Meu Dragão Doméstico - ESboço de Estória Infantil
Um dia, contrariando as ordens de meu pai, não resisti. Pedi que fizesse uma pausa. Ele me olhou com cara de poucos amigos e perguntou:
- Você quer ir ao banheiro?
- Não – eu respondi, aliviando minha barra. Mas ele emendou:
- Então pra quê você me interrompeu?
Não disfarcei. Disparei logo minha pergunta:
- O que é um dragão?
Meu pai não se fez de rogado. Antes que eu esboçasse qualquer reação, respondeu:
- É um réptil com asas. É um lagarto gigantesco que cospe fogo e voa. Agora posso continuar a história?
Fiquei quieto até terminar a leitura. Isso pareceu deixá-lo satisfeito. Saiu com ares de sábio depois da explicação que me deu sobre os dragões. E encerrou nossa conversa com o aviso de que se o interrompesse outra vez desistiria de contar o restante da história.
Comentava com um garoto, vizinho meu, sobre os seres que me visitavam através das narrativas, me esforçando por transmitir o impacto recebido como na primeira vez em que as ouvi. Mas o meu amigo não se convenceu, taxando meu pai de um grande mentiroso e que se eu não me cuidasse iria pelo mesmo caminho.
Aquilo me chateou muito.
Resolvi não dividir mais nada com meu vizinho, decidi que investigaria sobre o desaparecimento dos dragões. Porque se há vestígios da passagem dos dinossauros sobre a Terra, por que não a evidência de dragões? Meu pai tem um amigo esquisito. Ele fica monitorando o céu durante a noite e fica acordado até o amanhecer, acompanhando aparições de luzes brilhantes. Ele insiste que somos observados por seres de outro planeta.
Uma vez resolvi acompanhá-los. Subimos ao terraço, montamos acampamento para policiar o aparecimento de tais luzes. Quando meu pai pediu que eu olhasse pelo luneta. E vi um traço brilhante, rápido, cortando uma faixa do espaço. Eu não acreditava nos supostos seres de outro planeta do amigo do meu pai e me pronunciei:
- Os dragões, cansados de viver na Terra, escolheram o céu para habitar. As luzes brilhantes são o resultado da cusparada de fogo que constantemente lançam para não se engasgarem.
Meu pai e seu amigo riram muito, mas não me reprovaram. Culparam minha imaginação pelo exagero.
O amigo do meu pai, percebendo meu interesse por dragões, não hesitou em me contar a curiosa história de um homem que morava na Lua.
- Como se lá não tem ar? – perguntei. Ele não ligou muito para minha observação. Prosseguiu, pedindo silêncio e atenção.
O homem, o tal que morava na Lua, caçava dragões por gosto. Montado em seu cavalo, perseguia e matava esses terríveis animais que ateavam fogo as plantações e as aldeias, dando um prejuízo enorme aos reis.
Isso me entristeceu bastante, não era culpa dos dragões se cuspiam fogo. Imaginem que eles sofressem de uma gripe rara, espirrando aquela língua de fogo, sem controle? E nunca ouvi falar em campanha de vacinação para dragões.
Fui dormir entristecido.
No dia seguinte, meu pai vendo meu abatimento, encontrou um modo de me consolar. Primeiro criticou severamente o tal homem que morava na Lua, afirmando que não era bem assim que as coisas aconteciam. Algumas vezes os dragões conseguiam escapar, livrando-se da ira do cavaleiro lunar. Em outras, a briga de foice durava tanto, que não havia vencedor. Desistiam ambos, adiando o combate para outro dia. E bau-bau. O dragão não dava as caras nunca mais, porque não era bobo.
As minhas esperanças voltavam.
Talvez me deparasse com algum deles escondido no meu armário ou pousado nas vigas do telhado.
Meu pai me levou até a cozinha. Lá pediu que me sentasse a mesa. Ele esclareceria de uma vez por todas o fim dos dragões.
Então me contou que um mágico apiedado do destino dos dragões, lançou encantamento sobre todos eles para protegê-los. Transformou-os em aparelhos úteis aos homens. Disse isso acarinhando nosso velho fogão.
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