Oswaldo Montenegro, um enigma(?)

Oswaldo Montenegro é um enigma na música popular brasileira. As novas cantoras não regravam ou pedem músicas ao menestrel; as consagradas não mencionam seu nome, não tem no repertório sequer um sucesso do artista, em suas entrevistas não reclama da fama de chato, inclusive já fez canção com a gozação, encara numa boa as censuras recebidas, a de brega parece nem mesmo amolá-lo. Tem sorte no amor, isto parece recompensá-lo. No currículo do conquistador, consta o nome de Paloma Duarte, jovem atriz.

Outro dia, escutando novamente as canções de Oswaldo Montenegro me deparei com a Lista, que depois de Epitáfio, defendida pelos Titãs, disputam o título da canção mais brega que já ouvi. Não posso acusá-lo de mau gosto, mas a música, extremamente sentimental não possui a contenção necessária que a levaria a elegância de canções como Naquela Mesa, cantada de maneira exímia por Nelson Gonçalves. Outra canção, que me soa um disparate como letra, é Lua e Flor, só comparável com Açaí, de autoria de Djavan. As duas disputam cerradamente qual detém a pior imagem, porque não se pode falar de metáforas. Em determinada parte da letra, com licença poética exagerada, o compositor comete :

“Eu amava
Como amava um pescador
Que se encanta mais
Com a rede que com o mar”


Nas Canções Praieiras, de Dorival Caymmi, isto não seria encontrado. Qual o pescador que se encanta mais com a rede do que com o mar? Só aquele que está fora de seu juízo perfeito, porque o mar é o grande mistério a ser conquistado pelo homem. O exemplar poema de Fernando Pessoa, em Mensagem, Mar Português, traduz perfeitamente este sentimento. Oswaldo Montenegro persegue uma maneira personalissima de composição. Na revista de O Globo, Jorge Mautner saiu pela tangente quando pediram uma definição para seu companheiro de armas e ofício, escorregou e, adepto da diplomacia baiana, disse sem ter nada dito para não se comprometer.

Oswaldo Montenegro permanece um enigma, mas somente para os delicados. Ele mesmo já declararou, parece que no Festival de Cinema de Brasília, quando da exibição de Léo e Bia, que a canção a Lista não é para ser levada à sério. Isso mostra que o compositor tem auto-crítica e pode ter salvação. Mas o meu veredito, por menos que importe, é que o Menestrel é um artista menor, no que não há nada de errado. Manuel Bandeira se intitulava um poeta menor, mas basta folhear sua obra para descartamos essa opinião. Oswaldo Montenegro é um artista menor que faz questão de tornar menor também aquilo que realiza. E isto é imperdoável.

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