A Primeira Lição : A Vida

(Sobre a descoberta da doença e o estado de confusão psicológica)

- Mariel, hoje eu saí à rua. Não pude evitar em sentir inveja. Até me reprovei por ter um sentimento assim, mas não deu jeito. Olhava os casais, as crianças brincando, os vizinhos lavando o carro, tudo o que eu sentia era inveja, porque eu não poderia viver mais? Porque está doença se arrastava sorrateiramente dentro de mim? Por quê? – Era o que eu me perguntava. Não estava acreditando que a morte tinha se infiltrado dentro dos meus músculos. Nem que agora forçava passagem para penetrar na minha mente. Aqui ela não pode morar, disse a mim mesmo, não posso hospedar a dor durante tanto tempo, não quero. Tento me distrair, volto minha atenção para outro lugar, para outras coisas, mas nada me parece mais urgente que a idéia da morte, como essas notícias que antes pareciam presas em algum lugar distante ganharam vulto ultimamente. Agora tudo parece colado em mim. Mesmo a morte mais insignificante.

(Sobre a angústia por encontrar um doador)

-Qual é, meu primo? Tudo bem aí com a família? Eu estou ainda por aqui. Talvez permaneça internado durante mais algum tempo. Não saiu o resultado do exame do Carlinhos, o que me preocupa, mas creio que dará tudo certo. Não é mesmo? Mas é como jogar na loteria, achar alguém com MEDULA compatível é como ganhar na loteria, mas eu me esforço todos os dias para que o bilhete premiado seja meu.

(Sobre o período de internação longo)

-Meu primo diz aí como um homem consegue ficar trancafiado dez anos numa cadeia sem se matar?

(Sobre a alta na quinta – feira)

- Alexandre já está de alta. Venha nos visitar amanhã. Ele gostará de vê-lo. Não, ele não está abatido, estou tentando integrá-lo ao máximo ao cotidiano da casa. Hoje mesmo ele levou nossa filha ao hospital MARCILIO DIAS. Ela estava com uma dorzinha no peito, como ela tem aquele probleminha da válvula do coração, resolvemos que seria melhor um exame de rotina. A única coisa que o aflige é não conseguir dormir, só mesmo a base de remédios. Parece que tem medo. O escuro tem o atormentado bastante.

(Sobre a Quimioterapia)

-Meu primo a bateria de quimioterapia está sendo uma tortura para o meu corpo. É como se injetassem ácido nas minhas veias, é como se eu começasse a derreter, só que por dentro.

Os trechos de conversa acima são pinçados das várias comunicações com meu primo Alexandre que enfrenta o problema de LEUCEMIA. Na quinta – feira, feriado, fui buscá-lo no hospital, estava de alta, parecia animado, revigorado pela visão dos familiares.
Pretendo escrever sobre essa experiência ( DOENÇA) tão logo possa compreendê-la completamente, sem deixar escapar nenhum nuance.

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