Foto fatal
Pela
manhã, num café no Alto da Boa Vista, após uma caminhada na
floresta, sou avistado. Embora minha memória não tenha sido afetada
é bastante difícil reter na lembrança todo o vivido. Ela acenou,
pediu licença e se identificou. Lentamente a minha recordação
voltou. Sempre cultivei – em todos os períodos de minha vida –
poucas amizades. Preservo minha intimidade ao máximo. E só quando
uma ligação real surge, ocorre a mudança em que já permito
alteração de cláusula. Nesse período, estudávamos para o
vestibular. Ela me parecia agradável e interessada. Os sinais
contrários eram muitos, embora não entendia como podia ignorá-los.
Alguns meses depois – cinco – , após as aulas de Química, uma
matéria na qual tinha especial talento, ela pediu que minha
explanação se interrompesse e disse que não aguentava mais. Ou eu
era cego? A mãe dela se surpreendeu, levantei-me e sai. Nunca mais
voltei à casa, nem à pessoa. Ela sorriu e me mostrou um jornal com
uma entrevista minha antiga. Desculpou-se pelo passado. Perguntei se
ela, com a opção da época, fora feliz com a interrupção do
projeto. Fez que não separada, com um filho que brincava na pracinha
– me apontou com o dedo o menino – ela se referiu ao que
conversávamos – exatamente a minha boa vontade. Disse a ela que
não era nenhuma Teresa ou Dulce mas já não me interessava. Ela se
entristeceu. E asseverei que a fortuidade de um jornal não me fazia
melhor do que ninguém. Ela murmurou que não era pelo jornal, mas
pela atenção que até ali, excetuando os seus pais, não havia tido
de mais ninguém.
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