Era uma vez na terra do grampo...
O juiz Sérgio Moro, responsável
pela condução das investigações da Operação Lava Jato, numa austeridade
suspeita, revela, com a liberação das gravações entre o ex-presidente Lula e a
presidente Dilma, que não são ilegais, porque Lula é um dos investigados dentro
do esquema de corrupção, que as afirmações de Delcídio Amaral, senador também
implicado na Lava Jato, na delação premiada possuem, pelo menos, relevância.
Isto não é uma adesão à República de Curitiba, como definida por Lula em uma de
suas conversas com Jacques Wagner e com a presidente Dilma em um dos grampos,
porém significa constatar que cada vez mais o país está embrenhado em um
intrincado labirinto. Jacques Wagner, numa das gravações, refere-se ao ex-líder
do governo Delcídio Amaral como um “canalha” e não como um simples mentiroso –
o que é curioso. A diferença entre os dois conceitos salta em um escrutínio
detido: um canalha me parece mais próximo a um traidor do que a um mentiroso. As
gravações, de teor grave, conseguida através dos grampos da Polícia Federal,
requerem uma reação tanto da parte dos envolvidos – Lula e Dilma -, se
constatada irregularidade [batalhas técnicas serão travadas em relação à duração do grampo e sua validade jurídica], mas também dos atingidos que devem
cobrar nas instâncias corretas as reparações cabíveis. A reinvenção do país,
ainda que enlameado, é possível desde que sem a falsificação das prerrogativas
que o norteiam: a liberdade para apuração dos fatos e a autonomia dos
organismos competentes. Ali, no grampo, estão vozes conhecidas de todos nós;
podemos escutá-las, mesmo após a condenação do vazamento, sempre seletivo quando
o atingido não se trata de nosso adversário, ou podemos ignorá-las, evitando o
aprofundamento da cisão que grassa o país, construindo uma saída com as frentes
parlamentares disponíveis, sem necessidade da exposição da fratura. Os dois
caminhos são viáveis, porém qual deles será aquele que melhor fará nossas
consciências silenciarem sem conflitos?
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