Andy, o amoroso

Sempre gostei da Parmalat. O comercial com os pequenos animais da floresta estimularam minha criatividade. Ninguém é culpado por eu gostar do carnaval e de fantasias. Talvez, nascido no Japão, tivesse me tornado um celebridade local por andar fantasiado e distribuir balões de gás ou flores aos transeuntes da metrópole.

A revista Marie Claire, em 2000, em uma enquete a respeito do Dia dos Namorados, saiu atrás de histórias inusitadas a respeito da data comemorativa. E minha filha, curiosa a respeito de sua própria história, resolveu investigar meus arquivos e lá estava a revista com a reportagem que reunia vários casais daquele ano.

Como fiz muitas excentricidades, afinal, em se tratando de chamar a atenção de uma atriz teatral que rodava em premiações como o troféu Henriqueta Brieba, não poupei esforços. A revista decidiu-se por um dia em particular, entre todos os outros narrados por mim: o dia de minha declaração de amor. Talvez por ter sido - a um só tempo - engraçada, vibrante e surpreendente.

O diretor da companhia era um sujeito diferente para alguém de teatro: pontual, sóbrio e, sobretudo, metódico. Reuniria o elenco em um antigo clube na rua do Riachuelo - a sede foi demolida - e ali estava a minha chance. Eu tinha um agente infiltrado: um amigo. Ele não se decidia se queria ser padre, revolucionário ou ator. Ele era o responsável pela encomenda das quentinhas para o almoço. A minha oportunidade estava ali desenhada: eu entregaria as quentinhas desde que conseguisse a concordância da fornecedora. Aluguei uma fantasia de Panda; minha ambição era a de coala, mas, no mercado, não se têm muitas delas dando sopa. Comprei flores e entrei no ônibus em direção ao centro da cidade. Durante o trajeto, confundiam-me com um doutor da alegria e me enchiam de perguntas sobre hospitais que não visitei e crianças que nunca vi.

Meu amigo me telefonava, monitorando meus passos e o avanço da estratégia. Quando cheguei ao endereço da fornecedora de quentinhas, com a flores mais para lá do que para cá e o cabeção de panda embaixo do braço, quase me chamaram o carro do hospício. O entregador, sem espanto, disse, Você é ator, né? A mulher relutou mas, contada minha história, aquele coração enternecido resolveu me ajudar.

Toquei a campainha e o meu amigo abriu o portão da sede. O diretor quando viu um Panda na entrega das quentinhas, perguntou, Que porra é essa? Depois de colocá-las sobre umas mesas plásticas, subi ao pequeno auditório, retirei umas folhas amassadas do bolso e falei, longamente. O elenco aplaudiu. O diretor, estupefato, perguntou, É telegrama falado? É pegadinha essa porra? O cabeção do Panda dançou na minha cabeça e o suor provocou o nascimento de cascatas nas minhas sandálias e no carpete.


Saído da estupefação, o elenco, compenetrado, resolveu tirar o Panda canastrão de cena. Retirei o cabeção, olhei para ela e disse que a amava. Ela reagiu, Tirem daqui esse maluco! Meu amigo, o agente infiltrado, me consolava, Foi lindo! Bravo! O diretor reclamava, Gentinha filho-da-puta! Sempre querendo um biquinho...Ela só quis saber do Panda quase um ano depois.

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