Ainda Uma História das Ruas

A menina tinha o gosto do biscoito e do refrigerante na boca quando adormeceu. A embalagem escondida embaixo do travesseiro prometia sonhos com terras distantes, fadas, e, seres imaginários. O pequeno vestidinho esfarrapado se transformava em um traje de baile. Ela descia de uma carruagem, conduzida por sua boneca agora com as bochechas coradas; tão limpa que doía nos olhos a brancura de suas roupas.

No salão rodopiavam duendes acompanhados por ondinas; anões malabaristas carregados por elefantes em miniatura em suas proezas circenses; fadas que mudavam por completo a cor do cabelo das convidadas como cabeleireira encantadas, estilistas prontas para modificar todo o visual apenas com um piscar de olhos, ou, um bater de asas. Todo o reino era uma felicidade, exceto por certa tensão percebida pela menina em um mensageiro. Tinha aspecto nanico, rugas de preocupação sinalizam em sua testa a importância da notícia que tinha para dar. A menina se aproximou dele para conversar. Por que estava com a cara tão triste? Ele se mostrava apreensivo com a represa que poderia arrebentar a qualquer momento. E mal havia pronunciado aquelas palavras, a água chegava a pequenas ondas ao salão, e, surgiam barcos com músicos, dançarinos, com todo o bufê. A menina foi içada para um destas embarcações, mas a impressão da umidade se grudava ao vestido, isto a incomodava de fato.

O mensageiro, constrangido, não desfazia a cara contrariada. Parecia ser um estraga prazeres, mas não havia acabado a bruxa do norte havia jurado terminar com o baile, de qualquer maneira, mesmo que tivesse de atear fogo na água. Ele não estava com sorte, porque mal havia falado, no céu surgiu a bruxa com sua vassoura, e, vendo que a festa continuava não resistiu em fazer uma maldade. As labaredas formavam um paredão no lago em que havia se transformado o salão.

A menina tinha medo. Chamava por sua mãe, não tinha resposta. Uma sereia pegou a sua mão e mergulhou com a menina. Ela protestava, porque não conseguia respirar embaixo deágua. O corpinho se inquietava em busca de ar; a menina precisava voltar para a superfície. Era seu aniversário, não poderia terminar assim.

Quando voltaram à superfície, a menina respirou todo o ar que conseguia seus pulmões. A passagem para voltar à marquise para junto dos pais, estava fechada. A sereia a consolava como podia. A menina chorava, e, suas lágrimas se transformavam em pequenos homenzinhos com asas.

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