Missivas Sobre A Copa de 2010

Brasil fora da Copa, Aurea fora de órbita




Amigo... pronto para ler uma epopéia?

Belle queria pintar a acasa de vovô de verde e amarelo, se encantava com todos os badulaques temáticos e falava com empolgação sobre a importância do Brasil ganhar a Copa. Isso tudo antes de começar o certame. Cheguei a comprar tinta de rosto e gel que colore o cabelo, e vovó não resistiu a uma camiseta amarela com o mapa do Brasil em strass. Tudo pela torcida de uma pessoa só. Ela.

Quando começou a onda do album de figurinhas - "que todo mundo na escola tem, mamãe!" tentamos explicar que esporte era muito divertido, mas que não fazia diferença de verdade para a vida do país se o Brasil perdesse ou ganhasse. Que o objetivo dessa onda verde e amarela era vender mais e mais coisas, para a loja ficar rica, enquanto quem compra fica cada vez mais pobre. E que mamãe estava devendo quase mil reais no banco, não tem como gastar com coisas que não fossem absoluta prioridade de vida, fora do ciclo - comida, escola, remédio, transporte e afins. Num primeiro momento parecia que o recado estava entendido. Pero no mucho...

Na estréia do Brasil, ela ficou amuada pq queria assistir o desenho animado em vez do jogo. Quando gritavam gol ela ia ver o que aconteceu, comemorava e só. Em seguida voltava para os brinquedos.

No segundo jogo, um pouco antes, estávamos em meio a guerra matemática. Quando ia começar a partida, mandei parar tudo para ela curtir o momento tão esperado. Colocou a tal camisa do mapa do Brasil, o short verde, pintou os cachinhos de verde e amarelo. Mas em vez de ficar para ver o jogo, quis ficar no quarto com as bonecas. Entretanto, caro Diego Galvão, aqui a regra é clara, e sem acabar o dever de casa, nada de brincar: caso clássico de impedimento. E passamos o jogo todo com ela inventando resultados para a lista de exercícios, e a mãe apitando a falta. Ela imaginou que pq estávamos em concentração sobre Kaká e cia, não estávamos de olho no lance. E que iríamos validar 22 -16 como 77 no ato.

Mas mãe é mãe, e é um olho no juiz e outro na bola. Depois da 4ª vez do chute à jabulani da mocinha, peguei-a pelos colarinhos e brigamos feio. Depois de levar um cartão vermelho e ir mais cedo para o chuveiro, a mocinha entendeu que a mãe não é burra e nem boba, e que mesmo assistindo à partida o único resultado que importava era o dela e das continhas. Depois do jogo, calma e sem enrolação fez tudo certinho, em menos de 15 minutos. Faltava mesmo era boa vontade.

Depois deste dia traumático, a mocinha resolveu se engajar mais no futebol. Percebeu que era prejuízo não ver o jogo, se o tempo não era livre: se convertia em prorrogação para o dever de casa. Então se empolgou, pediu a camisa do Kaká e uma peruca verde e amarela para torcer na escola. Papai se encarregou da camisa, e mamãe rodou o saara para encontrar a peruca baratinha. Ela se paramentou, mas o Brasil ficou devendo. Foi o 0x0 de Portugal.

Na partida seguinte, a dramática contra a Holanda, o stress começou na quinta-feira à noite. A escola funcionaria à partir das 14:h com aula de revisão para a prova de hoje. E, a nossa supergênia se sai com esta: "não vou para a escola pq revisão não é aula!" E não fez o dever de casa que tinha que entregar depois da partida.

Em família, o combinado era este; ela ficaria conosco em Bonsucesso pela manhã, almoçaria em família e nós a levaríamos para a escola . Então, na quinta feira à noite levamos a mochila para casa.

No dia seguinte, como vovó saiu sem mochila, a mocinha teve certeza de que sua conversa mole colou. De salto alto, cantou vitória. Tinha certeza de que não iria à escola. Mas ao chegar na casa de Bonsuça, descobriu a armação, ao ver a mochila, no quarto. E começou a ladainha, antes do jogo, na maior malcriação do mundo, desarrumando aos berros o quarto recém arrumado. E não adiantavam argumentos de que sim, revisão é aula, ainda mais para quem estava brigando com os números desde sempre e não, pai e mãe tinham que ir trabalhar depois do jogo e não dava para levar a mocinha junto. E este foi o clima de jogo: Brasil perdendo, stress isabeliano, um dever de matemática feito aos trancos e barrancos, muito choro, alguns risos do patético da situação, cachorro querendo consolar a criança.

Mariel logo logo descobriu pq o Brasil perdeu: culpa de Isabelle que em vez de torcer, ficou fazendo malcriação. Ah, se o Dunga sabe disso!!!!!

A 5 minutos da aula, já uniformizada e almoçando, veio a cartada final: "meu ouvido está doendo, por isso eu não vou para a escola! " Linda, né? Ao que respondemos: "nós dois vamos trabalhar, vovó e vovô também estão trabalhando, e não tem ninguém para ficar com você. Depois da aula a vovó leva vc ao médico e resolve o seu problema, tá?"

Não precisamos contar que até o final da aula a dor de ouvido desapareceu, né?

Mas teve prorrogação: no dia seguinte era o casamento do meu primo, e Isabelle só falava nisso já a dois meses. Pela zona que tocou em casa no dia do jogo, ficou de castigo. Proibida de ir à cerimônia. Aí, quem tomou as dores da pobre criança foi vovó, condoída pelos maltratos aplicados por pais que não amam os seus filhos... Como não permitir que a pequenininha curtisse esse momento único e figurasse nos albuns de família para a posteridade???

O bichinho da malcriação havia contaminado Iraceminha, e eu tive que ouvir em triplo: no dia anterior, Isabelle e suas manhas; no dia do casamento, Iracema dando escândalo em favor da Belle e Mariel reclamando pq eu ia, e era longe, o caminho perigoso e eu ia voltar tarde.

É amigo... tem dias em que só o Menelau salva (rsrsrsrs)

Beijos a todos!!!!
Aurea




Em 5 de julho de 2010 14:55, diego mendonca dos reis escreveu:

Amiga Aurea, preciso saber como voces reagiram com a derrota do Brasil. E Belinha?
Igor ainda não se liga muito.Mas pensei na Belinha quando vi um garoto na arquibancada chorando.
Adriana torcia para Argentina por causa da fanfarronice do Maradona. Depois que Brasil perdeu torci para Gana. Depois fui para o Paraguai. Enquanto te escrevo estou com o Uruguai.
Podemos falar com nossas crianças sobre o quanto a arrogancia é ruim. E não só visar o lado técnico da vida.
Beijos

Vê um dia aí no final de semana para a gente marcar de ver todo mundo. Na quinta. no museu, no aterro..vcs que sabem.

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