Surrealismo Tardio e a Obra de Braga Tepi
Com o entusiasmo arrefecido, observamos que há uma nota de um surrealismo tardio nas esculturas de Braga Tepi. A obra “O Visionário” é um exemplo de diálogo com esta corrente, sua imagética não me parece original, gasta com as repetições freqüentes executadas por Salvador Dali. Não apresenta o resultado que deveria no espectador, não transmite angústia ou a asfixia por não ter livres os membros para reagir contra a realidade invasora.
O rosto vazado para que enxergue a si próprio quando contemplada, com seu oco abissal não detona em nós a inquietação que outrora sobressaltava os freqüentadores dos salões surrealistas. Talvez porque na época deles existissem sonhos e posições políticas pelas quais cada homem teria de se decidir. Agora vivemos essa dissimulação consumista embalada por ideologias passageiras veiculadas pela mídia, tornando-nos seguidores de causas temporárias, escravos de plataformas políticas provisórias de ação social ou econômica.
A peça “Andarilho” é notadamente a mais indicativa desta presença, porque podemos compará-la estruturalmente com a escultura Vênus Atravessadas Por Gavetas. Enquanto que esta é sinalizada pelas gavetas, aludindo ao mistério do inconsciente, aos alçapões onde estaria repousando a verdade humana, Braga Tepi substitui as gavetas por engrenagens que significam a mesma coisa. Nisto percebemos que o artista não consegue superar o modelo adotado como parâmetro – talvez Salvador Dali – se é o caso de uma intertextualidade, não há força (transvaloração) na confecção das obras nem a ironia própria das desconstruções.
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