As comunicações dominicais de Alexandre Soares Silva possuem uma leveza ou uma disponibilidade de espírito possível apenas a um sujeito rico retirado do mundanismo paulista ou com uma inequívoca iluminação obtida com iogue em um ashram na terra dos bandeirantes em que feitos assim são comuns a um grupo escolhido. Outro ponto prejudicial às comunicações é a recepção manifestada por uma parcela dos assinantes com a intenção de popularizá-las. Em uma delas, a contraposição do romance realista com o romance de fantasia, uma observação correta sobre a transcendência do último sobre o primeiro pela presença do sobrenatural, é estragada. Alguém disse, em algum lugar, que a literatura d esse tipo é otimista pela presunção de um mundo espiritual, ainda que terrível. A hipótese da riqueza de Alexandre Soares Silva não é absurda. A recorrência ao termo aristocracia em suas entrevistas reunida a gola rolê - prefiro a denominação chique turtleneck - peça presente no vestuário masculino europeu ...
O calor das ruas estava insuportável. O bairro de Botafogo asfixiado pelo trânsito e sirenes, os prédios esgueirando-se para chegar ao céu como a Torre bíblica, e, nas janelas a existência congelada de uma parcela da população aposentada, desempregada, ou, simplesmente de homens que apenas observam a paisagem móvel e multicolorida, instantânea das multidões. A multidão, este monstro, arrastando-se pelas ruas, desatinada e intranqüila, desaguando nas portarias dos edifícios, escoando pela abertura dos bares, lojas e shoppings como por um ralo que mais a frente confluísse para uma nova rua e sistematicamente tudo isso voltasse a acontecer. Meu olho fixo no chão, empurra para trás a saudade da minha terra, longe, de infinitos horizontes, onde repousa o homem na sela de seu cavalo, sentindo o vento frio das cordilheiras, acossado pelo sotaque dos vizinhos. Lembranças que carrego comigo dentro dessa metrópole, nessa cápsula que é o meu corpo a me conduzir como um estímulo nervoso pelas célu...
Duas Palavras Sobre o Ensaio Não há acordo em torno da definição do que é ensaio. Embora permaneçam contradições acerca de suas características e objetivos, decidimos por situá-lo como um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo idéias, críticas, reflexões éticas e filosóficas a respeito de certo tema . É uma definição elástica o bastante e permite-nos a condução do assunto para as suas origens. A primeira vez em que se ouviu falar a palavra ensaio foi através do escritor e filósofo francês Montaigne que assim intitulou uma de suas obras, Ensaios, publicada em 1580. Outra ocorrência da mesma palavra se dá na Inglaterra, em 1597, com o filósofo Francis Bacon, publicando obra homônima da de seu companheiro de profissão. Há, naturalmente, divergências quanto ao surgimento do ensaio e muitos não hesitam em apontá-lo já presente, como forma, na Antiguidade, representado por Platão, em seus Diálogos, cabendo a Bacon e a Montaigne não apenas a classificaç...
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