bolachas.
Sorri sem dar uma resposta.
Ela tinha fome. E não tinha culpa.
Olhei em volta da gôndola, procurando pelos seguranças do supermercado, não os avistei. Amanhã seria aniversário dela, não teria festa, nem bolo. Aquilo me doeu bastante.
Ela chupava o pequeno dedo magro. Os olhos cresciam vendo a ilustração da embalagem como se estivesse diante de um desenho animado.
Procurei enganá-la, oferecendo um biscoito mais barato, vendido logo ali, na esquina, para sair do mercado logo, antes que me decidisse por uma besteira.
“Amanhã é meu aniversário, compra pai”.
A seção estava vazia. Eu não sabia o que fazer; ela me esticou os olhos compridos, e, para falar a verdade, o pai dela era outro cara com quem a mãe tinha transado; mas, era como se eu fosse mesmo o pai dela. Portanto, não tive escolha.
Escondi o pacote de biscoitos no casaco largo que vestia. Pedi que ela me abraçasse, quando atravessássemos a entrada do mercado; para não desconfiarem do volume na minha roupa.
O pai dela não era uma cara legal. Batia muito na mulher. Ele dormia com ela em uma marquise distante uns dez metros da minha; naquela época eu era só, tinha um cão e um burro sem rabo. Nele recolhia os papelões para vender. Conseguindo algum dinheiro para a comida e a bebida; porque a noite faz um frio desgraçado na cidade.
Uma noite, quando eu voltava da minha ronda pelas lixeiras dos edifícios, vi aquele crápula batendo novamente na mulher. Não suportei aquilo.
Hoje ela é minha mulher. Nessa época ela já estava grávida; combinamos que a menina nunca saberia que o pai era outra pessoa.
A polícia encontrou o corpo do crápula próximo a uma praça. Não fez muitas perguntas. O rabecão o recolheu. Quando morre alguém que vive na rua, a sociedade fica aliviada. Se for alguém como o crápula, então a falta é menor ainda.
O segurança não havia notado. Quando estávamos fora do mercado, ela pulou de alegria, não escondia a satisfação por ter conseguido o pacote de biscoitos. Com os trocados comprei um refrigerante de garrafa. Levamos para casa – isto é minha antiga marquise.
A mãe, longe, acenou, vendo a felicidade da filha.
Quando estávamos perto um do outro, a mãe me perguntou onde consegui o dinheiro para comprar aquele pacote de bolachas.
Sorri sem dar uma resposta.
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