Minha recente poesia vista por André Ferraz
Natureza
Morta em Versos
André Ferraz
Há
no que diz respeito à poesia de Mariel Reis, no campo imagético de
seus novos poemas, a presença um tanto singular das pinturas
chamadas de naturezas mortas. Em seu conteúdo, apesar de engenhoso,
transparece as características de uma infusão de metáforas
referentes a objetos e aspectos contidos em membros vegetais. É
inventivo, em falar de forma impessoal, sem um envolvimento
apaixonado na admiração dos versos.
Mariel
já vinha criando um estilo próximo desses mesmos poemas no seu
primeiro livro de poesia denominado “Cosmorama”. Mas o fôlego
não cessou por aí.
Continuou a investir critérios de personificação
e símile nos
poemas que adivinham de sua escrita.
Temos:
“A
copa da árvore
Acesa
em sons
Desperta
a manhã.”
ou
“Sobe
perfume
Do
fruto aberto
A
língua quer redimi-lo.”
Tanto
em um quanto no outro poema existem sinais que misturam imagens não
só vistas pelo ângulo do expectador quanto do experimentador. Veja
que o mesmo homem que vê a manhã despertar parece ser a própria
árvore repleta de passarinhos. E a mesma língua que prova do fruto
de uma árvore frutífera, também possui esse fruto; o perfume igual
ao cheiro do corpo de uma mulher.
A
natureza aqui parece mesclar-se com o aspecto vegetal/humano. E o
homem, o Filho da própria Terra. “Nascido do barro” - advém um
caráter sagrado em sua poesia. O caráter sagrado, quanto
fotografado, estático feito uma pintura, está contido em seus
poemas.
Vejamos
mais três deles:
“Sexo
inflado
Balão
de gás
Em
sua mão.
Tufo
de pelos
Arrepiados:
Abrigo
do quarto.”
“Entre
dois amores
E
um hábito:
O
frescor do meu hálito
Meu
coração é um frei
Em
total contrição
Desobedece
a lei.
“As
duas línguas
Confundidas
Descobrem
o idioma
Que
dialogam
Os
espíritos
Dentro
dos corpos.
As
cabeças concordam
E
descobrem diante
dos
argumentos.
Embora
os amantes
Tenham
o pensamento
Que
o amor é o mais
feliz
dos jogos.”
Aqui
existe uma dormência. Ou uma certa paralisia. Ao lidar com o corpo
interposto. E as imagens continuam como a de um expectador de uma
fotografia ou pintura, tornando o poeta isento da ação tomada nos
poemas. Porém, há o advento da culpa, no fato de solidarizar-se com
um segundo amor. A presença do hábito do monge com o hábito da
repetição de atos talvez torne esse falar fresco, cheio de
malemolência e a penitência pelo flerte, um sinal de aviso.
A
personificação da ereção igual a um balão de gás onde o quarto
é o próprio parque de diversões. E o que é o meu poema favorito
que se torna único pela sua presença por ter sido materializado.
Há
nesse poema a presença de um diálogo e uma confusão seguida de um
beijo, que talvez alcance o espírito em sua experiência pela
afinidade que existe entre eles.No entanto, há concórdia com a
opção de um amor maior, que não se resume apenas ao conjugal e que
torna feliz a relação por ser o jogo que quem ganha; sai de si
mesmo. Tornando-se observador do fato como um turista numa viagem.
Mariel
parece-me o expectador de si mesmo na participação de sua vida
literária. E também um confessor, onde faz da escrita objeto de
transcendência e divergência das escolhas, das tolices, do olhar
para natureza, dos amores.
Siga,
não pare na pista. Seu dilema é o de muitos na humanidade. Obrigado
por universalizá-los através da literatura. E fazer isso com
excelência.
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