Jânio Quadros em dois atos

Em artigo A Faxina Interrompida, Revista de História, a controvertida figura do ex- presidente Jânio Quadros é descrita como carismática e performática. Eleito em 1960, pela UDN, em acirrada disputa com Marechal Lott teve como símbolo de sua campanha uma vassoura, enquanto que o adversário era representado por uma espada.  O argumento principal de sua campanha era a promessa de acabar com a corrupção atribuída ao governo de JK quando da implantação de seu plano desenvolvimentista.  O ex- presidente utilizava-se de forte marketing pessoal, através de estratégias como a de jogar talco nas ombreiras dos ternos para gerar a identificação com a população mais humilde que tinha caspas. Além do uso de ternos amassados, gravatas desalinhadas e com nós frouxos, completava o estilo trazendo nos bolsos sanduíches de mortadela envolvidos em papel engordurado.

No plano econômico fixou-se num modelo que valorizava a exportação, congelou salários e reduziu créditos. A política externa caracterizou-se por um alinhamento não apenas aos países capitalistas, mas àqueles de caráter comunista, o que pode ter gerado extrema insatisfação da elite conservadora que guardava profundo receio de o país se tornasse socialista e atentasse contra a propriedade privada, uma das instituições máximas da expressão do capital. Dentro desse painel político, restou a Jânio Quadros a renúncia, até hoje incompreendida. Uma das muitas interpretações é de que ele pretendia encontrar o apoio da população para governar com maior autonomia, ou seja, com a renúncia ensaiava um golpe branco.

A trajetória do ex-presidente Jânio Quadros durante o período de poder – sete meses - pode ser observada no livro Viagem com o Presidente Eleito, Joel Silveira, editora Mauad. A cobertura de Joel Silveira desmitifica a figura burlesca do presidente, desconstrói o homem desengonçado com a aparência de sujo, mostrando nele uma antípoda: um homem requintado, sensível e elegante. Outro livro curioso, Diário de Um Confinado, de Mauro Ribeiro (fora de edição), trata de Jânio após a renúncia, em seu auto-exílio em Mato Grosso, das encrencas com o regime militar após declarações corajosas ou desastrosas, dependendo do ponto de vista.

São dois livros fundamentais na compreensão do homem e do mito que terminou sua carreira política como prefeito de São Paulo em disputa com Fernando Henrique Cardoso que dentro de algum tempo viria a se tornar presidente da república.