engano
ela não era mulher. quem se importa. pra mim era. pros outros, vão ao diabo. o delegado não sabe? coração a gente não manda. a danada foi entrando, entrando e se instalou. não saiu mais. como a gente se conheceu? foi em um arrasta pé. tava bonita aquela noite. vestida de festa. a mulher mais bela que já vi. sem brincadeira, doutor. eu, não desconfiei não senhor. que homem, no meu lugar, desconfiaria? dificil. tirei pra dançar. os olhos gordos dos outros pares me comiam a nuca. pele macia. a voz rouca. de gritar com as crianças, ela me convencia. são dois. um de três e outro de oito anos. dali a mais tempo, me deu endereço. passava pela rua, piada. mandava para o quinto dos infernos. gente desocupada. e vivia a minha felicidade. a noite toda me refestelava. saía de manhã para o trabalho. comedor de veado, um negro forte, sai de perto de mim. e se não saísse me esmurrava. despeito. à noite, perguntava a ela que história era aquela. me sorria tão bonito. me esquecia do caso da briga. vamos casar, amorzinho. véu e grinalda. aquilo mexeu comigo, doutor. o pastor não quis. me chamou no canto, você está maluco rapaz? eu, não senhor. está sim. saía daqui sem-vergonha. não arrumei jeito. painho casa a gente no terreiro dele. não liga pra essa gente, meu bem. na noite de núpcias, estava incomodada. só de luz apagada. como era bom. doutor, me arreliavam. minha família me deu às costas. meus amigos não me topavam. lá vai o comedor de xibungo. levava pelas costas. um dia, saí mais cedo do trabalho. uma algazarra no quintal de casa. um monte de efeminados. o som alto. e lá, o meu amor. entrei sem falar nada. o som estancou. ela correu pro nosso quarto. não é nada disso, amor. tira a roupa. eu tiro, apaga a luz. vou fazer você feliz um pouquinho. luz acesa. tira, porra. aí eu matei, doutor. matei.
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