Estação Pavuna – Estação Samba.

O gênio é um homem discreto, caminhando pelas ruas do bairro. Leva nas mãos o cavaco. Ele olha as paisagens investigadas em suas canções. Desenrola uma idéia sadia com a rapaziada. Dá atenção aos tipos que ninguém pararia para ouvir. Acena para mulheres que ninguém ousaria cumprimentar. Sempre com um sorriso afável, convidativo, acolhedor.

Marcamos o encontro na Estação da Pavuna, na Praça Copérnico. “A meu jeito eu também construo meu sistema solar” sentencia Carlos Alberto dos Santos, sem saber direito que está filosofando. Atira ao redor uma melodia conhecida com seu instrumento, emendando com a voz:

“Agora/Lutar por você com palavras/ Pode ser uma luta muito vã/ Entretanto são muitas as manhãs/ E eu pouco para te amar”

Sabe que no amor as palavras têm pouca força para traduzi-lo em seu turbilhão e percebe que quem ama sempre se esgota na manhã seguinte para se reinventar no amor e na maneira que ele renasce para o outro.

Carlinhos – como ele prefere ser chamado – é um faz – tudo, “assim defendo os trocados para os guris”, mas mantêm uma sensibilidade e um rigor na composição que lembra os mestres como Candeia, Ismael Silva e Cartola.

Ele se constrange quando comparo seu talento “Não, esses aí são cobras, eu tô me criando, um dia chego lá”.


Não faz por menos quando na lista de suas preferências coloca nomes como Jorge Aragão e Martinho da Vila. Carlinhos, que teve a instrução escolar interrompida, impressiona com composições como esta:

“Nas ondas do mar/ Eu naveguei/ Na sombra do seu amor / Me banhei//A branca vela no horizonte/ A malha do meu jererê/ Pescador de alma insone”

Penso em como ele constrói as imagens de alguns sambas, ele parece adivinhar e completa “vem naturalmente”.

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