O Meu Best-Seller




 

 

“Os intelectuais não podem ser intransigentes, preservando apenas para si mesmos os espaços de cultura. Precisam democratizá-lo. Como?Me perguntam.  Esquecendo que são latifúndios pertencentes as famílias tradicionais do país”

Mariel Reis

 

 

 

Ryoki Inoue* é o meu autor preferido de best-sellers. A condição de escritor de sucesso não o impediu da construção de obras consistentes, embora o tenha prejudicado escrever tanto como escreveu.  O autor de Saga possui mais de mil títulos escritos; o feito lhe rendeu o louvor do livro dos recordes, o Guinness Book. A minha curiosidade sobre o escritor nasceu em 1996, quando Humberto Werneck (autor de Desatinos da Rapaziada), em reportagem para a revista Playboy, escreveu sobre ele, Inoue.

 

No instante da reportagem, veiculava-se a presença de um jornalista estrangeiro que vinha conferir a capacidade criadora do autor de Seqüestro Fast-Food, escrito em apenas seis horas ou em quase isto. Num tempo em que o nosso escritor mais badalado é o mago Paulo Coelho, com bridas e alquimistas; creio que a leitura de Ryoki Inoue valha a pena. Não cometerei a temerosidade da afirmação de que tudo que li do autor prestava e tinha, efetivamente, valor literário, longe disto. O que posso dizer é que as obras relacionadas abaixo podem ser lidas como autênticas obras de literatura, relacionadas, aqui, de acordo com seu teor de grandeza:

 

1 – Saga. Editora Globo;

2 – Quinze Dias em Setembro, Companhia Nacional;

3 – Fruto do Ventre, Editora Record;

4 – E agora presidente?, editora Maltese;

5 – Seqüestro Fast-Food, editora Olho d’água.

 

Os livros estão organizados conforme sua grandeza literária. Saga não deve nada a autores como Milton Hatoum ou Jorge Amado (Dois Irmãos e A Descoberta da América pelos Turcos), por exemplo. Trata da narrativa do transplante cultural de quatro gerações de uma família japonesa.  Quinze Dias em Setembro sobre os reflexos da tragédia americana e das torres gêmeas e Fruto do Ventre sobre a inquietante idéia da clonagem de Jesus a partir de vestígios do Santo Sudário.

 

A breve descrição dos três livros deverá despertar a curiosidade dos leitores. Entre as leituras de romances sisudos, leio um ou outro best-seller, escolhido com cuidado. Por exemplo, fui fisgado pelo Stilleto, de Harold Hobbins, cuja tradução de Nelson Rodrigues acentuava as cores do maníaco. A minha peregrinação levou-me a outros nomes nacionais praticantes do gênero, a descoberta de muitos deles me surpreendeu bastante: Adelaide Carraro, Cassandra Rios, Hernani do Irajá.. .Contudo, alguns nomes se destacavam com maior força e tinham os mais ricos recursos expressivos. Um deles é o escritor  José Louzeiro, autor de Araceli, Meu Amor e O Estrangulador da Lapa, obras relançadas recentemente pela editora paulista Prumo.

 

A minha confissão feita, não espero absolvição. Estou  em paz com minha consciência e não tenho receio dos convites de leituras dessa natureza. Se o autor preocupar-se em dar o melhor de si, mesmo sendo prolífico como Ryoki Inoue, uma hora ou outra acertará o alvo, senão na mosca, bem próximo dela. E caberá ao leitor honesto admitir a proeza, sem preconceitos, sem censura, como se estivesse trazendo à festa um convidado indesejável, quando ele deveria ser bem-vindo àquele lugar que ajudou não só a organizar, mas também a construir.

 

 

 

 

* Ryoki Inoue é brasileiro, morador de São Paulo, ex-cirurgião  trocou a medicina pela literatura.

Comentários

joao disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Eu já li tanta coisa, já fui um devorador de histórias, num tempo em que só me preocupavam as histórias, e não quem as tinham escrito.

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