Balança, mas não cai?
A
pergunta, a queima roupa, me obrigou a um juízo rápido. Não que me
tivesse em conta, sempre, como certos sujeitos que em relação a si
mesmos parecem em alta – sem nunca desvalorizar. A minha pretensão,
se não beirava ao exagero, para não me tornar ridículo, não me
transformava em um monge franciscano. Aquilatei minha participação,
com meus quatro livros de contos reescritos e engavetados para nunca
mais serem reeditados ou apenas parcialmente, dentro da literatura
resumida em dez contos decentes. E dois livros inéditos sobre os
quais ainda minha opinião oscilava, mesmo com juízo geral de que
são bons. O fato é que a pergunta, longe de me deixar
desconfortável, cada vez mais me aproxima de uma constatação:
escrevo melhor agora do que antes. O que não é dizer que lá atrás
não tivesse realizado coisas que me agradem ou que tenham atingido a
crítica – sempre positiva e receptiva com meu trabalho – e aos
leitores. Em entrevistas recentes, afirmei que minha ambição, desde
o início, era ser um crítico de literatura. Não por outro motivo,
senão a leitura - mesmo que seu objetivo se cristalizasse sobre um
julgamento sobre o valor da obra. De zero a dez, em minha
avaliação sobre a minha ficção, ficaria com nota seis. Alguém
pode me atribuir uma outra nota, talvez maior ou menor, mas adequada
é a que me dou – seis. Em um livro que reúne meus melhores contos
– os dez aludidos – não sinto ter sido em vão meu envolvimento
com a literatura cujos resultados se estenderam além do previsto –
em publicações estrangeiras, por exemplo, sem nenhum tipo de
aparato do qual eu estivesse cercado consegui-las. A frustração é
inevitável, mas melhor com ela do que com o convencimento de que se
é a palavra final em algum assunto.
Comentários