Carta Para Tobias
Alguns romances possuem premissas excelentes, contando apenas consigo próprios dariam livros inesquecíveis, talvez clássicos que nos acompanhassem por toda uma vida, mas concorrendo com a colaboração de determinados escritores, arriscam-se a ser mal – escritos, às vezes aquém do que mereceriam, se pudessem contar com uma geração espontânea, aparecendo como mágica nas prateleiras das lojas, nas estantes das bibliotecas, e, na escrivaninha das casas.
Digo isso por ler um romance estrangeiro que me havia impressionado bastante com a propaganda em torno dele, mas o fator principal era de que pertencia a um escritor experiente, alguém premiado, contando com uma fortuna critica de dar inveja, entretanto com o aproveitamento quase zero no desenvolvimento de sua estória. Talvez diga isso por me ocupar da leitura como um objetivo principal, e durante o seu ato, reescrever muitas das vezes o livro lido, com as possibilidades desprezadas pelo autor. Acredito que todo o leitor tem a obrigação de uma leitura construtiva, porque através dela é que percebemos a fragilidade ou a força com que um enredo é disposto, sabendo quais pontos valorizar numa estória e como contá-la, mesmo que no seu interior não haja um gérmen de grande inspiração, o que contará é a abordagem que a inventividade do autor inseminará naqueles trechos que julgaríamos sem vida alguma se nos fossem contados em uma mesa de bar. Se o escritor ousasse confessar que aquele material se tratava de seu novo livro, riríamos, porque não veríamos nele o apelo necessário para transformá-lo naquilo que por vezes chamamos de arte, erroneamente.
O autor é um americano. O romance se passa em uma escola tradicional onde os alunos disputam uma audiência privada com o maior escritor do período em que é passada a história – o escritor é um personagem verídico, abrindo inúmeras possibilidades de diálogo para a narrativa do livro. O autor premiadíssimo parece não ter percebido que perdeu o controle do foco narrativo, montando mais um painel de costumes do povo a que pertence do que realmente discutindo à sua vida de escritor como era sua pretensão.
Outros romances se encaixariam nesta categoria, mas é melhor adiarmos leituras assim para depois de nos ocuparmos com as obras clássicas que desenvolvem em nós, leitores, a percepção do costumeiro e do necessário em uma narrativa. É claro que num grande romance devem constar os dois ingredientes, dosados pela sensibilidade do escritor para que ambos se mantenham dentro de um equilíbrio, onde o criador se esforçará por mantê-los atrelados ao assunto principal para o qual devem servir de esteira, sem o menosprezo com que às vezes são tratados por escritores inexperientes.
Em uma novela televisiva é possível ver se entrelaçarem ambos, embora sem a complexidade do romance, é um bom observatório para se estudar o comportamento das camadas narrativas, mesmo que se acuse essa linguagem de esquemática, enrijecida e imutável. Porque nada se perde em se sabendo fazer o comum em matéria narrativa, porque aguçamos com isso nossos sentidos, educando-os esteticamente para vôos mais altos e mais seguros. O escritor americano parece que desaprendeu isso, mas sempre há tempo para um recomeço.
Meus Dias de Escritor
Tobias Wolff
Ed.Ediouro
R$ 34,90.
Digo isso por ler um romance estrangeiro que me havia impressionado bastante com a propaganda em torno dele, mas o fator principal era de que pertencia a um escritor experiente, alguém premiado, contando com uma fortuna critica de dar inveja, entretanto com o aproveitamento quase zero no desenvolvimento de sua estória. Talvez diga isso por me ocupar da leitura como um objetivo principal, e durante o seu ato, reescrever muitas das vezes o livro lido, com as possibilidades desprezadas pelo autor. Acredito que todo o leitor tem a obrigação de uma leitura construtiva, porque através dela é que percebemos a fragilidade ou a força com que um enredo é disposto, sabendo quais pontos valorizar numa estória e como contá-la, mesmo que no seu interior não haja um gérmen de grande inspiração, o que contará é a abordagem que a inventividade do autor inseminará naqueles trechos que julgaríamos sem vida alguma se nos fossem contados em uma mesa de bar. Se o escritor ousasse confessar que aquele material se tratava de seu novo livro, riríamos, porque não veríamos nele o apelo necessário para transformá-lo naquilo que por vezes chamamos de arte, erroneamente.
O autor é um americano. O romance se passa em uma escola tradicional onde os alunos disputam uma audiência privada com o maior escritor do período em que é passada a história – o escritor é um personagem verídico, abrindo inúmeras possibilidades de diálogo para a narrativa do livro. O autor premiadíssimo parece não ter percebido que perdeu o controle do foco narrativo, montando mais um painel de costumes do povo a que pertence do que realmente discutindo à sua vida de escritor como era sua pretensão.
Outros romances se encaixariam nesta categoria, mas é melhor adiarmos leituras assim para depois de nos ocuparmos com as obras clássicas que desenvolvem em nós, leitores, a percepção do costumeiro e do necessário em uma narrativa. É claro que num grande romance devem constar os dois ingredientes, dosados pela sensibilidade do escritor para que ambos se mantenham dentro de um equilíbrio, onde o criador se esforçará por mantê-los atrelados ao assunto principal para o qual devem servir de esteira, sem o menosprezo com que às vezes são tratados por escritores inexperientes.
Em uma novela televisiva é possível ver se entrelaçarem ambos, embora sem a complexidade do romance, é um bom observatório para se estudar o comportamento das camadas narrativas, mesmo que se acuse essa linguagem de esquemática, enrijecida e imutável. Porque nada se perde em se sabendo fazer o comum em matéria narrativa, porque aguçamos com isso nossos sentidos, educando-os esteticamente para vôos mais altos e mais seguros. O escritor americano parece que desaprendeu isso, mas sempre há tempo para um recomeço.
Meus Dias de Escritor
Tobias Wolff
Ed.Ediouro
R$ 34,90.
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