Carta ao Presidente da República

Antes que algum acessor engraçadinho divulgue na internet esta carta como anônima, faço esta postagem para resguardá-la deste incerto destino virtual. No auge de uma indignação, procurei escrevê-la, com seus erros e acertos. A minha convicção ainda é inabalável: um dia este país vai cumprir seu ideal e não será apenas a velha colônia de tantos outros Portugais.


Ilustríssimo Senhor Presidente,

Sou brasileiro, contudo não consigo exercer minha cidadania.

Apesar de toda a propaganda do governo sobre a democratização das oportunidades, todo o alardeamento desse crescimento que o país sofre, não consigo acessar os meus direitos básicos.

Entre estes direitos básicos, aquele que me preocupa mais é o da moradia.


Isso não significa que sou um descrente no governo, que sou omisso com minhas obrigações a esse país, nada disso. Tenho tentado ser um cidadão exemplar. Isto quando o país permite e minha cor não impede.

Este fato é outro que me incomoda bastante, apesar da existência de um ministério para tratar questões raciais. Contudo este é outro assunto, porque bem pior que ser NEGRO e POBRE é não ter onde morar - ou viver sendo extorquido pelo valor dos aluguéis cada vez mais caros.


Para minha sorte estou empregado, imagine a situação de milhões de brasileiros desempregados, ou, pior ainda, vivendo nas ruas. Isso me preocupa também, mas, por enquanto só posso protestar e pedir ajuda àqueles que podem pelos meios legais me auxiliarem, e, não quero com isso nenhum privilégio, só desejo exercer meu direito a moradia - considerado um direito básico de todo o cidadão.


Não quero engrossar as favelas; não quero estar nas ruas; não quero ser um problema social para o país, gerando ônus cada vez maiores, acrescidos destas políticas atenuantes desses casos.


Senhor Presidente EU PRECISO DE UMA CASA, é simples para alguns brasileiros, eu sei. Simples para os que percebem uma renda de 4 a 5 salários mínimos, o que ainda não é uma realidade de cada brasileiro, mas caminharemos para isso.


Tenho fé no Senhor, apesar dos escândalos, do motim da imprensa, de alguns correligionários e da perseguição da oposição. EU SENHOR PRESIDENTE ACREDITO NO GOVERNO. Pode ser ingenuidade, ou, tíbia visão da política nacional, como me criticam alguns detratores. Mas não me envergonho.


Votei na esquerda, acreditei na esquerda, porque não há alternativa para homens como eu se não for por esta via.



Esta mensagem pode nunca chegar ao Senhor; pode se extraviar nas mãos dos milhares de auxiliares; departamentos; caixas de arquivo e depois ser encaminhada ao depósito do lixo - destino da maioria desses papéis oficiais. Mas aquele que ler esta mensagem carregará com ele a minha perturbação: a minha interdição de ser um brasileiro no Brasil.


Não quero acusar o Senhor com isso, é um trabalho que demanda tempo, como todos dizem. E não quero nada de graça. Quero conseguir as coisas à custa do meu trabalho, não com assistencialismo. Isso para calar a boca dessa oposição que odeia os pobres, que quer confinar os negros às atividades inferiores, que não quer que este país saia do seu atraso, de sua mentalidade de castas, que quer conservar o poder a qualquer custo nos feudos familiares, monopolizando a pouca liberdade conquistada desde a abertura, e, com os demais gestos que serviram para livrar esse país de inúmeras escravidões.



EU ME RECUSO SENHOR PRESIDENTE, EU ME RECUSO A OBEDECER A INTERDIÇÃO DE SER BRASILEIRO imposta toda vez que vou aos bancos, as repartições, as instituições privadas.

Impostas por aqueles que desejam a EUROPA, a AMÉRICA DO NORTE e não este país que estamos construindo, porque se envergonham do Brasil. E com o peso da vergonha sobre seus ombros não conseguem vislumbrar um futuro para este país, porque seus sonhos moram além mar.


Senhor Presidente posso fazer diversas tarefas para conseguir o pedido, não me falta capacitação - a ninguém neste país deve faltar porque nós brasileiros como se sabe temos talento para atravessar todo esse caos. Espero que os acessores que tiverem acesso a mensagens desse tipo se preocupem em repassar a minha indignação e a minha vontade de transformação - tanto pessoal quanto nacional.

Se precisar trabalhar muito para isso, eu o farei com enorme prazer. Seja aqui no Rio de Janeiro ou em Brasília ou em qualquer outra parte do território nacional, contanto que conte com apoio dos agentes responsáveis para as tarefas que serão executadas.

Sou Mariel Reis, brasileiro, pai, cidadão deste país. Um forte abraço e força para conduzir essa nação ao rumo correto, não se esqueça nunca de nós, os humildes, porque bem aventurados os humildes, porque deles será o reino dos céus.

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